Dez 28

Meditações de ano mau, à espera de outro melhor…

1
Muitos desesperados chamam, às velhas operações da cunha, actividades congreganistas e maçónicas, especialmente quando a dita é elevada a manobra da nova sociedade de corte, hierarquista e neofeudal, daqueles favores pequenos que, com favores maiores, se pagam, por mais místicas que sejam as protecções de adro, sacristia ou passos perdidos com que se recobrem…

2
Esta fragmentação patrimonialista que destrói a política e o espírito torna-se mais patente em épocas de apodrecido fim de regime, como as da presente degenerescência, onde, como cantava o Mestre, não há lei nem rei, ninguém sabe que coisa quer, nem o que é bem, nem o que é mal…

3
Não sei nada de grego, mas sempre digo: O problema é não haver indivíduos (de “indivisus”), porque, para que eles o sejam, tem que haver moral, a ciência dos actos do homem enquanto indivíduo, como ensinava Aristóteles.

4
Quando se economiciza a “polis” ou a moral, quando se politiciza a economia ou o indivíduo, a resposta individual é aquilo que a velha ideia da anarquia mística sugeria: resistência, revolta, futuro! Porque, da Corte, homem não é, vale mais quebrar do que torcer (Sá de Miranda, em glosa).

5
A moral não depende do observador. É coisa que apenas fica dentro do observador, mas só quando ele tem capacidade (auto), por si mesmo , de editar as própria regras (nomia). E o gosto íntimo de as cumprir, respeitando a autonomia do outro. Isto é, tendo o limite de, no espreguiçar os braços não esborrachar o nariz do outro (imagem de Holmes Jr., um velho filósofo do direito, norte-americano…).

6
Não há liberal à antiga que não tenha um anarca respeitoso dentro dele! A revolta é mais enérgica do que a revolução (Mestre Camus mo disse, num livro escrito no ano em que próprio nasci).

7
Aqui chego com o sabor amargo de sentir no lombo as unhas arreganhadas do caceteirismo mastigóforo, o da inquisitorial sandice que me quer agnóstico, ateu ou de outra revelada pelo mesmo livro, quando apenas me confesso homem religioso, contra o fanatismo, a intolerância e a ignorância, mesmo a que apenas espera indulto de príncipe e nos sugere o estado de escravos voluntários.

8
Por dentro de muitas coisas com figura humana, continua a besta do costume, nomeadamente as muitas traduções em calão de um puritanismo multinacionalmente fundamentalista que usurpa velhos símbolos de libertação e signos da energia pátria dos egrégios avós, heróis do mar. Detesto os reaccionários que não assumem a tradição e nos embalam com um absolutismo apátrida que edita santinhos e pagelas, enquanto disfarça a cobardia com hóstias embebidas em vinhedo, arrotando dejectos em forma de palavra.

9
Há quem não alinhe no binário do respectivo manual de procedimentos e exorcismos…

10
Apenas sou obrigado a responder-lhes quando eles me processam em nome do Estado e com os dinheiros do Estado, mas para benefício próprio da conquista e manutenção do poder, com o minúsculo dos compadres e comadres que se auto-reproduzem em abortos clientelares, a coberto das seitas do venha a mim o reino do regabofe, usando o Orçamento de Estado como barriga de aluguer.

11
Que o ano seja Bom em vez do Mau. Basta não elevarmos a causa do estado a que chegámos à falsa categoria de Messias, mesmo que todos os dias se autoderribe do andor do estadão a que o levaram. Basta rasparmos o verniz altissonante que lhe recobre os pés de pau…

Dez 28

Quando se economiciza a “polis” ou a moral, quando se politiciza a economia ou o indivíduo

Exemplos de mau ano: Tribunal de Contas em auditoria considera que gestores públicos podem ser despedidos pela prática de determinados actos; mera música celestial; nota oficiosa mendonçal, mesmo sem invocar vírgulas, já pôs a questão “fora de questão”; ministerialidade tem sempre razões de Estado que a simples razão não apercebe; só o mexilhão é que se lixa…”

Exemplos de ano mau: blindados fora do prazo podem ser vendidos dentro do prazo por empresa de segurança privada a entidades não privadas, lá no sítio de negócios que misturam público com privado…”

Quando se economiciza a “polis” ou a moral, quando se politiciza a economia ou o indivíduo, a resposta individual é aquilo que a velha ideia da anarquia mística sugeria: resistência, revolta, futuro! Porque, da Corte, homem não é, vale mais quebrar do que torcer (Sá de Miranda, em glosa).”

E a moral nada tem a ver com a política (a ciência dos actos do homem enquanto membro da “polis”) ou com a economia (de “oikos”, casa, dita actualmente empresa), a ciência dos actos do homem enquanto membro da “oikos”, dita “domus”, em latim, onde há um “dominus”, um dono, patrão ou, como em grego, “oikos despote”…”
Não sei nada de grego, mas sempre digo: O problema é não haver indivíduos (de “indivisus”), porque, para que eles o sejam, tem que haver moral, a ciência dos actos do homem enquanto indivíduo, como ensinava Aristóteles.”

Esta fragmentação patrimonialista que destrói a política e o espírito torna-se mais patente em épocas de apodrecido fim de regime, como as da presente degenerescência, onde, como cantava o Mestre, não há lei nem rei, ninguém sabe que coisa quer, nem o que é bem, nem o que é mal…”

Muitos desesperados chamam, às velhas operações da cunha, actividades congreganistas e maçónicas, especialmente quando a dita é elevada a manobra da nova sociedade de corte, hierarquista e neofeudal, daqueles favores pequenos que, com favores maiores, se pagam, por mais místicas que sejam as protecções de adro, sacristia ou passos perdidos com que se recobrem…”

De novo Vieira, sobre a Penha de França, com imagem de um comício republicano aos pé: “os Milagres de Penha de França crecem com o tempo. O maior encarecimento do tempo, e que tem poder até sobre as penhas: o maior louvor daquela Penha, é que tem poder até sobre o tempo. E se os livros são remédio contra o tempo, quem não é sujeito às leis do tempo, não há mister livros” (id., p. 372).”

Hoje não apeteceu sulcar
os meandros eruditos, académicos
de tantos livros que não li.
Preferi recordar Antígona:
não nasci para odiar,