Set 27

Eu e o medo somos irmãos gémeos

Hoje não há notícias, joga o Benfica. Hoje não há parangonas, o governo faz cem dias. Mesmo que Obama diga que crise financeira da Europa assusta o mundo. Anda tudo troikado. Mas falou o  novo Leviathan, em três minutos de confissão televisiva de corretor bolsista. Os governos não mandam. Os mercados, também não. Quem manda é o medo. E a nova vontade de poder é ir para cama em orgias solitárias de ganhar dinheiro. Razão tinha Thomas Hobbes, nascido antes do tempo, um pouco antes da chegada da Armada Invencível: “eu e o medo somos irmãos gémeos”. Quem está dependente de planos de resgate, estabelecidos pelos cobradores do fraque do mundo a que chegámos, deve compreender que só podemos discutir neoliberalismos e proteccionismos quando voltarmos a ser homens livres de um povo livre, sustentável, na interdependência. Por enquanto, há governança maioritariamente exógena, sem espaço de autogoverno, até das algemas que libertam. Só pela libertação do indivíduo se reaprende a autodeterminação de um povo. Ser indiviso, isto é, indivíduo, tem um preço. Albert Camus dizia que era o da revolta contra a revolução. Continuo a subscrever. E dos livros de receitas ideológicas que tenho na estante, apenas confirmo que resistem as ideias, as crenças e os princípios, não os pré-cozinhados daqueles hipermercados que promovem a criação artificial das necessidades. Ainda há por aí pequenos chefes que procuram transformar os restritos conceitos que lobrigam em preceitos de decretina difusão. Costumo mandá-los imediatamente para a lixeira, mas ainda não tenho direito a remetê-los para o permanente do “spam”, apesar das muitas infecções virais pelas quais eles são causadores. Quando é que me livram destas redes estatolátricas estupidificantes que julgam acumular o ceptro e o báculo?