Fev 26

A história é um género literário, subsidiário da ficção

Viagem pelo domingo. Encontro casual com um casal amigo. Pedem-me conselho. Sobre uns manuscritos de um dos maiores poetas portugueses da segunda metade do século XX. Encontraram cartas e manuscritos num sótão. Estão em boas mãos. Não sou capaz de, por enquanto, aconselhar o recurso a certas universidades. Dependem das eleições e dos micro-autoritarismos subestatais. Nem eu teria confiança nelas.

Eu tenho pena de escrever isto sobre o meu tempo. Mas não tenho dúvidas de considerar que certas instituições não têm dignidade de conservar coisas que perseguiram. E ainda mandam os perseguidores. Estou a falar de coisas de há meio século.

Qualquer registo ou publicitação desses papéis ainda pode ser considerado como falta de respeito às vacas sagradas que ainda as enxameiam de dejectos.

E como os papéis só viriam se eu desse a minha palavras, como, para os efeitos em causa, nem sequer tenho palavras, apenas calo.

A história é um género literário, subsidiário da ficção e serventuário da literatura de justificação do revisionismo histórico neo-estalinista. Este é que manda. Em muitos sítios.

Eu próprio sou mero detentor de certos legados bibliográficos e de manuscritos e, antes deste encontro, e sem saber o motivo do mesmo, tinha acabado de comunicar que o poderei deixar a um pequeno instituto associativo, por enquanto integrado numa universidade, mas com a condição de eu o poder vigiar e resolver, caso não seja cumprida a missão. Sei o que é a persiganga, o branqueamento e o apagão. Infelizmente.