Jul 16

Quando se inventou o príncipe para que deixasse de haver um dono, para que deixasse de haver confusão entre propriedade e poder…

Ontem, o grande notário da geofinança do regime, o senhor governador com nome de imperador romano, veio confirmar que a crise que ainda não é crise por uma questão de semântica, mas que, segundo as suas canónicas palavras, pode vir a ser a maior desde a Segunda Guerra Mundial, porque já chegou e veio para agravar-se e para que os trabalhadores e classe média a paguem com impostos e inflação. O senhor Primeiro-Ministro preferiu ir comemorar o primeiro aniversário de Costa em Lisboa, onde, em jantarada à União Nacional, mas já sem zona ribeirinha, se comemorou o fim de metade dos calotes da autarquia capitaleira, assim transformando uma obrigação na rara heroicidade dos tempos que correm, a que corresponde ao antiquado lema do paga o que deves, para o senhor Estado deixar de ser um Estado Ladrão, apesar de os impostos já terem o nível lendário do Robin dos Bosques. Entretanto, o Presidente Cavaco, especialista em remédios para a conjuntura económica e certificado pai deste modelo banco-burocrático e rotativista, continua a gerir o silêncio, tal como a sua discípula Manela. Apenas falou António Borges que foi melhor no improviso comentarista que no papel escrito. Por outras palavras, chegámos à tal hora da verdade, obviamente sem demissões. E o culpado de todos os males da conjuntura é o bastonário Marinho Pinto, em risco de ostracismo, cujas palavras foram superiormente qualificadas pelo conselho superior magistral como coisas “sem dignidade institucional”, apesar de provirem do representante de uma instituição não sindical e de terem a dignidade de quem quer viver como pensa, mesmo que alguns pensem que pensa mal. Espera-se que o Primeiro Ministro não participe no jantar comemorativo do primeiro aniversário da tomada de posse do bastonário que assim se arrisca a ser um dos principais candidatos à presidência da república.  O Estado tem de voltar a ser um instituição, que, segundo as palavras de Georges Burdeau, é uma empresa ao serviço de uma ideia, organizada de tal modo que, achando-se a ideia incorporada na empresa, esta dispõe de uma duração e de um poder superiores aos dos indivíduos por intermédio dos quais actua, permitindo ao grupo que continue, segundo uma técnica mais aperfeiçoada, a procura do bem comum; assegura uma coesaão mais estreita entre a actividade dos governantes e o esforço pedido aos governados; torna mais flexível a influência da ideia de direito sobre os comportamentos sociais e, com isso, constitui  Logo, há uma clara distinção entre a respublica ou comunidade e o principado ou governança da comunidade, como lhe chamava o Infante D. Pedro. Onde o Estado aparece como a ligação entre o príncipe e toda a comunidade da sua terra, entre o rei e o povo comum (Infante D. Pedro), onde a governança da comunidade tanto tem um imperium ou senhorio, como magistratus com regimentos. Quando se dá a separação entre o doméstico e o político. Quando se inventou o príncipe para que deixasse de haver um dono, para que deixasse de haver confusão entre propriedade e poder, para que os homens deixassem de ser coisas. A poesia é o melhor remédio para a crise política, onde os tecnocratas e os politiqueiros chamam adivinhação à política, a tal arte que sempre misturou o lume da razão com o lume da profecia, coisas sem as quais não existiria Portugal, nem Banco de Portugal.