Nov 25

Gente do livro em Santa Sofia

Lembro a catedral-mesquita de Santa Sofia, onde a Europa não acaba e a Ásia lhe está aos pés. Onde o sincrético não é mistura, mas ascensão! Istambul, Constantinopla, ou Bizâncio…, como se fosse o Jardim da Estrela, com o Tejo mais adiante e as Américas do outro lado, nas malhas que Alexandre, o macedónio, nos teceu, a caminho da Índia. Não é por acaso que os adeptos de Cristo e de Maomé celebram, em comunhão, o humanismo do preceptor de Alexandre, um tal fundador dos politólogos que serviu Atenas sem ser ateniense, mas que de lá foi expulso, por errada informação dos agentes secretos da “polis” que também condenara o mestre dos mestres à cicuta… Prefiro a capela de Mértola, que foi igreja, mesquita e, de novo, igreja, para, nos intervalos, servir também de sinagoga. Até já lá assisti a serviço místico, presidido pelo bispo de Beja, em cerimónia com judeus, cristãos, muçulmanos, maçons e meros descrentes de tudo… Foi há uns anos, com a Helena Vaz da Silva a inspirar e o Rosado Correia a fomentar. Até os judeus e os muçulmanos rezaram em português e as beatas alentejanas que por acaso assistiam não conseguiram destrinçar as várias peças das religiões do Livro. O centro da Europa poderia voltar a ser Al-Andalus ou o Portus-Gharb, entre os homens de boa vontade que ousarem ser homens livres, em torno do velho, mas não antiquado mar interior! Entre Sufis, Franciscanos e Fraternais, há buracos de agulhas onde podem passar camelos facilmente, se traduzirem jihad, cruzadas e iniciação pelo simples verbo que nos dá a conversão interior do morrer para renascer em ascensão… Sem este lugar-comum não há diálogo! E os ortodoxos ainda não marcaram o Nascimento para essa data de pacificação com os adeptos da pluralidade dos divinos que Roma felizmente subverteu…Isso não é fraqueza dos católicos, apostólicos, romanos e protestantes, mas abertura ao mistério. Ainda por bem! Todas as grandes religiões universais só o são porque repetem em grandes ciclos multi-seculares a mesma narrativa. Daí que seja antidivino morrer por um catecismo, uma doutrina ou uma ideologia. Estas passam, as culturas da identidade ficam nas suas diferenças que possam aceder ao mesmo universal. Basta saudar o sol, ou olhar o céu, em procura do mais além! São Paulo, o cidadão romano Saulo, descobriu em Atenas isso mesmo, num templo ao deus desconhecido, às muitas diferenças do divino que permitem a unidade não unicitária….sem a qual Deus apenas se escreve com minúsculas. Alguns dos que procuraram essa unidade chamaram-lhe, no século XVIII, “Grande Arquitecto do Universo”. Os nomes interessam menos que a coisa nomeada.

Nov 23

Farpas

Passos, em versão militar, cita Lenine, o do “um passo atrás, para dar dois em frente”. Foi a propósito da falhada NEP (nova política económica, que pretendia dar um pouco de capiltalismo ao nascente bolchevismo, mas que falhou rotundamente, principalmente pela lutaq partidocrática entre Trotsky e Estaline…). Seria preferível ser mais antigo e reconhecer, como Montaigne, “Il faut reculer pour mieux sauter”. Mas isto é humanismo antigo, não é revolucionarismo frustrado, o da “révolution d’en haut” e da viradeira, mesmo que seja revolução ao contrário.

 

Mário Soares situou-se. Num manifesto reservado a cidadãos de esquerda. Coisa que não sou. Apostam no bom e velho Estado. São vagos quanto ao projecto europeu. Nada dizem sobre a necessidade de repúblicas universais. Prefiro mais patriotismo democrático, mais federalismo europeu, mais cosmopolitismo, antes de ser de direita ou da esquerda. Apenas li, não me mobilizei. Sou liberal, não sou de esquerda. Só pelas liberdades nacionais, com vontade de sermos independentes é que podemos ter uma democracia de muitas democracias. De forma liberdadeira.

 

O manifesto tem objectivos limitados, os do pretérito perfeito. Reduz-se à habitual conspiração de avós e netos visando o regresso do PS à tradicional função de reciclagem das esquerdas e das direitas, em nome de uma esquerda moderna que, afinal, é muito antiga.

 

Não ser de esquerda não é estar à direita.

 

A caricatura da partidocracia, em ritmo concentracionário, ou a redução da democracia ao mais fechado dos clubismos de reservado direito de admissão, em nome das elites contra a partidocracia, contra o regime. Viva Alberto João, o paradigma do reformismo social-democrata! O Estado são eles, o povo são eles.

 

Não se vislumbram sobressaltos que nos possam perturbar ou mobilizar, nesta “apagada e vil tristeza” em que a cobardia nos enredou. “Ninguém sabe que coisa quere, nem o que é mal, nem o que bem”, mas também não há nevoeiro. Logo, D. Sebastião também não pode regressar. Já não somos quem sempre fomos, pátria antiga, de fibra multissecular. Mas é preciso voltar a ter “saudades de futuro”.

 

Faltam mobilizações ideológicas, à esquerda e à direita, e secaram os mitos, dos amanhãs que cantam ou do regresso ao passado. A democracia vai degenerando, mesmo sem ser por acção dos inimigos da democracia, até porque muitos democratas temem criticar o situacionismo, lavando as mãos como Pilatos.

 

Nestes dias de interregno, sem que se vislumbre qualquer sinal de regeneração, apesar de forte identidade nacional, todos nos diluímos em ambiente de “finis patriae”. Até padecemos daquela temperatura messiânica que nos dava alma, por ocasião de anteriores crises.

 

Se a democracia, através dos partidos e dos outros grandes figurantes do Estado, não assumir uma nova gramática e os apoiantes e opositores não reencontrarem o sentido da palavra, tudo o que disserem pode ser imediatamente desdito, pelos próprios ou pelos seus pretensos superiores hierárquicos. Não gosto do sistema do manicómio em autogestão.

 

Apesar das habituais danças e contradanças que antecedem as grandes greves, incluindo o mito da soreliana, julgo que ainda vai continuar a viver-se em regime de povo de brandos costumes. Não por causa da falta de revolta, mas por insuficiência de faísca. É como a agulha num palheiro, com tanta palha molhada, pela chuva da rotina, a do mais do mesmo. Apenas um acrescento: se pudesse aderia à greve geral.

 

Quando qualquer suprapoder quiser, o nosso poder de quintal, entre comadres e compadres, pode fazer, em cinco minutos, um acordo de governo da actual coligação com o PS. Mas passos seguros já não chegam. Seria mais avisado que, em cinco dias, contratássemos uma adequação da aritmética parlamentar à geometria social. Estamos a pisar as raias da falta de legitimidade, enquanto somos distraídos por casos de polícia, mexericos de deputados e depressões nas bolsas do outro mundo.

 

Na velha Grécia da primitiva democracia, havia grande qualidade de cidadania para a pequena minoria de cidadãos, os que até eram dispensados de trabalhar. A esmagadora maioria, a que trabalhava, o grupo dito dos idiotas, tem agora sufrágio universal, desde o fim do apartheid. E está em vigor a regra de São Paulo, segundo a qual quem não trabalha não come. Pena continuar a ser comido pelos pretensos da casta politiqueira que não quer funcionários a controlá-lá, à pretensa casta, das subvenções vitalícias e medidas de efeito equivalente. Tenham juízo!

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Esperemos que os chefes deste governo sejam mais como o Paulo Bento. Entrem logo a jogar no risco, sem prévio treino. Para que voltemos a ter equipa de todos nós. Até porque, infelizmente, estamos muito dependentes dos jogos dos outros.

 

É evidente que não é, das rápidas análises das autocontemplações curriculares, que podemos fazer adequada avaliação no imediato. Vai ser mais interessante o escrutínio a que irão estar sujeitos. Especialmente por parte de opositores que sofreram esse tipo de exame e que moverão intensamente o bisturi da informação privilegiada para a adequada vindicta…

 

Mas os pesquisadores de perfis ainda não identificaram coisas tão sublimes como a da eventual pertença dos nomeados a entidades místicas como as igrejas protestantes, as obediências maçónicas, o sionismo, as irmandades católicas, as associações recreativas, os anteriores entusiasmos maoístas ou a posição que muitos tomaram no anterior referendo sobre a interrupção voluntária da gravidez. Da mesma forma, seria imperioso elencar os que são indefectíveis de Pinto da Costa, quantos torcem pelo glorioso e os eventuais sócios da Briosa. Os cartões laranjas e portistas não chegam!

 

Há, aliás, maçons, de várias obediências maçónicas, que são deputados e ex-deputados, bem como entre actuais e ex-governantes. Mas há muitos outros, que estão de fora e que se celebrizam por declarações antimaçónicas, com real mercado nas parangonas. Sobretudo se estiverem à esquerda. Daí voltarem à ribalta com um problema de falsa consciência, para uso de suas desventuras no PS e no PSD!

 

Para mim, bastava uma dinâmica fotografia dos grupos de interesse e dos grupos de pressão que dependem da subsidiocracia estatense e da habitual empregomania.  Sobre as outras identificações místicas, julgo que o nosso jornalismo comentarista está especialmente desinformado, até tropeçar no primeiro dos sensacionalismos e entrar em vómito analítico sobre o que é óbvio. Obviamente, numa sociedade pluralista, há de tudo. E ainda bem!

 

 

Nov 22

Heróis

Dois anos depois de uma eleição surpreendente (e, para muitos, inspiradora) pelo menos no plano interno Obama parece ter perdido grande parte da expectativa renovadora que prometeu levar para Washington.

 

Carisma, ou uma relação imediata, de primeiro grau com a divindade, numa terra de “star system” e “Estado-Espectáculo”, não rima com tele-evangelistas. Quando muto, provoca nova procura de populismos, galgando as ondas de sucessivos fundamentalismos…

 

Também na Europa, grandes líderes como Angela Merkel e Nicolas Sarkozy (pode-me ajudar com mais exemplos…, lembro-me de como Tony Blair acabou por abandonar debilitado os trabalhistas e o governo britânico) são contestados e baixam nas sondagens.

 

Como diria Marcello Caetano, depois do tempo dos homens de génio, chegou a era dos homens comuns que se medem pelos resultados da arte do possível.

 

Lula da Silva, depois de dois mandatos presidenciais no Brasil, parece ser excepção. Com menor popularidade, mas carisma intocável, também podemos aqui incluir Hugo Chávez. Que razões para isso?

 

Enquanto o pau vai e vem, folgam as costas… Por outras palavras, Lula aproveitou a ocasião para o distributivismo de precendentes investimentos e aproveitou as circunstâncias da emergência do Brasil como potência mundial. O que agora parece um êxito pode, amanhã, ser configurado como uma oportunidade perdida…

 

Será esta falta de heróis na política contemporânea uma característica mais clara nas sociedades desenvolvidas?

 

Apenas recordo que Winston Churchill, essa mistura de pragmatismo e aventura, depois de conduzir vitoriosamente a “Warfare”, perdeu as eleições, assim se confirmando que os heróis dependem das missões que as circunstâncias exigem a uma determinada condução política…

 

Tratar-se-á de um cinismo social que olha as lideranças políticas de soslaio?

 

As democracias que vivem ao ritmo da sondajocracia entendem que a vontade geral é apenas a vontade de todos, quando cada um apenas decide pensando no seu próprio interesse e não no interesse do todo…

 

E em Portugal, que heróis na política tivemos? Ramalho Eanes, Mário Soares, poderão ter sido encarados como tal? Por que é hoje mais difícil que apareçam personalidades deste gabarito na política nacional, impulsionadoras das massas pelo exemplo e carisma?

Não nos faltam personalidades com o nível dos pais-fundadores da democracia. Nota-se é um vazio de comunidade, cansados que estamos de delegados de propaganda dita médica e de caixeiros viajantes que perderam o respeito pela palavra dada e transformaram o discurso político num vazio de fórmulas…

Nov 19

Untitled

Mesmo na fossa, os representantes de uma geração que é fustigada pelo desemprego de um processo educativo que não a prepara para a mudança, deu 4-0 aos campeões do mundo. Bastou mudar de condutor de tácticas, apesar de se manter o emplastro. Aprendamos com o exemplo e muita tranquilidade!

 

Sistema educativo falhou redondamente e gerou uma injustiça geracional

 

Nov 15

Farpas

Gosto de políticos que desabafam estados de alma. Mas não quando eles os consideram coisa secundária relativamente ao politiquês do estadualmente correcto que é a coisa mais chegada à arte da perfídia, como os calejados na coisa sabem…

 

Quando um ministro das finanças todos os dias conjuga o verbo mendonçar, apenas se confirma que o GPS da governança ficou virado e já nem as estrelas nos dão sextante… Apenas se confirma que o eminente abalroamento não está iminente…

Nov 14

Farpas

Afinal, em vez da China, sera Ramos Horta a comprar a divida soberana. Que pena nao haver petroleo no Beato…

No Jornal de Notícias de hoje, algumas provocações minhas: quando “Portugal entra um pouco em decadência, os políticos tornam-se um pouco anti-políticos”. “Não é um problema de mais leis, de mais judicialização… é uma questão de responsabilidade cívica, de penalização social forte” (ler elefantíase em vez de elefantismo…)

Em vez de mudarmos “das Kapital” para a RAE de Macau, com delegação em Oe-cusse, subscrevo o proposto por Agostinho da Silva: pedido de integração na república federativa do Brasil, com direito a fim de semana no Mussulo. .

 

Nov 13

Farpa

Amado diz querer coligação, já. Sócrates diz que pensa o mesmo. E que já a ofereceu a todos, do Bloco a Portas, assim em fila, venha quem vier. Cavaco diz que não é com ele. Mas insinuando que sabe o que não sabemos. Por mim, sei mais, porque, felizmente, só sei que nada sei. Vão gozar com a respectiva tia. Já não mandam os que cá estão.

Nov 13

À espera de Nobre da Costa

Depois de uma vaga de hiperinformação geofinanceira, eis que o “agenda setting” lançou algumas manobras de cenarização politiqueira, como a entrevista de Luís Amado ao “Expresso”, propondo uma coligação imediata, com a resposta macaense de Sócrates, confirmando ser essa a postura de todo o governo, à boa maneira das piruetas dos mercados secundários, face a uma dívida bem mais soberana.

Com efeito, com as pressões sucedidas da eurocracia e da banca sobre o acordo orçamental, já estamos sob a vigência de um Bloco Central que o PSD queria que fosse sem dor, e que é mera consequência da soberania condicionada dos laranjas até às eleições presidenciais. Por muito que o creiam, os passistas ainda não podem passear o seu ensaio de pós-cavaquismo, um pouco à imagem e semelhança do pós-socratismo de António Costa, até pela manutenção de um permanecente arquipélago soarista.

Contudo, a sondajocracia tem mostrado que, apesar do PSD ir à frente, está bem longe de uma esperança de maioria absoluta, pelo que o PS ainda acalenta a hipótese de voltar a vencer, enquanto o CDS, o PCP e o BE não descolam da imagem de marginais sistémicos. Face à inexistência de qualquer sinal institucional de uma espécie de extremo-centro, capaz de mobilizar dissidências do arco controleiro, o situacionismo, perante uma sociedade civil desertificada e a um vazio de moral social, já visualiza uma espécie de governo de tecnocratas, apoiado pelo próximo-passado presidente, mas dirigido por um socialista, capaz de adiar a dissolução parlamentar. Luís Amado apenas se candidatou a Nobre da Costa, mas tal emergância apenas sucederá se Sócrates desistir. O que poderá acontecer se se concretizar o acaso procurado de um desastre nos juros do endividamento, e a consequente entrada explícita dos credores internacionais na nossa governança…

Nov 12

Farpas

Sobe, sobe, balão sobe. Vou reler a rã de La Fontaine…

Basta um sopro estatístico que, no fundo do poço, nos eleve uns milímetros para que o situacionismo cante de cisne… antes de o pau voltar, logo folgam as costas, o ministro das finanças lança nota oficiosa e o da economia telejornala. Até o balão dos justos esvaziou um pedacito, nesta sexta-feira que só por um não é dos treze…