A voz do establishment
Por José Adelino Maltez
A existência de planos de contigência como a indiscrição do “Sunday Times” faz parte do normal-anormal dos engenheiros de cenários do securitismo, sendo tão mirabolantes quanto os da evacuação de todos os muçulmanos de França, ou até ideia norte-americana de ocupação dos Açores pelos brasileiros, durante a Segunda Guerra Mundial. São coisas que não se estranham, mas que, infelizmente, podem vir a entranhar-se. E o mais significativo está na pretensa seriedade que enquadra a respectiva divulgação, quase equiparável à ameaça paivense de bomba atómica, a ser lançada sobre os nossos credores. Felizmente, o ridículo, por enquanto não mata e mais interessante seria saber como o nosso segredo diplomático e de segurança, externa e interna, acompanhou os meandros da emissão da informação, antes de ela aterrar na opinão pública, sem o recurso aos nossos próprios planos de contingência e de coordenação com os da própria NATO. Talvez seja mais avisado notarmos que no Reino Unido persiste uma tradicional aliança do “establishment” que gerou um modelo político de governo pela sociedade civil que, se é mais centralizado que o modelo político norte-americano, é bem menos estatizado do que a França. Porque o mercado precedeu o Estado e o aparelho de poder central nunca tentou controlar a sociedade e a economia, surgindo um modelo de capitalismo e de free trade a partir da autonomia da sociedade civil e não pelos estilos mercantilistas do estadualismo absolutista.