Uma partidocracia que começa a ser adversária da própria democracia

As primeiras novas das autárquicas da cabeça do reino mostram que a senhora dona indiferença, no balanço dos “inputs” que fazem entrar o povo na “blackbox” do sistema político, pode ser superior à soma dos apoios e das reivindicações. Assim se confirma como este modelo de democracia, dominado por uma partidocracia claustrofóbica, pantanosa e plena de tabus, está a tornar-se a principal adversária da própria democracia. Pior ainda, quando à abstenção somarmos os votos dos candidatos ditos independentes, porque parece tornar-se inevitável a axistência de uma maioria absoluta de povo contra a oligarquia rotativista que marca o ritmo do situacionismo. Ao meu lado, alguém que tem a sabedoria da intuição e dispõe alguma ciência experimentada sobre a matéria vai dizendo: “a ditadura é sempre má, a democracia pode ser boa ou má, esta democracia é má…”. Um comentador meu amigo vai proclamando na televisão: “o panorama não é tão dramaticamente grave”. Isto é, ou é grave sem ser dramático ou é dramático sem ser grave, o que vem a dar no mesmo, assim se confirmando que tudo é mesmo mau. Por outras palavras, se isto fosse um referendo, o dito não seria vinculativo. Se os partidos dominantes não virem o cartão amarelo com que o povo os puniu, não vale a pena que um dos jogadores trate de roubar o cartão ao árbitro. Pior ainda se o roubo for levado a cabo pela equipa que organizou excursões de povo de Mirandela para uma excursão da terceira idade socialista a Lisboa, face à falta de entusiasmo dos alfacinhas. Não lancem sobre o povo o que fez Guterres ao não retribuir a gentil saudação que o dono do hotel Altis o recebia há pouco. Quem está lá nas alturas convém que desça, de vez em quando, ao inferno do quotidiano.

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