Out 08

falta de educação das elites

Não subscrevo a alarmista tese dos que proclamam a falta de autenticidade de toda a presente classe política. Apenas observo, com algum realismo, a existência de amplas zonas de incompetência. E que a principal causa deste desassossego está na evidante falta de educação das elites e da consequente desorganização do trabalho nacional, conforme denunciava o seareiro Ezequiel de Campos. E que radica na crescente incapacidade de justa avaliação do mérito individual, com o quantitativo a destruir o qualitativo. Cravinho reconhece que não temos um Estado-Estratego, mas antes um Estado de Favores. Catalina, expondo factos indesmentíveis, envergonha o sistema de administração da justiça em nome do povo. Cravinho tem toda a razão quando proclama que o problema da corrupção não pode ser monopolizado pelo policiesco e pelo judiciesco. Por outras palavras, ambos reconhecem que o país está moralmente desarmado. Infelizmente, cada um deles continua a alimentar os fantasmas de direita e os preconceitos de esquerda que nos têm embargado. Cravinho retoma a diabolizante cláusula geral do neoliberalismo, invocando uma nebulosa egotista que confunde com a ideologia esquerdista. Catalina continua obcecada pela serôdia e maniqueísta divisão de progressistas contra conservadores. Como se não houvesse socialistas corruptos e esquerdistas pedófilos. De qualquer maneira, as duas análises foram inteligentes e corajosas pedradas no charco que nos vai desesperando. Tornaram indisfarçável a podridão que vai corroendo os nossos aparelhos de poder, presas fáceis de neofeudalismos, neocorporativismos e populismos.