Patriotismo e vazio de povo!

Alegre é, sem dúvida, o poeta mais politicamente consequente da nossa história contemporânea e, em termos simbólicos, com um avô republicano e outro monárquico, consegue fazer convergências mobilizadoras tanto à direita como à esquerda. Quem ama a palavra, não só o respeita como o admira, mesmo que faça parte de outras tribos familiares da nossa politiqueirice. Logo, pode citar o sonho de Antero, ou o companheirismo de Melo Antunes, até porque foi consequente com a liberdade, antes, durante e depois de Abril e do PREC,  e não deve ceder aos áulicos que o mandam invocar Keynes, como conselheiro de Roosevelt, por causa dos actuais projectos de investimento público. Até Karl Marx se revoltaria com essa invocação da grande oficina de recauchutagem do capitalismo, nomeadamente pelos equívocos que pode gerar com outros paradigmas mais caseiros, como o de Duarte Pacheco e os conselhos que o velha escola do Quelhas dava a um pretenso Estado Novo que, por acaso, até antecedeu o conceito de “New Deal”, quando Salazar denunciava “a fina flor da plutocracia” .  Alegre não nasceu para ser comentador económico, mas antes o patriotismo em figura humana que não tem que fazer contabilidade de partidocracia. Porque, mesmo um patriota nada socialista, não republicano e pouco laico pode estar disposto a comungar em fé de povo, esse mobilizador das brumas da memória e das suadades de futuro.

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