O devoto bulhetim de boto

Depois da azáfama campanheira, os alfacinhas foram à urna em tempo de couve de Bruxelas. Mostraram cartão de eleitor, cartão de identidade e deram-lhe o boletim pró folhetim da pescada, do antes de o ser já o ser, de acordo com as sondagens. Abriram o dito cujo, o tal que acima se reproduz, pegaram na esferógrafica, foram para trás do conglomerado de madeira, tipo tabopan, e procuraram sua excelência o seu candidato, de acordo com a lei processual vigente. Não vale a pena esperar pelos resultados. São os que constam de todas as sondagens. Salve-se quem puder… nomear mais assessores. Quando portugueses com a dimensão universal de um José Saramago dão, ao jornal de que foram directores, entrevistas como a de hoje, todos os que não querem continuar a pensar baixinho, deveriam parar, escutar e ler e não entrar na rápida manipulação de argumentos endeusantes ou diabolizantes. O patriota Saramago (não é ironia o qualificativo que usei) retoma a clássica posição de Frei Bartolomeu dos Mártires, de D. Jerónimo Osório ou de Frei Luís de Sousa, profetizando uma das possíveis vias do europeísmo. Isto é, rejeita as teses de Febo Moniz e não quer inscrever-se no partido de D. António Prior do Crato. Espero que a comissão de sábios do PCP (continuo a não usar de ironia) possa transmitir ao resto do país, a resposta que, certamente, será dada pela facção não iberista dos cunhalistas, nomeadamente a que é representada por Miguel Urbano Rodrigues. E mais não digo. Espero. Por mim, continuo ainda com o sentimento de Antero, o iberista que acabou militante da Liga Patriótica do Norte, antes de aderir ao povo dos suicidas, no banco do jardim do Convento da Esperança, olhando uma nesga do Atlântico, por entre as brumas da ilha natal. Apenas recordo a lição histórica de Agostinho da Silva que, não deixando de ser iberista, apenas dizia que a profunda razão de 1640 foi o projecto Brasil. Por mim, tanto não quero Aljubarrota, como não me apetece Alcácer-Quibir. Prefiro a regeneração de 182o, mesmo que tenha de sustentar-se no tratado de 1834, com que o regente D. Pedro conseguiu garantir a nossa independência na Europa da Santa Aliança. Desde que lhe juntemos um pouco da manha dos nossos agentes diplomáticos de 1648 que preferiram a aliança com os pequenos reinos protestantes da Europa, em cujas tendas observámos o acordo de Vestefália, quando a ONU da altura, representada pelo Vaticano, ainda era instrumento dos Habsburgos. Julgo que, por enquanto, talvez não seja necessário pedir a adesão ao federal Reino Unido da armilar, incluindo os futuros cem milhões de africanos que, daqui a poucas décadas, falarão a língua de Saramago. Continuarei a lutar para que não se perca a herculana vontade de sermos portugueses com independência política e não apenas cultural, para regenerarmos esta pátria que tem de continuar a ser liberdadeira.

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