Somos todos polacos!
Morreu o Presidente da Polónia e quase uma centena de altos dirigentes de Varsóvia. Dirigiam-se à Rússia, para as comemorações do massacre de Katyn, quando, em 1940, o estalinismo assassinou cerca de vinte mil membros da elite político-militar da Polónia livre. Lech Kaczynski, até há pouco ridicularizado por certa politiqueirice ocidental, era um resistente ao comunismo da geração do Solidariedade e da ascensão ao papado de João Paulo II. E tinha como valor supremo uma pátria que foi vítima dos totalitarismos nazi e comunista. Hoje, é uma das fronteiras orientais da nossa liberdade europeia. E na Rússia já não residem as garras da vingança, mas os sinais libertacionistas de Soljenitsine, embora, de ambos os lados haja expectativas frustradas e sonhos por cumprir. Mas o caminho da casa comum europeia e da democracia pluralista e justa faz-se caminhando e semeando, de geração em geração, peregrinando aquelas raízes profundas que nos podem dar saudades de futuro.
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Viagem aos meandros sub-estatais do sistema elogiado pelo banqueiro do regime…
O regime vai falando endogamicamente, para as suas próprias tripas e volutas: diz pensar nas escolas-seminários do circuito fechado da subsidiologia; diz punir a corrupção, pedindo discursos a sobrejuízes, super-polícias, ex-criadores de elefantes brancos e oficiais de diligências de planos de combate à dita, todos postos em acetatos e “powerpoint”…
Suas Senhorias estão todos de consciência tranquila e irão todos à missinha de Sua Santidade em pleno Terreiro do Paço remodelado, porque a música celestial, a literatura de justificação e os barcos a remos que partem do Cais das Colunas os podem levar sempre à outra banda, para voltarem, de barco à vela, em dia de nevoeiro e buzinão…
Os pequenos e médios micro-autoritarismos subestatais, plenos de “outsourcing” e de paradigmas enrolados, vão gaguejando as modas que passam de moda, com que os cursilhos para altos dirigentes os formataram, num misto de saudades estalinistas, barroquismos teológicos e meia dúzia de neologismos do tecnocratês gestionário…
Os pequenos e médios altos dirigentes do SIADAP, e da avaliologia suicida, continuam a ganga do construtivismo destruidor, em que sublimaram o revolucionarismo frustrado. E assim se perpetua o despotismo ministerial, entre seminaristas frustrados, doutores da mala ruça, salazarentos ajaconizados, educacionólogos e cantilenas neopombalistas, a que chamam integração europeia ou turismo científico, assim enobrecidos pelo terceiro mundo cá do contenente….
Qualquer modernizador que pensa ser reformador encartado julga que, por usar duas ou três palavrões do calão anglo-americano, de contratar as consultadorias dos cartões de visitas dos formadores, ou de se envolver no neofeudalismo clientelar do “outsourcing”, se torna, “ipsofacto” engenheiro social, mesmo sem reconhecimento da Ordem….
O Estado é este estado a que chegámos, porque persiste o inquisitorialismo, a persiganga e o antiquado despotismo ministerial, quando quem está em cima é exactamente igual a quem está em baixo: instrumentaliza a máquina dependente da cobardia e do carreirismo oportunista!
Até algumas autarquias locais querem serem Estados absolutistas em miniatura. Sobretudo as que se suburbanizam em dormitórios e se destribalizam, com autarcas entalados entre engenheiros de pontes, calçadas, lombas e parques de estacionamento e frustrados professores do ensino secundário. Todos deixam de compreender a pluralidade identitária dos povos que foram chamados a governar…
Algum autarquismo de paraquedistas politiqueiros pode volver-se em mero agente colonizador do centralismo e do capitaleirismo, servindo inconscientemente abstracções unidimensionalizadoras, mesmo que o activista comandante não consiga que o verniz socialista, ou social-democrata lhe apague o rasto do teólogo sem Deus, ou do revolucionário sem ideia…
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Quem está mal, muda-se, entra em cisma, torna-se herético, protesta em Reforma
Vou mesmo falar do Vaticano, depois das declarações de ontem do cardeal Bertone. Para dizer que dois mil anos depois, não podemos confundir a floresta com algumas das suas árvores. E quem está mal, muda-se, entra em cisma, torna-se herético, protesta em Reforma ou advoga uma Contra-Reforma…
Por mim, que estou de fora, com mais cinco séculos em estoicismo, apenas posso coincidir em irmandade, nunca como inimigo, ou com a raiva de dissidente. Logo, reconheço que Bento XVI é bem mais do que a imagem com que ele se enredou na comunicação social global. A coisa é bem mais complexa do que uma consulta de sexologia, tem a ver com a metafísica!
No país da Casa Pia, atirar pedradas ao Vaticano por causa da pedofilia é não reconhecermos que tanto os Estados como as Igrejas ainda não sabem fazer justiça nesses casos concretos e padecem da falta de autenticidade típica das organizações de homens concretos de carne, sangue e sonhos…
Todos conhecem qual era a tradicional postura eclesiástica sobre tais infracções, remetidas para a clausura da autonomia do direito canónico, com o silêncio e o ostracismo, mesmo quando o trabalho de pesquisa já estava inventariado pelo próprio jornalismo de investigação que, aliás, continua a cooperar, remetendo certo…
Esta postura eclesiástica tradicional também foi a seguida pelos primeiros tempos da nossa democracia, quando os pais-fundadores tiveram de ostracizar alguns destacados corruptos da partidocracia. Foram imediatamente afastados, mas não se deixou que o público conhecesse os pormenores da trama…
Outros são hoje os sinais dos tempos e as pesadas máquinas do eclesiástico e do estadual demoram a adaptar-se às novas circunstâncias e a uma moral social intolerante para com pedófilos e corruptos. De qualquer maneira, não se confunda a árvore com a floresta e exija-se que o primeiro exemplo venha do jornalismo de investigação que, mais uma vez, não deve ser arrastado pelas parangonas dos chamados tablóides…
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A democracia pode ser usurpada pela partidocracia…
A democracia pode ser usurpada pela partidocracia, uma gangrena do Estado (Caboara), e tal sistema enredar o regime, especialmente quando somos marcados pelo abuso de posição dominante dos representantes das principais multinacionais partidárias da Europa…
Se, com a vitória da AD, a partir de 1980, encerrámos o fatalismo do partido-sistema da I República, quando Soares e o PS sonhavam com a mexicanização do partido revolucionário institucional, clamando pela TINA (“there is no alternative”), mantivemos, contudo, o atavismo de certo rotativismo devorista da monarquia liberal…
E rotativismo, alimentado pelo patrimonialismo das forças vivas, pode levar a que as decadências dos crepúsculos durem uma ou duas décadas, dando a ilusão aos comandantes da alternância que mão serão coveiros do regime…
O PSD de Passos Coelho assume uma regeneração vinda de dentro de um dos partidos doentes, quando se libertou do cavaquismo sem Cavaco e do barrosismo sem Barroso e dos consequentes processos dos ausentes-presentes… Mas o novo discurso instaurado, se falhar pela falta de autenticidade, pode não propagar o estilo ao PS. Deste modo, apenas ficaremos condenados à democracia por razões geopolíticas, sofrendo os efeitos de a maioria dos factores de poder já não ser doméstica, ou intra-nacional…
O português comum não assume a utopia como sítio sem lugar e sem tempo. Prefere o Canto IX d’ “Os Lusíadas” ou uma casa tipo “maison”, na santa terrinha. Por isso, é um “sonhador activo” e está farto de “traduções em calão” de democracias exógenas…
Importa que a partidocracia compreenda que há um povo com fome de causas e uma pulsão para a solidariedade. Faltam é engenheiros de sonhos que nos mobilizem e assumam as nossas visões de paraíso bem terráqueas, da procura, no aqui e agora, da beatitude celeste, como Sérgio Buarque de Hollanda caracterizou o “português à solta”…
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Um imenso império colonial…. sem citar Mário Soares
Adoraria que Cabo Verde fizesse parte de uma república maior, em que também participassem o Brasil e a república dos portugueses que restam. Sonho que, um dia, com Angola, esse seja, mais um passo para a super-nação futura, a do velho triângulo estratégico do Atlântico Sul que el-rei D. Sebastião tentou concretizar sem adequada táctica e consequentes serviços secretos (não reparou que os huguenotes franceses e os anglicanos estavam por trás da facção marroquina que o derrotou em Alcácer-Quibir….). Por isso agradeço que Cabo Verde se tenha tornado independente, para parafrasear o presidente António José de Almeida em 1922, por ocasião do primeiro centenário do acto de D. Pedro IV!
De acrescentar que António José teve uma avaria no navio que o levava a atravessar o Atlântico e não conseguiu chegar ao Brasil a tempo. Estávamos num tempo daquelas crises financeiras que são os nossos normais anormais e só um desenrascado como era o ilustre republicano liberal conseguiu transformar essa vulnerabilidade numa potencialidade ainda citável…
Cabo Verde, um povo africano com cinco séculos de nação, ao tornar-se independente, livrou-se, pelo menos, de ter de aturar certa gerontocracia de algum capitaleirismo lusitano de ausentes-presentes. Há encruzilhadas da história onde os Ipirangas são necessários. Sobretudo quando o velho centro perde a lucidez de ter saudades de futuro.
A estrutura política dos portugueses europeus tem sido sucessivamente reinventada e refundada. O velho Portugal devia, aliás, ter mudado de nome em 1822, tal como em 1975 se encerrou o ciclo do último passo imperial, o da geração de Mouzinho e do imperialismo republicano que nos levou à Grande Guerra e, finalmente, à guerra colonial.
Somos herdeiros de todos os ciclos imperiais da nossa história. O primeiro, foi o marroquino, entre a conquista de Ceuta e o abandono de Mazagão. O segundo, foi o do Oriente que, simbolicamente, terminou em 18 de Dezembro de 1961, mas ainda permaneceu em Timor e Macau. O terceiro foi o do Brasil, até 1822. O quarto e último foi o africano, o desencadeado nos últimos anos do século XIX…
A chamada descolonização exemplar, ainda gerou uma foram anti-imperial de procura do além: a integração europeia, desencadeada a partir das memórias da emigração dos anos de 1960, na geração da mala de cartão. Só agora começamos a regressar à Lusitânia e à frustração dos Habsburgos. Mas não há 1640 no horizonte, porque a principal consequência do 1º de Dezembro foi a construção do Brasil!
Por outras palavras, só poderemos superar a frustração imperial pelo sonho do abraço armilar. Mas ainda faltam algumas décadas para inventariarmos as nossas memórias das várias sementes lançadas pelo Portugal Universal, decepando o neocolonialismo pretensamente anticolonialista que ainda nos amargura…
PS: O célebre cartaz de propaganda é da autoria do inspector superior colonial Henrique Galvão, o mais anti-salazarista de todos os anti-salazaristas, mas delineado quando ainda ele era salazarista, coisa que o deixou de ser quando teve a coragem de, na própria Assembleia Nacional, apresentar um relatório sobre o trabalho forçado que logo o jornal clandestino do PCP, o “Avante”, editou…
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Entre animais humanos e animais não-humanos, mesmo com forma dos primeiros…
Leio cuidadosamente o “dossier” do Expresso sobre a operação dita Mercúrio, mas não do cromo. Sou obrigado a concluir sobre o supérfluo da gravitas de uma comissão parlamentar de inquérito, agora em curso de discurso. Para mim, já está tudo, mas mesmo tudo, esclarecido. Basta conseguir ler as linhas e compreender as entrelinhas e não ter que as traduzir para parlamentarês. O que apenas servirá para confirmarmos como certas operações retóricas apenas servem para se medir a distância que vai entre aquilo que se proclama e aquilo que se pratica.
Por outras palavras, com tanto jogo de cintura matosinha e micaelense, a casa da democracia pode gastar-se pelo mau-uso. Pode juntar o pior que há numa investigação judiciária sobre relações jurídicas, as tais que não coincidem, nem podem coincidir, com a vida, e o pior das parangonas do jornalismo tablóide, o que, normalmente, gera expectativas frustradas e pode vir a prostituir-se pelo abuso…
Para acrescer à esquizofrenia, só faltava que um teste de um dos muitos exames de uma escola pública de direito virasse primeira página e pretexto para um duelo de concepções do mundo e da vida, entre o Professor Doutor Paulo Otero e a jovem doutoranda Isabel Moreira, com o primeiro no ouro do silêncio e a segunda na prata da palavra jugular. Não tomarei partido, porque isto da academia não é para partir. Porque, sem ser por acaso, foram, os dois, dos melhores e mais queridos alunos que tive.
Aliás, tomei conhecimento do teste num desses almoços de camaradagem académica, por acaso, momentos depois de o mesmo ter sido lançado nos claustros da escola. Dei-lhe a importância que ele, na verdade, merece, e até gargalhei imaginativamente, observando que, se fosse aluno testado, responderia ao dito como um dia fiz a um teste do meu saudoso professor de direitos reais, Orlando de Carvalho, isto é, demonstrando que, com os dados fornecidos, haveria uma impossibilidade lógica de resolução…
Porque, mesmo com o estímulo provocatório, à boa maneira do Paulo, as relações jurídicas são impossíveis de fecundação pelas concepções do mundo e da vida do jurista que finja que não é jurista. Até porque a personalidade jurídica já não depende do nascimento completo, com vida e figura humana, conforme a letra do Código de Seabra, quando se temiam fantasmagóricas emanações entre animais racionais e animais não-humanos…
Sobre a matéria de fundo, declaro que Paulo Otero é humanamente generoso e academicamente genial, não podendo ser condicionado pela adjectivação diabólica, até pela coragem que sempre demonstrou. E nisto, a Isabel Moreira parece seguir-lhe as pisadas, até no desassombro cívico dos combates que a mobilizam. Ambos são precisos. Para indisciplinarem este cinzentismo de um politicamente correcto que até nem deixa que surja uma terceira via que nos livre da tenaz do branco e do preto, a que nos afunila em crise de convicções.
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Valia mais sermos pigmeus, mas ascendendo à cabeça dos gigantes
Quem andou pelas festas de Sant Jordi, com uma rosa contra o dragão e a descobrir a origem das riscas blaugranas, teve que reforçar a mística liberal e a fraternidade peninsular. Foi uma bela jornada de trabalho, sobretudo na Biblioteca Arús, nessa terra de boa gente que é Barcelona, mas que me impedir ir à jantarada do Albergue…
Regresso e confirmo: só tipos de sete línguas e gatos de sete vidas é que se safam nesta encruzilhada. Para além do parlamentarês, do judicialês, do economês. do educacionalês, do medicalês, do engenheirialês e do padrecofilês, temos de levar marretadas frequentes do “paga primeiro, protesta depois”, em multas, taxas, impostos, côngruas e gorjas…É tudo uma questão de fluxo de tesouraria…
Com efeito, as parangonas lusitanas estão cheias de árvores queimadas, ramos de árvore, folhinhas, ramículos, borradelas de pássaro e outras questiúnculas das guerrazinhas de homenzinhos… Ate já se glosa um António Martins! Prefiro continuar pigmeu, mas subindo à cabeça do gigante adormecido
Tenho a impressão que o parlamento, mesmo sem maioria absoluta, começa a enredar-se em truques de regimentalismo de certa metalinguagem que o afasta das angústias e das esperanças do homem comum. Porque o óbvio demora sessões e sessões a passar pelo filtro retórico do parlamentarês…
Agora são os comboios, dentro de dias, os camionistas, para que todos andemos de papamóvel, mas não consta que o governo, em sinal de tolerância, esteja disposto a oferecer um preservativo em forma de filigrana, da autoria de Joana Vasconcelos, a Sua Santidade. A Câmara de Lisboa prefere manter, no alto do Eduardo VII o projecto da catedral de Santo Antoninho…
Novidades do “day after”, apenas a criação de altos tribunais em Santarém para a concorrência e a propriedade industrial, dentro da feira nacional de agricultura, a mudança do parlamento para o Porto, onde não há “lock out”, e a instalação da Liga de Futebol Profissional em Campo Maior…
Queríamos saber se Ele sabia. Mas toda a gente sabe que ele, quando é Ele, já não pode saber, embora soubesse o que toda a gente sabia. A teoria da conspiração sempre à procura de uma casca de banana que possa fazer parangona… Ele é quem É. Por enquanto, apenas…
Porque Vara, conforme o previsto, foi festival de retórica, típico dos registos contidos dos políticos de rabo pelado. Brincou ao gato e ao rato sobre a verdade e a mentira, apesar da metalinguagem de Pacheco, nunca quebrou o “não tenho ideia disso… pode perguntar-me cem vezes que eu digo sempre o mesmo”. Nada a acrescentar…
Nesta teatrocracia sem emoção nem a audição de Manela aqueceu as almas, porque, afinal, nem ela tinha alguma coisa para dizer. Só Vitalino tentou que ela desvendasse segredos de alcova no tempo do governo dos afonsinos. Estamos condenados ao afunilamento e mandam os que não se assumem como pigmeus que podem ascender à cabeça dos gigantes para verem mais além. Os que mandam são daquela espécie que é capaz de matar o pai, a mãe, os irmãos e os filhos, para obterem um naquito de poder e honrarias, na sua insaciável sede de protagonismo. Somos dominados por psicopatas sentenciadores que, como cadáveres adiados, vão emprenhando de ouvida e reproduzindo os ódios que lhes transmitem os fiéis e aduladores.
Enquanto persistir esta vaidade predadora dos eucaliptos semoventes, a democracia continuará enredada pelas teias da conspiração dos gerontes que pensam deter o monopólio da cultura política e do bom-senso, reproduzindo o esquemático do sebenteiro de uma banal engenharia de conceitos que apenas disfarça os sucessivos plágios de muitas modas que passam de moda. E o crime tem compensado…
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O neofeudalismo das companhias de economia mística que nos vão corroendo a democracia…
Hoje não há comissão parlamentar de inquérito, devido à greve dos funcionários de São Bento e ao medo da administração da entidade mostrar a verdade ao país. Mas ontem a democratíssima e representatívissima comissão permitiu-nos fazer uma viagem pelo neopombalismo das companhias de economia mística, essas entidades a que alguns dão o nome de empresas e por circulam sujeitos nomeados pelos favores e compadrios do clientelismo banco-burocrático.
Os tais que, feitos gestores, utilizam tais molduras como brinquedos com que vão gastando o dinheiro que não é deles, como almoçaradas de trabalhos, carros de alta cilindrada, antes de serem ou depois de serem membros da alta governança do estadão.
E assim vamos nacionalizando os prejuízos e privatizando os lucros das forças vivas que vão manipulando a vaidade de uma fauna daquele bloco centraleiro que pouco se importa com ganhos ou gastos. Basta-lhes um contratozinho onde acautelem indemnizações por despedimento, mesmo que seja por justa causa, recebendo ampla protecção da consultadoria e dos grandes escritórios da advocacia e das avenças, nessa federação de colegas que nos continua a pesar no lombo. E é em torno destas falsas luminárias que continua a gravitar certa comunicação social e certo comentarismo opinativo, dados à encomendação.
Só quando os interesses da oligarquia accionista, dos velhos e novos ricos, perceberem que correm risco é que esses escudos invisíveis dos favores poilitiqueiros e plutocráticos poderão começar a estilhaçar. Por enquanto ainda persistem os cânticos celestiais sobre o “rating” e a dívida, a ditadura da incompetência continuará a amargurar-nos, com estes bonzos instalados nos vários lemes destas grandes e pequenas governanças, entre o ministerialismo e o micro-autoritarismo sub-estatal.
O neofeudalismo patrimonialista que vai corroendo a legitimidade racional-normativa já não cumpre a ideia de Estado de Direito. Espero q ue antes de se agravarem os sinais de bancarrota tenhamos a coragem de demonstrar a existência de uma grandiosa estátua de calhaus com os pés fragmentados pela poeira dos pequenos interesses dos sucessivos incompetentes devoristas…
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29.4.10
Doze pedaços, para discurso de homem revoltado!
Passos foi a São Bento, Sócrates a Belém, todos reconheceram o óbvio da turbulência e celebraram o medo dos mercados. Chamaram-lhe ataque dos especuladores ao euro. Na prática, a teoria continua a ser outra e quem se lixa é sempre o mexilhão do povo. Os banqueiros bem avisaram, os políticos bem equivocaram, os burocratas bem executaram…
Os partidos lavam as mãos como Pilatos. E a culpa continua a morrer solteira. O malandro é o monstro capitalista e a consequente falta de regulação da geofinança. Até Louçã corre o risco de ser nomeado supremo inquisidor da futura ASAE da União Europeia, que o Constâncio já subiu, Guterres já voltou ao picareta falante e Freitas com Soares vão articulando, como sermão de ex-ministros de Salazar sobre a teoria da democracia….
Soares já elogia Passos Coelho, mas ainda não lhe chama Obama. Quase todos continuam a tapar o sol com a peneira do propagandismo… Não tarda que Ricardo Salgado se junte a Jota Berardo em missa pontifical.
Só nos safaremos deste encurtar da rédea ao “rating” da república, se tal também acontecer ao da monarquia espanhola. Para que os grandes da Europa desapertem os cordões à bolsa, assumindo que os PIGS fazem parte do mesmo clube…
Por cá, muitos burocratas e reformadores de burocratas continuam como os primitivos actuais que vivem do preenchimento dos formulários, entre livros de ponto e fichas de avaliação. Isto é, domina o paradigma construtivista, onde a generalidade e a abstracção confundem os nomes com as coisas nomeadas…
Burocrata é estilo Frei Tomás: olha para aquilo que ele diz e não para aquilo que ele faz… Agora até afixam as entrevistas do chefe da quintarola no átrio de entrada… com fotocópia a cores, debaixo da nova sinalética….
Burocrata é sapateiro de Braga: não há moralidade nem comem todos… Comem apenas os que foram da lista dele e que o apoiam entusiasticamente como grande educador dos que querem ser promovidos à custa do trabalho dos outros….
Porque nem todos os animais da mesma espécie podem ser coisas da mesma categoria. Quem nos unidimensionaliza não admite a justiça do mérito!
Só há igualdade de oportunidades se houver competição, aquela que permite dar a cada um o que lhe é devido (“suum cuique tribuere”), proibindo que não se lese o outro (“alterum non laedere”) e que a cultura dominante seja a do viver honestamente (“honeste vivere”)…
Se continuar a rotina que leva o crime a compensar, vai perpetuar-se o clientelismo, a engenharia da cunha e a subsidiocracia. E os donos do poder continuarão a chamar gestão democrática à mais desdentada das gerontocracias e ao mais arbitrário do despotismo de todos… mesmo que previamente tenham investidos em números dois do PSD em tempo de mandar PS, ou vice-versa.
Quando só a cobardia falar e o carreirismo for regra, apenas se confirmará como as instituições perderam a espinha da ideia de obra, não gerando a comunidade das coisas que se amam e transformando as normas naquilo que os principais dizem ao sabor dos ventos, estando dispensados das que impõem aos outros.
Ditadura, nunca mais! Deus quer, o homem sonha, a obra nasce. Quem diz isto é maluco e deve ser processado…