Mar 16

A notícia do dia não é mais Salazar, é Otelo

Otelo Saraiva de Carvalho

A notícia do dia não é mais Salazar, é Otelo. Mas se alguém julga que me vou indignar, tirai o cavalinho da chuva que tarda. Apenas observo que ele ainda é do tempo de Salazar. O medo do golpe da tropa já não guarda a vinha. Tal como o medo da subversão operária ou camponesa. Por isso é que há as actuais facturas de electricidade e nos pomos todos de cócoras quando somos visitados pelo comissário Oli Rehn. Mas o cantarinho tantas vezes vai à fonte que um dia a velhinha que o carrega fica menos segura, escorrega e a bilha quebra. Nesse dia, tudo ficará em cacos, sem as habituais cunhas que nos seguram.

 

Em 1974, o poder todo, o da linha de comando que ia do Minho a Timor, e com três frentes de guerra, cabia todo dentro de uma Chaimite, no país mais absurdamente concentracionário e salazarento do mundo. Até se fez uma revolução que, segundo Mário Sottomayor Cardia, foi uma espécie de subversão a partir do aparelho de poder. Tanto foi patético o capitão arvorado em general a comandar o COPCON, o dos mandatos de captura em branco, como a precedente brigada do reumático, enobrecendo a acção patriótica do Seenhor Presidente do Conselho. Isto é, o Estado não passava de uma autarquiazinha, bem local. Infelizmente, houve sucessivas guerras por procuração que nos trataram como peões de um jogo de xadrez da guerra fria, sobretudo a nós, angolanos, a nós moçambicanos e a nós guineenses, para além do massacre de duzentos mil timorenses. Logo, nunca mais. Sou contra as revoluções egoístas!

Mar 15

Marca Salazar

A notícia da tarde é essa, vinda de Santa Comba, a dos vinhos da “marca Salazar” que podem voltar a “dar de comer a um milhão de portugueses”. Por acaso, em Coimbra, terra natal de Álvaro Cunhal, em vez de vinhos, podem ser morangos “marca Cunhal”. No Porto, tripas “marca Pinto da Costa”. E em Boliqueime, passas “marca Cavaco”. Até Portugal pode transformar-se numa república “marca Passos”.

Para compensar a imagem de cima, o anti-Salazar “em flagrante de litro”.

Ensino “marca Salazar”. É ser catedrático, sem nunca ter feito doutoramento, aproveitando o buraco de um dos decretos extraordinários da I República. E depois ser o paradigma de uma pretensa república de catedráticos. A música celestial continua. Ninguém discute o que Sua Excelência o Senhor Presidente do Conselho decreta como Deus, como Pátria e como Família. Reumático apenas brigada e a Veneranda Figura empolga! Eles andam por aí e todos os engraxam.

E continuam a ser nomeados. Por convite. Porque há uma regra que permite, por favor do dono, escapar à regra. Felizmente, não há almirantes convidados nem generais convidados. Mas os almirantes e os generais adoram ser convidados.

Não sabem é de uma fábricas em Espanha que os reciclam para exportação, com rótulo e tudo. Mesmo alguns que aqui chumbaram. Depois, apenas são objecto de registo. A fábrica já funcionava nos tempos de Franco. A convite. Por acaso, a vontade colonizadora era a mesma. E quanto mais dóceis, melhor!

Eu até conheço um que daqui foi expelido por plágio. Foi a “nuestros hermanos”, voltou registado e passou a director e administrador de empresa de meios estaduais. Ainda vai a ministro da educação. Ou das finanças.

Os “camaradas” batem nas costas uns dos outros e solidarizam-se. Por esta e muitas outras é que ficámos em nevoeiro. Sem rei nem lei.

Depende tudo da interpretação autêntica que dela faz o príncipe, o velho, o novo que é velho e o novíssimo que é sempre o mesmo.

Economia “marca Salazar”. É sermos controlados pelo “tertium genus” da economia mística, de uma economia privada que não é economia de mercado e que, para evitar a concorrência, em nome dos centros de decisão nacional, estabelece um “gentleman’s agreement” com o príncipe, transformado em feitor das forças vivas.

Os donos do poder: a Sociedade Francisco Manuel dos Santos, o maior accionista da Jerónimo Martins, propôs o nome do economista António Borges para o conselho de administração da dona do Pingo Doce. O alto-comissário das privatizações será deslocalizado para a casa otomana, em Pristina, no Kosovo, entretanto rebaptizada como Horta Seca, utilizando o SMS para contactos com o primeiro-ministro.

Eles sabem tudo e não deixam nada para a comissão parlamentar de inquérito às relações sérvio-albanesas.

Defesa e segurança “marca Salazar” é desfilarem um quarto de hora antes de estarmos mortos, dizendo que ainda temos um quarto de hora de vida. Na altura ainda não havia a geração viagra.