Nov 09

A cadeira que sustenta a queda do muro e a operação caos da Razão de Estado cristã

Caiu o Muro, já não há barreiras no acesso ao Sol na Terra, assim era designada a URSS por Cunhal, os partidos que serviam a estratégia indirecta de Moscovo foram-se desmoronando, outros, mudando de dono, mas mantendo o centralismo dito democrático, e só o nosso, o lusitano, renasceu maximalista e se mostra coerente.

Aliás, entre esse tempo e o actual, aqueles jovens de extrema-esquerda dita maoísta, muito anti-social-fascismo, foram-se também reconvertendo, entre o neoliberalismo negocista, a social-democracia beata, ou laica, e o jornalismo pró-americano, uns saíram de assistentes de Georgetown para cadeiras ministeriais, e outros até voaram mais alto, com a ajuda da águia e ao serviço de outras garras.

Não faltaram ministros do fascismo que se adaptaram aos novos tempos, uns ministros outra vez, outros super-ministros sem cadeira, mas com muitos assentos episcopais prebendados pela gaveta do patrão. Daí que, para comemorar a queda, tenha ido ver Il Divo. Porque a coisa é um retrato prospectivo daquilo em que nos vamos tornar, mas agora com escutas que, antes de poderem ser destruídas, têm fugas ao segredo de justiça…

Não sejas alarmista! Tudo o que apareceu desescutado é o normal dos anormais entre políticos que bebem do fino. Se houvesse escutas das conversas de Soares com todos os políticos do país nas conversas que ele teve no Pátio das Damas caía mais do que o Carmo e a Trindade. Era um tsunami pior do que o de 1755…

Este pedaço de uma conversa que mantinha ao micro-ondas foi objecto de ruídos estranhos. Talvez porque a vizinha está em arrumos. Talvez porque amanhã é dia de exercícios da disciplina de Teoria da Conspiração, aqui pela malta da residência de estudantes da vizinhança.

Estes aqui são bem piores do que no tempo da outra senhora dentro desta…Devem ser espiões privados em autogestão, para ver se vendem a informação…

Sabes, preferi ver o Il Divo, com a estória do Andreotti. Por cá abundam os gajos do mesmo tipo de perfil, chama-se “razão de Estado cristã” e não tem nada a ver com essa do “opus dei”. Preferem roubar o método às seitas e construir uma tribo privativa que vai mudando de membros, mantendo apenas o chefe, com a técnica clientelar da bajulação e do clientelismo do tacho e do penacho

Ninguém ouve, ninguém vê, ninguém diz. Mas todos podem ler, ouvir e escutar, mas como não sabem soletrar, preferem o comer e calar. E comem sempre da mesa do orçamento. Aliás, está tudo registado em livros de revolta e de memórias, mas como eles sobrevivem sempre, é mais avisado não os enfrentar…

Andreotti é como ainda é o Kissinger, é como foi o Talleyrand, e são esses que foram ministros que ensinam os actuais e próximos ministros à técnica da razão de Estado e do segredo de Estado. Nem sequer falam depois da prescrição. Porque o importante não é ser ministro, é tê-lo sido…

Pois, quem se lixa é o mexilhão do novo rico que veio das berças. Eles andam sempre a mudar de feitores dos ricos e dos corredores dos salões de estadão, onde eles sabem como poucos usar a técnica da sedução, explicando que os respectivos agentes é que abusaram do poder, mesmo quando mataram…

Ao menos, o Andreotti esteve sempre no mesmo partido e começou cedo. Os nossos vieram do outro lado e andam sempre ao sabor da corrente, preferindo nunca abrir a boca com escritos sobre as paixões que nos dividem internamente. Apenas falam das consequências da crise global e das alterações climatéricas…

Nisto, prefiro o Marocas. Não tem papas na língua sobre o tempo que vai passando. Marra de frente e nem quando erra vive da cobardia dos conceitos indeterminados da música celestial…

Vou fazer-te uma citação: “Há três categorias de fraude política: a ligeira, consistindo na desconfiança e na dissimulação, aconselhável a qualquer estadista; a média, incluindo a corrupção e o engano, apenas tolerável; e a grande, desde a perfídia à injustiça, considerada injustificável e absolutamente condenável”.

O que estás a dizer é leitura directa de Justus Lispius, amigo!

Isso mesmo. A obra “Politicorum”, de 1589, posta no Index pelo papa Sisto V, em 1590, depois da conversão do autor ao catolicismo, é revista no sentido católico, logo em 1596, tendo cerca de quarenta e cinco edições durante a vida do autor.

“La principal fuerza y honra no solo proceda del príncipe, sino que se esta cerca de el. Digo del principe, para que despache los mayores negocios el mismo, o al menos los ratifique y apruebe, firmándolos, por no enflaquecer el vigor del principado con remitirlo todo al Senado y consejos.”

“No porque desprecie los consejos, pues los he persuadido con muchas veras, sino por desear que todo el mundo entienda que es el principe de quien dependen todos. El solo ha de ser juez y arbitro de las cosas por derecho y nombre de rey.”

“Los reyes, que son senores de los negocios y tiempos, no sieguen los consejos, si bien tiran a si todas las cosas con ellos. Si algo se suelta de esto, el todo se pierde. Tal es la condicion del imperio, que no se puede mantener si no es remitido a un solo”
Muito bem, amigo, já me despertaste. Depois de ontem ouvir o Medina Carreira, no Plano Inclinado, fui logo à estante para reler a “Arte de Furtar”. Telefono-te mais logo…

A razão de Estado é contravenção à lei ordinária, tendo em vista o benefício público, isto é, uma maior e mais universal razão (Ammirato, Scipione)

Quando se trata da salvação do Estado, é preciso uma virtude máscula que passa, algumas vezes, por cima das regras da prudência ordinária (Richelieu, Cardeal Duque)

“S.M. está tão persuadido, que a única atribuição que tem sobre os povos, é esta do poder da força, a que chamam outros a última razão do Estado, que nos manda jurar o projeto com um bloqueio à vista, fazendo-nos todas as hostilidades” (Frei Joaquim do Amor Divino e Caneca que acabou assassinado pelo terrorismo de Estado…)

Nov 08

Da razão de Estado

“‎”S.M. está tão persuadido, que a única atribuição que tem sobre os povos, é esta do poder da força, a que chamam outros a última razão do Estado, que nos manda jurar o projeto com um bloqueio à vista, fazendo-nos todas as hostilidades” Frei Joaquim do Amor Divino e Caneca (acabou assassinado pelo terrorismo de Estado…)”

“Quando se trata da salvação do Estado, é preciso uma virtude máscula que passa, algumas vezes, por cima das regras da prudência ordinária Richelieu, Cardeal Duque”

“A razão de Estado é contravenção à lei ordinária, tendo em vista o benefício público, isto é, uma maior e mais universal razão (Ammirato, Scipione)”
“‎-Muito bem, amigo, já mes despertaste. Depois de ontem ouvir o Medina Carreira, no Plano Inclinado, fui logo à estante para reler a “Arte de Furtar”. Telefono-te mais logo…”

“‎-Los reyes, que son senores de los negocios y tiempos, no sieguen los consejos, si bien tiran a si todas las cosas con ellos. Si algo se suelta de esto, el todo se pierde. Tal es la condicion del imperio, que no se puede mantener si no es remitido a un solo”
“‎-No porque desprecie los consejos, pues los he persuadido con muchas veras, sino por desear que todo el mundo entienda que es el principe de quien dependen todos. El solo ha de ser juez y arbitro de las cosas por derecho y nombre de rey.”

“‎-La principal fuerza y honra no solo proceda del príncipe, sino que se esta cerca de el. Digo del principe, para que despache los mayores negocios el mismo, o al menos los ratifique y apruebe, firmándolos, por no enflaquecer el vigor del principado con remitirlo todo al Senado y consejos.”

“‎-A obra “Politicorum”, de 1589, posta no Index pelo papa Sisto V, em 1590, depois da conversão do autor ao catolicismo, é revista no sentido católico, logo em 1596, tendo cerca de quarenta e cinco edições durante a vida do autor.”

“‎- O que estás a dizer é leitura directa de Justus Lispius, amigo! -Isso mesmo.”

“‎-Há três categorias de fraude política: a ligeira, consistindo na desconfiança e na dissimulação, aconselhável a qualquer estadista; a média, incluindo a corrupção e o engano, apenas tolerável; e a grande, desde a perfídia à injustiça, considerada injustificável e absolutamente condenável”

“‎- Nisto, prefiro o Marocas. Não tem papas na língua sobre o tempo que vai passando. Marra de frente e nem quando erra ´vive da cobardia dos conceitos indeterminados da música celestial…”

“‎- Ao menos, o Andreoiti esteve sempre no mesmo partido e começou cedo. Os nossos vieram do lado e endam sempre do lado que está ao sabor da corrente e preferem nunca abrir a boca nem os escritos sobre as paixões que nos dividem internamente. Apenas falam das consequências da crise global e das alterações climatéricas…”

“‎- Pois, quem se lixa é o mexilhão do novo rico que veio das berças. Eles andam sempre a mudar de feitores dos ricos e dos corredores dos salões de estadão, onde eles sabem como poucos usar a técnica da sedução, explicando que os respectivos agentes é que abusaram do poder, mesmo quando mataram…”
“‎- Andreotti é como o Kissinger, é como foi o Talleyrand e são esses que foram ministros que ensinam os actuais e próximos ministros à técnica da razão de Estado e do segredo de Estado. Nem sequer falam depois da prescrição. Porque o importante não é ser ministro, é tê-lo sido…”

“‎- Ninguém ouve, ninguém vê, ninguém diz. Mas todos podem ler, ouvir e escutar, mas como não sabem soletrar, preferem o comer e calar. E comem sempre da mesa do orçamento. Aliás, está tudo registado em livros de revolta e de memórias, mas como eles sobrevivem sempre, é mais avidado não os enfrentar…”

“‎- Sabes, preferi ver o Il Divo, com a estória do Andreotti. Por cá abundam os gajos do mesmo tipo de perfil, chama-se “razão de Estado cristã” e não tem nada a ver com essa do “opus dei”. Preferem roubar o método às seitas e construir uma tribo privativa que vai mudando de membros, mantendo apenas o chefe, com a técnica clientelar da bajulação e do clientelismo do tacho e do penacho”

“‎(continuam os ruídos estranhos…) – Estes aqui são bem piores do que no tempo da outra senhora dentro desta…Devem ser privados em autogestão, para ver se vendem a informação…”
“‎- Não sejas alarmista! Tudo o que apareceu desescutado é o normal dos anormais entre políticos que bebem do fino. Se houvesse escutas das concversas de Soares com todos os políticos do país nas conversas que ele teve no Pátio das Damas caía mais do que o Carmo e a Trindade. Era um tsunami pior do que o de 1755…”

“Telefonema recebida, através de aparelho com ruídos não estranhos… – Sim… sim… estive a ver o Il Divo. A coisa é um retrato prospectivo daquilo em que nos vamos tornar, mas agora com escutas que, antes de poderem ser destruídas, têm fugas ao segredo de justiça…”

Nov 06

Ponham-lhe uma venda nos olhos e a espada do máximo poder na mão direita!

O direito não é a vida, são relações jurídicas, uma simples minoria das relações sociais. E os processos não são o mundo. São metalinguagem de um teatro de formalismos, onde até se tinge o paradoxo de proclamar-se que “quod non est in actis non est in mundo”. É hipócrita pedir a polícias e magistrados que façam moral ou que façam política. Como é igualmente hipócrita que políticos finjam que aquilo que é lícito equivale a um certificado de honestidade. Em vez do hipócrita Frei Tomás, desse que vai pregando sem o fazer, prefiro mesmo o São Tomás que foi sempre teólogo e papista. Estou farto dos Tomásios que não são Américos só porque não foram Reverendos. O estado a que chegámos são eles. Os mexilhões são os mesmos. Glosando Camus, podemos dizer que, depois da era dos filosófos, poderá ter desaparecido a filosofia, apesar de tantos professores de filosofia, desses que apenas ficham o pensamento pensado, sem qualquer resto de pensar, e até do pensamento pensante. Agora chegou a vez dos gestores que não sabem gerir, esses maus exemplos que saltitam entre públicos e privados, privatizando o público e falindo os privados, mas enfilosofando-nos em sermões que os amigalhaços têm que afixar na vitrina. Um qualquer político só poder ser politicamente defendido e atacado, quando nos situamos no campo da política. Não deve ser atacado através de uma fuga ao segredo de justiça. Não se pode defender, proclamando que o povo votou e que o povo é quem mais ordena. Há uma teoria pura da política. A que lhe dá o valor justiça como estrela do norte. Justiça não se confunde com a constitucional administração da justiça. Que é tão política quanto o poder executivo, ou o legislativo. Aquela tem que aplicar a lei e não é ela que a faz. E acima da lei está o direito, tal como acima do direito está a justiça que, em cada momento, se expressa através dos programas ideológicos dos ideais conjunturais de sociedade, sem encontros imediatos de primeiro grau com a dita. O justicialismo está para a administração da justiça, tal como a politiqueirice está para a actividade política, ou o pretenso moralismo para os fariseus. A medida está naquilo que nos falta: uma moral social, comunitariamente assumida pela autonomia da sociedade civil e pelos seus filhos mais queridos, a liberdade de expressão e a liberdade de pensamento. A medida ou o padrão da torta vida que temos é a régua (de “regula”, isto é, de “régua”), tal como norma vem de esquadro, e tal como a ideia que nos deve reger é a recta que traçamos numa folha em branco e que se aproxima do paradigma de recta que todos devemos trazer dentro de nós. Até o “ius”, o latino “direito”, veio da expressão “ius de rectum”, porque ele normalmente fica torto, quando os pratos da balança se desequilibram pelas desigualdades que a vida traz, ao gritarmos “isto é meu”. Direito de “de rectum” é o que põe direito o “ius” torto pelos interesses da luta pela vida e da luta pelo poder, onde quem mais tem poderes mais faz pender para o seu lado o prato, o “lanx”, da “bi lancia”. E a deusa que a sustenta, com espadalhão maior e mais potente, ao colocar a venda nos olhos continua a ser a única que a endireita. Juiz é aquele que escreve direito por tantas linhas tortas…

Nov 02

Uma estratégia sem táctica

UMA ESTRATÉGIA SEM TÁCTICA

 

por José Adelino Maltez

 

Obedecendo aos velhos modelos dos manuais de “planejamento estratégico” do neopositivismo tecnocrático pintados de keynesianismo, o presente programa de governo revela como continuam em vigor aqueles modelos mentais que confundem as boas intenções com as inevitáveis frustrações do inferno das realizações. Preferindo a generalidade e abstracção dos conceitos indeterminados e das cláusulas  gerais, sem indicação de tácticas mobilizadoras, eis o caixilho de uma ideologia eleitoralista, que é directamente proporcional à existência de cerca de 4 887 cursos do actual ensino superior público. Abundam as folhas, os ramos e as árvores, mas falta o todo da floresta. Porque, parafraseando uma promessa não cumprida da líder do PSD, bastaria uma simples folha de A4 para se estabelecer o norte desta governança sem governo, em ritmo de pilotagem automática. Nem se reconhece que a nossa capacidade de transformação do quotidiano é cada vez mais uma gestão de dependências e de navegação pela interdependência. Logo, o que falta em flexibilização é em retórica, muito sintético-compendiário, onde se pensa que são os programas que fazem a história, quando importava pilotagem do futuro e preparação para a mudança, sem o peso das jangadas de pedra que estão em contraciclo com os modelos dominantes do nosso espaço geopolítico e geo-económico .