Mai 17

Depoimento aos jornais

Eleitores deverão penalizar PS e poupar PSD após acordo

Politólogos dizem que Governo será castigado nas urnas e que Passos Coelho poderá lucrar

00h30m

CARLA SOARES

O acordo entre José Sócrates e Passos Coelho sairá muito mais caro ao PS do que ao PSD, prevêem os politólogos. E há quem admita ganhos nas urnas para o líder da Oposição, se convencer o país de que apenas o sentido de Estado o levou a caucionar as medidas.

Na hora de ponderar as perdas e os ganhos para os dois partidos que subscreveram as medidas de combate ao défice, as previsões são claramente negativas para aquele que sustenta o Governo. E ninguém acredita na reedição do “Bloco Central”, apesar da grave situação do país levar alguns a defender uma união de esforços mais alargada, nomeadamente ao CDS e ao PCP.

Os politólogos consideram que Passos Coelho terá tempo para descolar-se da severidade das medidas, se souber passar uma imagem de partido responsável. Isto apesar de ter abdicado, pelo menos aos olhos dos eleitores, do papel de principal opositor ao Governo, quando poderia capitalizar a contestação social. PCP e BE deverão lucrar pela via do protesto. E o CDS perdeu margem de manobra para ser um aliado do Executivo.

“Sobranceria do Governo”

André Freire, politólogo do ISCTE, sustenta que “o PS é quem, provavelmente, tem mais a perder”, porque as medidas “vão ser assacadas” ao partido que está no Governo. “O PSD também pode ficar demasiado colado, mas não vai governar e mostrou-se disponível para encontrar soluções”, contrapôe, ao JN, acrescentando que Passos Coelho “teve a humildade de pedir desculpas”, enquanto “o PS continua com a mesma sobranceria” de “quem muda de posição de 15 em 15 dias”.

O risco de o PSD ser penalizado “é remoto”, vaticina. “Quem será responsabilizado, em larga medida, é o Governo, na altura do voto”. Até porque o PSD “apresentou contrapartidas”. Já o Executivo está “sem linha de rumo” e “sem estratégia de crescimento económico”.

André Freire admite que esta convergência “não contribui para clarificar as alternativas” perante os eleitores. Além disso, não haverá necessariamente um reforço dos partidos mais pequenos, como PCP e BE, nas eleições. Pode, sim, crescer a abstenção.

O sociólogo Paquete de Oliveira crê que a atitude do PSD “é de elogiar”, pelo “dever de Estado”, mas pode “significar um prejuízo eleitoral para Passos Coelho” porque “a opinião pública, porventura, desconhece a gravidade” da situação que forçou aquelas medidas. Ou seja, o cidadão pode penalizar o PSD pela “caução” que deu e concluir que, se governasse, não lhe restava alternativa senão tomar as mesmas medidas.

Tudo depende da “habilidade do PSD para fazer crer ao eleitorado” que a sua posição “foi de sentido de Estado”. E pode “ser premiado” por isso. Quanto mais tarde houver eleições, mais tempo terá “para se descolar”, destaca, embora certo de que “o Governo será sempre o mais castigado”. Já o CDS perdeu “margem de manobra” para fazer uma coligação com o Governo.

Adelino Maltês, politólogo e professor da Universidade Técnica de Lisboa, considera que é “cedo para fazer cenários” sobre efeitos do acordo nas eleições, uma vez que não estamos perante “uma receita com resultados garantidos”. Seguro está de que “não haverá ‘Bloco Central’”. E prevê que o líder do PSD, no imediato, desça nas sondagens para “os níveis habituais”.

O essencial, defende, “é saber se a imagem do país ficou beneficiada em torno da unidade”. Se não ficou, o que considera “mais provável”, “não chega o ‘Bloco Central’” e o “acordo provisório”. Há “necessidade de uma coligação mais ampla”, incluindo “o CDS e o PCP”, num “acordo à irlandesa”, em vez de “navegar à vista”.

Viriato Soromenho-Marques, professor de Filosofia Política, diz que tudo dependerá de como os discursos evoluirão, sublinhando que o acordo “não foi explicado”. “Para o cidadão comum, esta convergência não coloca os dois líderes no mesmo saco”, garante. E “o eleitorado não penalizará da mesma maneira um Governo autista que doura a pílula” e o líder do PSD, que lucrará com a situação se passar a imagem de “partido responsável e com sentido de Estado”.

Prevendo uma subida nas sondagens para Passos Coelho, Soromenho-Marques elogia o pedido de desculpas ao país. “Não ouvi o primeiro-ministro a pedir desculpa”, nota. E condena Sócrates por se ter demarcado do corte de 5% nos salários dos políticos e gestores, revelando “insensibilidade à dimensão simbólica”, necessária em tempo de crise. A situação, prevê, “é insustentável” e pode desembocar em eleições antecipadas.

 

Mai 17

Depois da casa roubada, trancas na porta…

Os tratados firmados pelos náufragos deste “rebus sic stantibus”, por menos tecnocráticos e por mais competentes que tenham sido os plenipotenciários apenas foram rascunho que outras canetas corrigiram, em nome de um guião iluminado pela cegueira dos controladores dos cordelinhos da hierarquia das potências da Europa… O rolo compressor do politicamente correcto desta europeização criou um falso super-Estado europeu, onde os eurocratas, em defesa dos respectivos privilégios, movem processos inquisitoriais a todos quantos os criticam, impedindo que a Europa seja a necessária democracia de muitas democracias… Os papa-reformas do Leviathan eurocrático são como os colaboracionistas de Napoleão e de Bismarck: usurparam o sonho e apenas sabem fazer contas de merceeiro. Não compreendem que o belo projecto que pode ir da ilha do Corvo a Vladivostoque não deve continuar com estes gestores do carreirismo e do neofeudalismo patrimonialista.

Mai 17

Depois da casa roubada, trancas na porta…

Acabou o futebol, acabou fátima e vai-se trilhando o fado do desencanto. Soares elogia o sentido de Estado de Passos Coelho, Gilberto Madaíl volta a ser entrevistado, assim demonstrando como é directamente proporcional a Sócrates, na construção de estádios que elefantes brancos. E todos têm como herói Zeinal Bava, esse resistente.

Porque nem trabalhando ao domingo a comissão parlamentar de inquérito conseguiu demonstrar uma conspiração. Mesmo que esta tenha existido, não deixou rasto captável, a não ser pelo CSI. Como se tal não fosse uma parte visível de um derretido “iceberg” com que nos quiseram “zapaterizar”, mas sem saberem tocar rabecão…

Os romances de cordel dos negociadores sem sono, por onde divagaram os agentes tecnocráticos da nossa cooperativa de gestores de um rotativismo de bonzos apenas demonstrou os tiques de vassalagem dos donos do poder e respectivos satélites…

Prefiro recordar as últimas denúncias de Saldanha Sanches, sobre os oposicionistas que se ensalivaram com as perspectivas de imediato acesso ao poder, sobre as redes de vassalagem e o sobre conúbio dos “papa-reformas”… Alguns até vão à televisão discursar sobre a autenticidade, sentados em cargos e cargos, com que acumulam prebendas e donde distribuem honrarias.

Os tratados firmados pelos náufragos deste “rebus sic stantibus”, por menos tecnocráticos e por mais competentes que tenham sido os plenipotenciários apenas foram rascunho que outras canetas corrigiram, em nome de um guião iluminado pela cegueira dos controladores dos cordelinhos da hierarquia das potências da Europa…

Os mesmos que permitiram a casa roubada não sabem agora que trancas pôr na porta, apesar de terem posto um socialista francês no FMI e Constâncio a substituir o grego das estatísticas helénicas, como vice-presidente do condecorado Trichet. O problema está nos bastidores de Paris e de Berlim e nos que lhes dizem porreiro, porque não lhes deixam dizer mais nada.

O rolo compressor do politicamente correcto desta europeização criou um falso super-Estado europeu, onde os eurocratas, em defesa dos respectivos privilégios, movem processos inquisitoriais a todos quantos os criticam, impedindo que a Europa seja a necessária democracia de muitas democracias…

Os papa-reformas do Leviathan eurocrático são como os colaboracionistas de Napoleão e de Bismarck: usurparam o sonho e apenas sabem fazer contas de merceeiro. Não compreendem que o belo projecto que pode ir da ilha do Corvo a Vladivostoque não deve continuar com estes gestores do carreirismo e do neofeudalismo patrimonialista.