Set 30

Pedimos desculpa por esta interrupção, o programa do mais do mesmo, afinal, pode continuar dentro de momentos…

As eleições directas do PSD suscitaram imensos prognósticos depois do apito final dos que não gostam de correr o risco de voltar a repetir os comentários que fizeram antes da mudança. Por mim, corri o risco de aceitar o desafio de vários órgãos da comunicação social e posso repetir à saciedade o que disse antes da mudança. O que comentei para os jornais Meia Hora, Diário de Notícias e Expresso está disponível, bem como o balanço final que fiz no sábado, para a SIC-Notícias, na revista de imprensa.

Disse ao DN: “As directas têm pelo menos a vantagem de permitir uma fotografia exacta do partido. Dessa fotografia ficará a perceber-se que o PSD ficou reduzido a uma federação de caciques e notáveis locais. As bases são uma federação de bolsas de caciques. O partido esvaziou-se em boa parte da sua função. E num partido que não tem função todos ralham e ninguém tem razão. Os principais culpados são os senadores do PSD que lavaram as mãos como Pilatos.”

O diagnóstico é feito por José Adelino Maltez. Este professor catedrático de Ciência Política e observador atento da vida interna dos partidos, considera que, apesar da crise, não existe o perigo de uma cisão nos sociais-democratas: “Pode haver ameaças, mas não passa disso. Santana Lopes também andou a ameaçar e não avançou. Porque nenhum deles existe fora do contexto, fora do aparelhismo, nenhum deles existe sem estar naquele sítio.

“A situação interna não é animadora. Mas, segundo Adelino Maltez, o PSD “sempre se habituou” a viver em crise. Na sua opinião, não existem dois partidos dentro deste partido. “Há é uns que se puseram em bicos de pés e uma imensa maioria que se pôs de pé atrás. Quem for agora o líder, será sempre de transição.”Há grandes diferenças entre Mendes e Menezes? “Luís Filipe Menezes é um populista com uma agência de comunicação profissionalizada, que lhe faz o discurso. Marques Mendes é um populista artesanal. Ambos são claramente populistas, mas estão ainda na fase pré-populista, que é a demagogia. O populismo implica um actor aceite pelas massas, com um mínimo de carisma. Implica uma certa atracção e uma relação directa com o eleitorado”, sublinha Maltez.

 

A Democracia exige espaços de diálogo, de consensos, mas em Portugal não temos uma tradição de institucionalização de conflitos… cá é tudo ou nada, numa lógica de amigo/inimigo”. Consequência: destes conflitos resultam sucessivas dissidências, os partidos empobrecem, as lideranças enfraquecem, as segundas linhas desaparecem… Antes disto, o PSD estava uma pasmaceira, agora, exteriorizou uma crise que estava latente. Não sabemos no que isto vai dar, mas o PSD vai voltar a discutir política.

 

Para os que não conhecem estes processos comentaristas, resta dizer que as frases publicadas são retiradas de conversas telefónicas com os jornalistas em causa, os quais seleccionam, quase sempre bem, o que consideram mais relevante. Outro é o processo de intervenção directa na televisão, onde o próprio não o consegue resumir. Sirvo-me da reportagem blogueira que fez o meu amigo e companheiro Rui Matos, mas sempre acrescento o paralelo que fiz com o modelo espanhol, onde o filósofo Savater procura constituir um novo partido com dissidentes do PSOE e do PP e movimentos da sociedade civil, contra o nacionalismo e o clericalismo, enquanto, por cá, um professor de marketing semeia um partido-laboratório pela internet.

 

Reparo agora que neste país dito de doidos, neste pobre país, o nosso, onde o PS e o PSD são duas faces da mesma moeda do Bloco Central, surgiu agora um actor à procura de guião, coisa que um dos principais representantes do situacionismo, Soares, já qualificou como uma desgraça, esquecendo-se do apoio que deu ao monteirismo, só porque estamos perante alguma coisa que vai além do Tino de Rans, de Fátima Felgueiras, de Valentim Loureiro, de Alberto João Jardim ou de Isaltino de Morais e que constitui uma consequência da chegada ao poder de Paula Teixeira da Cruz. O que significa que pode começar a derrocada deste modelo de fidalgotes e gerontes, misturados nas curiosas comissões de honra, com que os senadores e notáveis tentam controlar ou proibir as directas, reservando a crítica para as graçolas do Gato Fedorento ou dos bonecos do Contra-Informação e não confundindo os silêncios sobre a Birmânia com os apoios a Hugo Chávez. Pedimos desculpa por esta interrupção, o programa do mais do mesmo, afinal, pode continuar dentro de momentos…

Set 28

Neste regime de agonia, onde o antes de o ser já é o mero não era…

Mendes contra Menezes não são causa, mas sintoma dos tiques de sociedade de corte que vai amarfanhando as canalizações da nossa representação política. Não se trata de uma teia mafiosa, bandocrática nem corruptora, mas antes de uma federação de pequenas quintarolas de micro-autoritarismos e de personalizações de poder que se plenificam em guerrazinhas de homenzinhos que, invocando o nome de Estado em vão, logo se reproduzem como viroses, em vindictas e pequenos clientelismos. E todos se alimentam da energia provinda da luta de invejas e dos espasmos da vindicta, que liquidam a hipótese de mobilização para o bem comum.

 

 

Os muitos sinais desta degenerescência são patentes tanto na chamada administração do Estado como até em instituições das antigas sociedades de ordens que o auxiliavam, desde as universidades aos tribunais, chegando ao interior das forças armadas e de outras mais altas instâncias representativas. Todas começam a estar asfixiadas pela fragmentação da ideia institucional e pelo crescendo do neofeudalismo, do sectarismo e do neocorporativismo, os quais vão transformando a democracia e o Estado de Direito em espaços meramente formais, que apenas servem de para o exibicionismo dos poderes fácticos e da hipocrisia.

 

 

Esses vermes não percebem que democracia e pátria são valores mobilizadores que fazem com que, pelo prazer da cidadania, o “um mais um” possa ser mais do “dois”. E também não percebem que, se nos continuarem a amarfanhar, “um mais um” pode tornar-se em “menos do que zero”.

 

 

Há crescentes sinais de antropofagia psíquica neste labirinto decadente, ocupado pelos que não reparam como a anedota de Monsieur de la Palisse está reflectida no espelho que relata as nossas circunstâncias, só porque a efectividade da morte anunciada pode ultrapassar o tal quarto de hora e prolongar-se por mais dias, meses ou anos, neste regime de agonia, onde o antes de o ser já é o mero não era.

 

 

Porque o presente do indicativo já é realmente pretérito, não havendo sequer condicional que nos permita conjugar o futuro, mesmo que os cadáveres adiados continuem a procriar música celestial e gongóricos exercícios de pestíferos conluios.

 

 

Quando os pequenos chefes entram no círculo concêntrico das kafkianas ameaças, apenas querem que as mais valias das criatividade individuais se reduzam a minúsculas peças de uma qualquer abstracção maquinal.

Set 28

Degenerescência do regime. Agonia.

Certas lutas intrapartidárias não são causa, mas sintoma dos tiques de sociedade de Corte que vai amarfanhando as canalizações da nossa representação política. Não se trata de uma teia mafiosa, bandocrática nem corruptora, mas antes de uma federação de pequenas quintarolas de micro-autoritarismos e de personalizações de poder que se plenificam em guerrazinhas de homenzinhos que, invocando o nome de Estado em vão, logo se reproduzem como viroses, em vindictas e pequenos clientelismos. E todos se alimentam da energia provinda da luta de invejas e dos espasmos da vindicta, que liquidam a hipótese de mobilização para o bem comum. Os muitos sinais desta degenerescência são patentes tanto na chamada administração do Estado como até em instituições das antigas sociedades de ordens que o auxiliavam, desde as universidades aos tribunais, chegando ao interior das forças armadas e de outras mais altas instâncias representativas. Todas começam a estar asfixiadas pela fragmentação da ideia institucional e pelo crescendo do neofeudalismo, do sectarismo e do neocorporativismo, os quais vão transformando a democracia e o Estado de Direito em espaços meramente formais, que apenas servem de para o exibicionismo dos poderes fácticos e da hipocrisia. Esses vermes não percebem que democracia e pátria são valores mobilizadores que fazem com que, pelo prazer da cidadania, o “um mais um” possa ser mais do “dois”. E também não percebem que, se nos continuarem a amarfanhar, “um mais um” pode tornar-se em “menos do que zero”. Há crescentes sinais de antropofagia psíquica neste labirinto decadente, ocupado pelos que não reparam como a anedota de Monsieur de la Palisse está reflectida no espelho que relata as nossas circunstâncias, só porque a efectividade da morte anunciada pode ultrapassar o tal quarto de hora e prolongar-se por mais dias, meses ou anos, neste regime de agonia, onde o antes de o ser já é o mero não era. Porque o presente do indicativo já é realmente pretérito, não havendo sequer condicional que nos permita conjugar o futuro, mesmo que os cadáveres adiados continuem a procriar música celestial e gongóricos exercícios de pestíferos conluios. Quando os pequenos chefes entram no círculo concêntrico das kafkianas ameaças, apenas querem que as mais valias das criatividade individuais se reduzam a minúsculas peças de uma qualquer abstracção maquinal.

Set 27

Para além da guerrazinha dos luizinhos e do espectáculo dos pedrinhos interrompidos pelos mourinhos

Ontem, foi dia particularmente sentido. Recomeçaram as aulas em plenitude, sobretudo a emoção do reencontro com uma plateia de alunos, nessa quotidiana aventura de quebrarmos as barreiras da função e de descobrirmos os signos das novas gerações que renovam quem somos, onde quem ensina deve ter a humildade de continuar disposto a aprender. Ontem, também foi a notícia da morte de um mestre de vida e a volta que dei por outra secção da universidade, onde retomei a senda de contacto com mais sábios mestres e mais jovens professores, alguns dos quais meus alunos. Ontem, entre a morte e a vida, a vida continuou sua senda.

 

 

Hoje, novo dia. Quem, todos os dias, se escreve publicamente, deixando que todos possam peregrinar suas luzes e sombras, apenas admite que todos passeiam com os pés na lama do caminho, mas de olhos postos no sonho. Porque, nestes meandros que vamos partilhando com todos os outros, podem surgir pequenos retalhos de uma vida que é comum a todos aqueles animais que, por se reconhecerem finitos, trataram de inventar o infinito. Porque, ai de nós, se não assumirmos a história e o mistério dos seres que nunca se repetem, vivendo acontecimentos que também nunca se repetem.

 

 

Porque se, todos os dias, chegam sinais de amargura e revolta, quem ousa ir além do ritmo da harpa dos descrentes e do fel que nos circunda, pode envolver-se na própria força da esperança, do querer ir além da espuma do efémero. E nada melhor do que o reforço da solidariedade de velhos companheiros e amigos.

 

 

Ontem foi dia de pensar na morte, em nome da vida. E lá consegui continuar a olhar o sol de frente, nesta sucessão de encruzilhadas de que, afinal, é feito o quotidiano de quem não segue a lógica do homem de sucesso e rejeita dividir o mundo entre os bons e os maus, entre os conjunturais aliados das ilusórias guerrazinhas e os pretensos inimigos, com que alguns confundem as ameaças da mudança, os quais, afinal, não passam daqueles diferentes que os opositores recusam compreender.

 

Porque vale a pena recusar aquela concepção do mundo e da vida segundo a qual tem razão quem vence. Porque vale a pena o diálogo da polémica e da institucionalização dos conflitos da ideia de democracia, de acordo com aquela perspectiva neoclássica dos que não têm inimigos, mas diferentes perspectivas sobre os mesmos lugares comuns e o mesmo bem comum, institucionais, quando ainda há ideia de obra, regras que se respeitam e comunhão de coisas que se amam.

 

 

 

 

São sinuosamente longas estas veredas da vida que se situam naquela zona onde o público interfere no privado e pensa poder comandar a vida pessoal. Especialmente quando, muito esquizofrenicamente, reduzimos a tal vida ao processual mundo dessas abstracções chamadas relações jurídicas, as tais relações da vida social que o poder do Estado escolhe moldar, para que o teatro da administração da justiça, em nome de outra abstracção chamada povo, finja que o direito se pode confundir com a realidade, dando aos juízos de valores sobre conflitos de interesses, plasmados na lei, a coloração de um certo mínimo ético. É por isso que não comento a guerrazinha dos luizinhos e o espectáculo dos pedrinhos interrompidos pelos mourinhos. Daqui a uns breves espaços de tempo lembrarão tanto como a eliminação dos dragões pelos fátimas e nem sequer serão notas pé-de-página da micro-história.

 

Há políticos que foram cimeiros porque antes foram presidentes de clubes de futebol e por causa de também antes terem sido comentadores profissionalmente televisivos de jogos de futebol, mas que agora se revoltam com interrupções de directos sobre a chegada ao aeroporto de treinadores de futebol. Aliás entre pedrinhos e mourinhos há o mesmo estilo de chicotadas psicológicas, embora diferentes histórias de sucesso quanto às políticas de imagem e de gestão de carreira. Porque, entre o que parece e o que é, há sempre o risco de não se comandar o “agenda setting”, incluindo os figurantes contratados pelo PS a uma ilustre fábrica de palhaços, para ilustrarem um livro sobre as leis da república, onde até liberais como Almeida Garrett e José Estevão lá ficaram militantes do partido republicano-socialista, para risada da história retroactiva, com que nos querem lavar as memórias.

 

 

Quando vale tudo na luta do poder pelo poder, resta a demagogia profissional do discurso eficaz e o populismo calculado pelos tecnocratas da comunicação política, pelo que toda a macropolítica pode ser reduzida a um país que está tão são que até pode ficar dependente de quem foi ao multibanco pagar as quotas de duzentos militantes da cidade de Maringa, na Amazónia, sem atender a todos os parágrafos de um parecer do Professor Doutor Jorge Miranda. Estou convencido que se o mourinho se candidatasse enquanto o pau vai e vem, ele ganharia todas as directas, incluindo as da república.

Set 27

Quem, todos os dias, se escreve publicamente

Quem, todos os dias, se escreve publicamente, deixando que todos possam peregrinar suas luzes e sombras, apenas admite que todos passeiam com os pés na lama do caminho, mas de olhos postos no sonho. Porque, nestes meandros que vamos partilhando com todos os outros, podem surgir pequenos retalhos de uma vida que é comum a todos aqueles animais que, por se reconhecerem finitos, trataram de inventar o infinito. Porque, ai de nós, se não assumirmos a história e o mistério dos seres que nunca se repetem, vivendo acontecimentos que também nunca se repetem. Porque se, todos os dias, chegam sinais de amargura e revolta, quem ousa ir além do ritmo da harpa dos descrentes e do fel que nos circunda, pode envolver-se na própria força da esperança, do querer ir além da espuma do efémero. E nada melhor do que o reforço da solidariedade de velhos companheiros e amigos. Ontem foi dia de pensar na morte, em nome da vida. E lá consegui continuar a olhar o sol de frente, nesta sucessão de encruzilhadas de que, afinal, é feito o quotidiano de quem não segue a lógica do homem de sucesso e rejeita dividir o mundo entre os bons e os maus, entre os conjunturais aliados das ilusórias guerrazinhas e os pretensos inimigos, com que alguns confundem as ameaças da mudança, os quais, afinal, não passam daqueles diferentes que os opositores recusam compreender. Porque vale a pena recusar aquela concepção do mundo e da vida segundo a qual tem razão quem vence. Porque vale a pena o diálogo da polémica e da institucionalização dos conflitos da ideia de democracia, de acordo com aquela perspectiva neoclássica dos que não têm inimigos, mas diferentes perspectivas sobre os mesmos lugares comuns e o mesmo bem comum, institucionais, quando ainda há ideia de obra, regras que se respeitam e comunhão de coisas que se amam. São sinuosamente longas estas veredas da vida que se situam naquela zona onde o público interfere no privado e pensa poder comandar a vida pessoal. Especialmente quando, muito esquizofrenicamente, reduzimos a tal vida ao processual mundo dessas abstracções chamadas relações jurídicas, as tais relações da vida social que o poder do Estado escolhe moldar, para que o teatro da administração da justiça, em nome de outra abstracção chamada povo, finja que o direito se pode confundir com a realidade, dando aos juízos de valores sobre conflitos de interesses, plasmados na lei, a coloração de um certo mínimo ético. É por isso que não comento a guerrazinha dos luizinhos e o espectáculo dos pedrinhos interrompidos pelos mourinhos. Daqui a uns breves espaços de tempo lembrarão tanto como a eliminação dos dragões pelos fátimas e nem sequer serão notas pé-de-página da micro-história. Há políticos que foram cimeiros porque antes foram presidentes de clubes de futebol e por causa de também antes terem sido comentadores profissionalmente televisivos de jogos de futebol, mas que agora se revoltam com interrupções de directos sobre a chegada ao aeroporto de treinadores de futebol. Aliás entre pedrinhos e mourinhos há o mesmo estilo de chicotadas psicológicas, embora diferentes histórias de sucesso quanto às políticas de imagem e de gestão de carreira. Porque, entre o que parece e o que é, há sempre o risco de não se comandar o “agenda setting”, incluindo os figurantes contratados pelo PS a uma ilustre fábrica de palhaços, para ilustrarem um livro sobre as leis da república, onde até liberais como Almeida Garrett e José Estevão lá ficaram militantes do partido republicano-socialista, para risada da história retroactiva, com que nos querem lavar as memórias. Quando vale tudo na luta do poder pelo poder, resta a demagogia profissional do discurso eficaz e o populismo calculado pelos tecnocratas da comunicação política, pelo que toda a macropolítica pode ser reduzida a um país que está tão são que até pode ficar dependente de quem foi ao multibanco pagar as quotas de duzentos militantes da cidade de Maringa, na Amazónia, sem atender a todos os parágrafos de um parecer de um nomeado constitucionalista. Estou convencido que se o mourinho se candidatasse enquanto o pau vai e vem, ele ganharia todas as directas, incluindo as da república.

Set 27

a história e o mistério dos seres que nunca se repetem

Quem, todos os dias, se escreve publicamente, deixando que todos possam peregrinar suas luzes e sombras, apenas admite que todos passeiam com os pés na lama do caminho, mas de olhos postos no sonho. Porque, nestes meandros que vamos partilhando com todos os outros, podem surgir pequenos retalhos de uma vida que é comum a todos aqueles animais que, por se reconhecerem finitos, trataram de inventar o infinito. Porque, ai de nós, se não assumirmos a história e o mistério dos seres que nunca se repetem, vivendo acontecimentos que também nunca se repetem. Porque se, todos os dias, chegam sinais de amargura e revolta, quem ousa ir além do ritmo da harpa dos descrentes e do fel que nos circunda, pode envolver-se na própria força da esperança, do querer ir além da espuma do efémero. E nada melhor do que o reforço da solidariedade de velhos companheiros e amigos. Ontem foi dia de pensar na morte, em nome da vida. E lá consegui continuar a olhar o sol de frente, nesta sucessão de encruzilhadas de que, afinal, é feito o quotidiano de quem não segue a lógica do homem de sucesso e rejeita dividir o mundo entre os bons e os maus, entre os conjunturais aliados das ilusórias guerrazinhas e os pretensos inimigos, com que alguns confundem as ameaças da mudança, os quais, afinal, não passam daqueles diferentes que os opositores recusam compreender. Porque vale a pena recusar aquela concepção do mundo e da vida segundo a qual tem razão quem vence. Porque vale a pena o diálogo da polémica e da institucionalização dos conflitos da ideia de democracia, de acordo com aquela perspectiva neoclássica dos que não têm inimigos, mas diferentes perspectivas sobre os mesmos lugares comuns e o mesmo bem comum, institucionais, quando ainda há ideia de obra, regras que se respeitam e comunhão de coisas que se amam. São sinuosamente longas estas veredas da vida que se situam naquela zona onde o público interfere no privado e pensa poder comandar a vida pessoal. Especialmente quando, muito esquizofrenicamente, reduzimos a tal vida ao processual mundo dessas abstracções chamadas relações jurídicas, as tais relações da vida social que o poder do Estado escolhe moldar, para que o teatro da administração da justiça, em nome de outra abstracção chamada povo, finja que o direito se pode confundir com a realidade, dando aos juízos de valores sobre conflitos de interesses, plasmados na lei, a coloração de um certo mínimo ético. É por isso que não comento a guerrazinha dos luizinhos e o espectáculo dos pedrinhos interrompidos pelos mourinhos. Daqui a uns breves espaços de tempo lembrarão tanto como a eliminação dos dragões pelos fátimas e nem sequer serão notas pé-de-página da micro-história. Há políticos que foram cimeiros porque antes foram presidentes de clubes de futebol e por causa de também antes terem sido comentadores profissionalmente televisivos de jogos de futebol, mas que agora se revoltam com interrupções de directos sobre a chegada ao aeroporto de treinadores de futebol. Aliás entre pedrinhos e mourinhos há o mesmo estilo de chicotadas psicológicas, embora diferentes histórias de sucesso quanto às políticas de imagem e de gestão de carreira. Porque, entre o que parece e o que é, há sempre o risco de não se comandar o “agenda setting”, incluindo os figurantes contratados pelo PS a uma ilustre fábrica de palhaços, para ilustrarem um livro sobre as leis da república, onde até liberais como Almeida Garrett e José Estevão lá ficaram militantes do partido republicano-socialista, para risada da história retroactiva, com que nos querem lavar as memórias. Quando vale tudo na luta do poder pelo poder, resta a demagogia profissional do discurso eficaz e o populismo calculado pelos tecnocratas da comunicação política, pelo que toda a macropolítica pode ser reduzida a um país que está tão são que até pode ficar dependente de quem foi ao multibanco pagar as quotas de duzentos militantes da cidade de Maringa, na Amazónia, sem atender a todos os parágrafos de um parecer de um nomeado constitucionalista. Estou convencido que se o mourinho se candidatasse enquanto o pau vai e vem, ele ganharia todas as directas, incluindo as da república.

Set 26

Joaquim Jorge Magalhães Mota

Morreu Joaquim Jorge Magalhães Mota. As biografias oficiais hão-de falar no fundador do PPD, no ministro, no deputado, no militante de ideias. Eu falo nele como alguém a quem devo muito de quem sou. Sobretudo, pelo exemplo de vida. Fui seu adjunto num dos governos provisórios e sempre o considerei como o paradigma de servidor público, misto de inteligência e de honra, com a dignidade da coragem. Talvez o melhor ministro que conheci, pela imparcialidade, pelo rigor do despacho, pela capacidade combativa. Mais: ele foi um dos meus professores de democracia viva e vivida. Nunca fui militante dos partidos a que deu cidadania, nem dos muitos movimentos a que se entregou, mas tive o privilégio de sempre dele ter recebido confiança. Magalhães Mota foi um dos pais da nossa democracia e teve a nobreza de a servir, sem dela procurar servir-se. A melhor maneira de o homenagearmos é continuarmos a respectiva ideia, com a força do sonho de que nunca abdicou. Todos os que com ele privaram, colegas, companheiros ou adversários, guardaram esta semente. É mais um, dos raros, que da lei da morte se libertaram.

Set 25

“O Mundo é hoje tão complexo e os desafios da economia global são tão grandes que precisamos da ajuda de todos…”

“O Mundo é hoje tão complexo e os desafios da economia global são tão grandes que precisamos da ajuda de todos…”, afirmou o presidente de uma certa petrolífera, elogiando o lóbismo de uma certa fundação, à saída de uma audiência de um certo presidente, que disse não querer ser rainha de Inglaterra, com outro ex-presidente, cada vez mais como a passada rainha-mãe, no mesmo dia em que mais outro presidente, não nacionalizado nem nosso, Ahmadinejad, do Irão, na Universidade de Columbia, proclamava: “Nós não temos isto em nosso país. Não sei quem lhe disse isso”. Por outras palavras, os devotos e puritanos ahmadinejadistas, se não recebem lóbis académico-petrolíferos, fazem lóbi junto de fundacionais universidades da globalização. Todos os loibos uivam, embora os nossos, no perder é ganhar tudo é desporto, nos tenham emocionado, e bem, com a simples restauração de um símbolo nacional, tal como Scolari, de outras eras, pôs milhares e milhares de outro símbolo, em nossas janelas e varandas. Até eu pus a azul e branca em minha casa da Junqueira, para provocar o meu vizinho belenense que tem Pátio dos Bichos.

 

 

 

 

Ao que consta, o iraniano não estava a referir-se aos quase oito mil militantes sociais-democratas dos Açores que não puseram as quotas em dia, mas que ainda as podem regularizar, alterando as regras do jogo, já quase nos últimos minutos da segunda parte, embora, para muitos outros, o princípio da igualdade levasse a que fossem menos iguais no impugnável acto. Porque “em democracia as coisas são assim. As pessoas discutem umas com as outras, têm divergências ou não, mas isso não tem nada a ver com as relações pessoais entre elas”. Talvez por isso é que as futebolistas “nuestras hermanas” do Torrejón, decidiram pedir subsídio às petrolíferas iranianas, pousando em privado olhar patrocinador, como mostra a imagem supra, que hoje ocupa as parangonas dos grandes jornais da globalização, a tal coisa tão complexa como os loibos que hoje vão defrontar a Roménia e que certamente não irão repetir a cena das torrejonetas.

Coisa que engenheirada por um lóbi energético sempre lhes poderia acrescentar o pecúlio de nosso tão complexo mundo, onde o último a rir que feche a porta. Os “cartoonistas” dinamarqueses e suecos que se cuidem. O prometido jogo de futebol para superar a crise do Médio Oriente, conforme proposta de Diogo Freitas do Amaral, já não é a prioridade das prioridades da nossa política externa. Mas um jogo em Teerão entre os lobos, trajados de forcado, e as torrejonetas, como vieram ao mundo, com o patrocínio de Madail, de fato e gravata, bem ajudava que discutíssemos as energias alternativas e as alterações climáticas, sem recurso a escutas da Universidade Independente ou a bagatelas de gémeos e mugawianos…

Set 25

Breves notas, mui metafísicas, contra os bacanais do ódio

Ontem, impressionou-me o discurso de Gordon Brown ao “Labour”. Não tanto pelo que disse e mais por aquilo que a cultura política do respectivo ambiente o obrigou a dizer. Disse o que poderia dizer um “tory”, pelas mesmas razões que levam a que as ideologias passem e as culturas fiquem, quando assumem que só é novo aquilo que se esqueceu, porque só é moda aquilo que passa de moda. De facto, não há pensamento sem pátria, sobretudo entre os filhos da primeira das revoluções atlânticas que conseguiu ser eficaz porque, como ensina Hannah Arendt, foi uma revolução que fez o exacto contrário de uma revolução. As revoluções apenas servem para que os escravos prefiram a utopia, dos sítios sem lugar, à subversão da justiça e à eficácia das reformas. Pior ainda são os serôdios revolucionários frustrados que, decretinamente, nos despacham contra a lei e o direito, cumprindo aquela previsão do meu saudoso amigo Mário Sottomayor Cardia, quando falava na subversão a partir do aparelho de poder… Porque os nomes nunca conseguiram fazer a coisa, eis que o hábito de reformador, mesmo que usado por um revolucionário arrependido, não gera, por si mesmo, o monge criador de qualquer “ratio studiorum”, sobretudo quando esta impõe que se faça crescer para cima e para dentro. Há palavras que só podem acontecer, sentidamente, quando se vive como se pensa. E há dias de, assim, viver o segredo de viver. Dias em que voltamos ao prazer da criação. Dias de olhar quem somos, em sinfonia. Neste esvoaçar da metafísica de um som que nos dá sonho. Para colhermos, na emoção da paisagem, uma simples semente de liberdade. Há dias peregrinos, de todo o mundo ser espaço de passeio, neste caminhar por caminhar, sem procurar chegar. Há dias de sorver todo o azul que nos trouxe o tempo de mudança, dias de viver inteiro, sem que os muros nos detenham. Porque hoje não apeteceu sulcar os meandros eruditos, académicos de tantos livros que não li. Preferi recordar Antígona: não nasci para odiar, mas para amar. Há húmidos caminhos do sublime, esse fluido dos deuses onde, vencendo os limites, não varamos as regras eternas e imutáveis que ninguém sabe como surgiram e que, de nenhum decreto, tiveram vigência. É esse o sinal distintivo da criação. Que seria de nós, simples mortais, se não ousássemos, de vez em quando, o mais além? Sem esse prazer de viver, viver não teria sentido… Sou tanta gente antes de mim que, quando por mim dentro me procuro, é em todos os outros que me confundo. E assim, com os outros, em comunhão, sou bem mais do que me penso. O antigo já foi moderno, de que o moderno há-de ser antigo. Só há o verdadeiro no tempo, mas fora do tempo…

Set 23

Quando os moribundos voltam a ser aparições… o importante não é ser ministro, mas tê-lo sido

Com o bastonário dos nossos advogados a assumir-se como arrazoador de uma das partes do mais mediático e global dos processos de investigação policial da nossa história, onde os respectivos pergaminhos penalistas garantem a natural imparcialidade da pessoa colectiva pública que representa, resta-nos comentar a gestão da carreira de José Mourinho. Apenas reparo como toda esta sucessão de disfuncionalidades já transformou o nosso sistema de gestão da democracia num espaço de cadáveres adiados que procriam os métodos de “killer instinct” dos perfumados abutres que aguardam, por trás do reposteiro, o momento exacto para que, mais uma vez, Talleyrand coloque no trono um qualquer pateta que lhe possa manter o estatuto de traidor perpétuo.