Jun 06

Só pode, portanto, avaliar-se um regime como se avalia um homem, isto é, em pensamento.

Lá dizia o primitivo mestre da política: há que fazer coincidir cada regime com o tipo de homem. Porque o homem tirânico é feito à semelhança da polis tirânica, o democrático, da democracia e os restantes, do mesmo modo. Só pode, portanto, avaliar-se um regime como se avalia um homem, isto é, em pensamento. E só deve avaliá-lo quem, em pensamento, for capaz de penetrar no carácter de um homem e ver claro nele. Porque há três espécies de homens: o filósofo, o ambicioso, o interesseiro, movidos, respectivamente, pelo saber, pelo prazer das honrarias e pelo lucro. E dessa fricção é que surgiria a dinâmica dos regimes. Logo, olhando em pensamento para dentro do nosso, aqui e agora, basta analisar alguns figurões que emergiram, a nível micro, desta maioria absoluta, especialmente os que, procurando imitar o macro, do “big brother”, animam o absolutismo dos cogumelos micro-autoritários. Gosto particularmente dos que, provindos da extrema-esquerda, foram transformados em democratas por um rápido preenchimento da ficha do PS, em troca de um emprego, como gestores empresariais ou directores-gerais. Aliás, os ditos cujos, a nível do seu micro, são tão democratas e pluralistas que logo elevam, a principais aliados, estalinistas não reciclados e até velhas peças do mobiliário fascista, folclórico e cobarde, onde não faltam conciliábulos com ilustres directores de gabinetes da União Nacional e muitas manobras de neopidismo, nomeadamente pelo recurso à técnica da velha ficha da legião, para o assassinato de carácter do que resiste em não submissão às muitas ofertas de compra de poder, que á forma de corrupção vista de cima para baixo, nomeadamente para o alinhamento de votos do absolutismo, conforme foi praticada pelas repúblicas ceausescas dos “conducatores”. Tinha razão o velho Platão. O tipo de homem tirânico continua tirânico, mesmo quando se veste com a farpela da democracia, porque o hábito não faz o monge, mesmo que o mesmo invoque, de vez em quando, a coincidência seminarista que unia Estaline, o georgiano, a António de Oliveira, o beirão. Não é por alguém ser formal professor de determinado aluno que este é pelo primeiro ungido e o deve engraxar para sempre, mesmo quando é elevado a chefe… Logo, tenho de concluir que a democracia continua a ser maltratada, não tanto por este governo, mas pelos muitos falsos seguidores deste governo, os tais que levam duzentas mil pessoas para a rua, em desespero de protesto. Por mim, estou farto e resta-me exercitar a não resignação através do desprezo, que é uma nova forma de exílio interno. Porque não apetece aconselhar ninguém a que se dobre à persiganga, nomeadamente contra os pequenos, mas dignos, funcionários que ainda têm a coragem da dignidade, e não subscrevem a declaração de ostracismo que foi lançada pelo grande chefe da cromice contra os dissidentes. Pinto da Costa só há um e dele muitos estão cansados.