A ilusão retórica de reformar o sistema político, depois de ilustres comissões de reforma do dito terem preopinado em circuito mais ou menos fechado, descobre uma centenária novidade: a introdução de círculos uninominais, como aconteceu no século XIX, quando a Regeneração voltou a ser devorismo corrupto e perdeu autenticidade liberdadeira. Este viródisco-e-toca-o-mesmo, típico do rotativismo, acontece porque tanto o PS como o PSD, com o PP na albarda, se esgotaram. Acresce que os donos e senhores do sistema que manipula a presente canalização representativa já têm consciência que podem controlar todas as porosidades e marginalidades do mostrengo da democratura, como se demonstra pelo desejo dos pequenos partidos que não têm pé na coisa quererem aceitar um qualquer lugarzito numa coligação autárquica, nem que seja um assento de deputado municipal para poderem ter uma vozita na montra comunicacional da demagogia. O que ainda há uma década poderia ter sido mobilizador para o recrutamento político será hoje simples vestimenta enganadora que será presa fácil do caciquismo e do aparelhismo e das formas indirectas de corrupção, geradoras do indiferentismo. O decadentismo é manifesto. Ainda de anteontem para ontem, a estação televisiva que os castelhanos compraram recentemente acabou a noite com uma porcaria, com um brasileiro qualquer a entoar uma “oração à bunda”, macaqueando o “pai nosso”, com figurantes recrutadas nos excedentes das discotecas e bares de alternes e acompanhantes, para, pela manhã, transmitir em directo as cerimónias de Fátima. Dos bácoros brasílicos aos episcopais báculos, sempre o mesmo ritmo pimba de ganhar audiências, enquanto nos vamos distraindo com a caça aos gambozinos desta reforma do sistema político, para não falarmos do gigantesco défice comercial com que os castelhanos nos vão engolindo.
Ago
16