Mar 17

La belle époque, un quart d’heure avant, elle était encore en vie

Voltemos à lama do quotidiano, ao carro que se enreda e não avança. Discutamos as remunerações dos gestores das empresas públicas e de regime, os carros de gama alta das ministerialidades, a TVI, santana, o freeport, ou os ricos que paguem a crise. Voltemos à terra, a este ambiente de fim de “belle époque”, que alguns sistémicos do situacionismo já qualificam como de fim de regime, a este apodrecimento lento das instituições, onde os críticos são qualificados como catastrofistas…

Os sinais de crepúsculo surgem, sobretudo, entre os donos do poder, isto é, dentro das várias secções, ou facções, do rotativismo devorista, ou de certa ditadura da incompetência, onde os bonzos, os irmão-inimigos, apenas são desafiados pelas margens dos endireitas e dos canhotos…

Outrora, a ordem impunha-se porque o medo guardava a vinha. Os fantasmas de direita temiam os revolucionários profissionais (os comunistas). Os preconceitos de esquerda invocavam o eventual golpe da tropa…

As novas teorias da conspiração preferem outros prosaicos. Na Grécia, os repórteres falam em anarquistas que partem montras e dão nos polícias. Por cá falam dos poderes ocultos, como o presidente do sindicato dos ajuizados, alinhando, já não apenas subliminarmente, com aqueles que gostaria de uma nova lei Santos Cabral aos Estados Unidos e à Europa, onde certamente não haveria Estado de Direito, Obama ou Jean Monnet, tal como nunca teriam existido George Washington, Winston Churchill, Montesquieu ou Kant…

Na encruzilhada da ditadura dos factos, apenas o desespero de uma espécie de tecnocracia acima do reino da política, dos eurocratas à doméstica ditadura das finanças naquela fragmentação que também nos poderia levar a uma república de magistrado, porque eles são “magis”, enquanto os ministros são meros “minis”…

Vale-nos a liberdade de expressão. Ao contrário do que aconteceu antes de 1926, os críticos da democracia não são dominados pelos inimigos da democracia que preferem procurar um qualquer falso sebastião numa das facções dos partidos da esquerda-menos da presente hipocrasia. Hoje, os seareiros e os seus companheiros da “Revista dos Homens Livres”, sobretudo os que estavam livres da finança e dos partiodos, seriam mais ouvidos…

Mar 17

Nova cena do teatro de enganos

NOVA CENA DO TEATRO DE ENGANOS

Por José Adelino Maltez

 

“Na eterna mentira de todos os deuses, só os deuses todos são a verdade”

Fernando Pessoa

 

 

Quem ousar espreitar uma obra publicada anonimamente em 1652, com o subtítulo “Espelho de Enganos, Teatro de Verdades, Mostrador de Horas Minguadas, Gazua Geral dos Reinos de Portugal”, poderá ler que “a primeira máxima de toda a política do mundo que todos os seus preceitos encerram em dois, como temos dito, o bom para mim e o mau para vós”. Porque se aceita a regra de “viva quem vence. E vence quem mais pode, e quem mais pode tenha tudo por seu, porque tudo se lhe rende”. O autor continua por achar e a obra tem como título principal “Arte de Furtar”. Apenas se confirma que, quando a política entra em degenerescência, torna-se cada vez maior a distância entre aquilo que se proclama e aquilo que se pratica, especialmente quando domina o que Raymond Abellio considera “uma ciência, a da mentira por sugestão”, isto é, a propaganda. Aqui e agora, neste regime de condomínio fechado, onde os principais donos do poder moram em vivendas geminadas,  com telhados de vidro e muitas pedradas mútuas, apenas podemos recordar a lição de Justus Lipsius (1547-1606), o fundador da razão de Estado moderada, em  Politicorum, de 1589, onde assinala que há três categorias de fraude política: a “ligeira”, consistindo na desconfiança e na dissimulação, aconselhável a qualquer estadista; a “média”, incluindo a corrupção e o engano, apenas tolerável; e a “grande”, desde a perfídia à injustiça, considerada injustificável e absolutamente condenável. A obra, que foi posta no Index pelo papa Sisto V, em 1590, porque o autor era protestante, logo passou a doutrina oficiosa desse universo a partir 1596, tornando-se num “best seller”, com cerca de quarenta e cinco edições durante a vida do autor.  Na prática, a teoria continua a ser a mesma.