Depoimento ao Público

Férias são mesmo férias, tempo de trabalho sem o controlo da greve de zelo que os burocratas impõem aos funcionários, mesmo que os controladores dos funcionários sejam os chamados gestores, de fora da carreira da função pública, mas que a vão reformando em descaracterização de serviço público. Férias são mesmo tempo de beneditino trabalho de investigação, nesta disciplina a que me sujeitei de algumas horas diárias, pelo que o blogue foi interrompido e, pela via do Hifive, fiquei sujeito a um ataque viral que mandou seis a sete mails para a minha lista de contacto. Apenas alguns jornalistas me foram contactando para o habitual comentarismo. Ontem foi o jornal o Público, sobre o veto presidencial.

Abalo na coabitação, um cisma entre a presidência e o Governo cujo desfecho ninguém consegue antever? “Não é pelo facto de se exercerem os poderes constitucionais que se verificará qualquer inversão estratégica. O que me parece é que o veto reflecte um confronto de concepções do mundo e da vida”, afirma Adelino Maltês, assinalando que, pela primeira vez, um Presidente da República “tem um intervencionismo moral”. “Infelizmente, é o regresso ao discurso do patriarca”, afirma o politólogo, assinalando que enquanto “o agnóstico Mário Soares não defendeu posições laicistas, Cavaco está a ser um Presidente católico”.

Como adverte Adelino Maltês, há equilíbrios difíceis de gerir a um ano de todas as eleições: “Se o PS continuar a conciliar, corre o risco de perder para o BE e o PCP, que nas últimas sondagens já somavam 20 por cento das intenções de voto. Se não ceder, também pode ofender o centro, católico”. A juntar a isso, deixa uma outra observação, aquilo que designa como “coincidência táctica” entre a posição do Presidente e as declarações de Manuela Ferreira Leite, que manifestou publicamente a sua oposição à nova lei do divórcio. “Há uma ligação com a intervenção presidencial”, diz.

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