Serão outros governos conservadores ou de direita de quase todas as metrópoles coloniais europeias que irão promover esses ventos da história da descolonização, quando as superpotências brincavam a guerras por procuração, manipuladoras do anticolonialismo e bem assentes em objectivos pragmáticos neocoloniais. No entretanto, já depois de Dien Bien Phu, Bandung e Evian é que, em Portugal, outro seria o ciclo, incluindo o mental, dado que Salazar , que não era de direita nem de esquerda, mas do totalismo suprademocrático que não admite partes nem partidos, se deixou enredar numa série de guerras coloniais quando as guerras coloniais dos outros tinham findado, só porque achava inevitável a chegada de uma Terceira Guerra Mundial, onde as nossas bases das lajes africanas poderiam ser bem negociadas com Washington, enquanto revogava à pressa as práticas indigenatas do Acto Colonial que ele instaurara contra a tradição integracionista da monarquia liberal e da república maçónica. Por essa e por outras é que só em Portugal, segundo a historiografia dominante, elevada a doutrina de Estado, guerra colonial rima com direita e descolonização com esquerda, esquecendo-nos até que os impérios coloniais europeus foram criações dos nacionalismos místicos dos finais do século XIX, à semelhança da III República francesa e da nossa república que teve como comissários em África gente como Norton de Matos, Brito Camacho e Álvaro de Castro, com as suas missões civilizadoras laicas, aliadas às missões eclesiásticas.