O corporacionismo das vozes tribunícias do sindicalismo e os agentes do estadão, como era previsível, e o previ, preto no branco e em jornal, alargaram o terreno do Bloco Central situacionista. Daí que se recubram de silêncio muitas outras situações de compressão da cidadania, só porque Pilatos consegue lavar as mãos e Barrabás faz discursos. Por outras palavras, quando a inteligência se deixa de casar com a honra e o pensamento entra em conflito com o entusiasmo, a direita pode esperar que os Berlusconi surjam à frente das sondagens, porque, nas pegas de cernelha, há melhores hipóteses de não se levar uma cornada. Apesar de estar prestes a ter que entrar numa longa resistência judiciária e de, consequentemente, ter que silenciar, sofrendo o ostracismo, devo concluir que, ontem, ao fim da tarde, na Praia do Meco, estava um cósmico pôr do sol e que continuo na beneditina pesquisa de coisas eternas, só porque tenho que explicar coisas da velha polis grega e da antiquíssima respublica romana, mergulhando nos subsolos para que as aulas que estou a dar sobre a matéria não sejam repetição de sebentas, incluindo das minhas. Daí que tenha de agradecer aos causadores da presente crise política, cultural e moral do que resta da nossa pátria. Bem como aos agentes do estadão e aos pequenos sargentos e inquisidores do micro-autoritarismo subestatal. O clássico ostracismo, ao libertar-nos domainstream, permite olhar os vermes de forma laboratorial, colocando-os nas lâminas do nosso microscópio, como objectos de análise, passíveis da astronómica observação à distância. Aliás, em muitos momentos da história, quanto maior é a crise e a persiganga, melhores são os resultados da criatividade individual, nascida da revolta e desse pedaço de resistância de quem prefere a raiva ao ódio. Quem não come o pão amargo dos homens livres desconhece que a libertação só é possível a partir da memória do sofrimento, coisa que nenhum escrevinhador das vulgatas da história dos vencedores consegue minimamente vislumbrar. Por mim, quero continuar a viver como penso e a escrever aqui, ou noutro lugar, o que é o não pensar como vivo. Sou ambicioso demais para pactuar com os agentes do estadão nas barganhas do poderio, das medalhas, dos prémios, das comendas, das honrarias fúnebres e dos subsídios.
Abr
14