A notícia do dia não é mais Salazar, é Otelo. Mas se alguém julga que me vou indignar, tirai o cavalinho da chuva que tarda. Apenas observo que ele ainda é do tempo de Salazar. O medo do golpe da tropa já não guarda a vinha. Tal como o medo da subversão operária ou camponesa. Por isso é que há as actuais facturas de electricidade e nos pomos todos de cócoras quando somos visitados pelo comissário Oli Rehn. Mas o cantarinho tantas vezes vai à fonte que um dia a velhinha que o carrega fica menos segura, escorrega e a bilha quebra. Nesse dia, tudo ficará em cacos, sem as habituais cunhas que nos seguram.
Em 1974, o poder todo, o da linha de comando que ia do Minho a Timor, e com três frentes de guerra, cabia todo dentro de uma Chaimite, no país mais absurdamente concentracionário e salazarento do mundo. Até se fez uma revolução que, segundo Mário Sottomayor Cardia, foi uma espécie de subversão a partir do aparelho de poder. Tanto foi patético o capitão arvorado em general a comandar o COPCON, o dos mandatos de captura em branco, como a precedente brigada do reumático, enobrecendo a acção patriótica do Seenhor Presidente do Conselho. Isto é, o Estado não passava de uma autarquiazinha, bem local. Infelizmente, houve sucessivas guerras por procuração que nos trataram como peões de um jogo de xadrez da guerra fria, sobretudo a nós, angolanos, a nós moçambicanos e a nós guineenses, para além do massacre de duzentos mil timorenses. Logo, nunca mais. Sou contra as revoluções egoístas!