Mar 23

Farpas

Um desses analistas meus amigos que, conforme Cavaco, não têm isenção, acaba de me segredar: grande jogada de mestre, a de Sócrates, hoje quem vai ser chumbado é o Teixeira dos Santos, ele escapou com o rabo à seringa. Discordo: apenas quis sacudir a água do capote e passar por entre as pingas de chuva em dia de sol.

A Assembleia da República acaba por ser deposta pelos telejornais. Só às oito da noite é que vão ser emitidas declarações do actual situacionismo e do actual oposicionismo. No palco de São Bento são só jogos florais de aquecimento. Depois, os monólogos. Pena que não o seja o de Mestre Gil, o do Vaqueiro.

Teixeira dos Santos já é só verbos no pretérito. Nem sequer usa o condicional…a não ser para dar palpites sobre o que deveria ser a oposição.

José Sócrates acabou de clarificar o respectivo conceito de diálogo. Não quis ouvir a oposição na casa da democracia. Razão de Estado é assim. Só de cima para baixo.

Instituição europeia pede informação adicional sobre o formal défice de 2010, bolsa em queda, juros em alta, Alegre regressa, Sócrates em reunião com Gama, ou da criatura com o criador. Cavaco senta-se no sofá, ou na bancada, e não vai fazer “zapping” multilateral, dentro de meia hora. Logo a seguir, o jogo vai ser bilateral, sem transmissão em directo, nem túnel.

 

Mar 23

O jogo do PEC

O jogo do PEC parece aqueles da Taça da Liga, onde se mandam as reservas, os juniores e os juvenis, apesar de não serem sub-20. Estão quase todos a nível dos blogues “spin”…

Mar 23

Coligação negativa

Foi através de uma coligação negativa que a liberdade derrubou Napoleão. Tal como o próprio Hitler, numa grande coligação que foi de Estaline a Churchill. O paralelismo com imagens de guerra na política doméstica costuma dar raia.

Mar 23

António Barreto

Ouvi António Barreto. Este sujeito não devia estar retirado da política activa. Tem experiência, saber e provas dadas que bem falta nos fazem. Reitero a mensagem que nos legou: sabermos a verdade e refazermos um acordo entre partidos de boa vontade contra o marialvismo da linguagem de guerra!

Mar 20

O sobressalto líbio

Enquanto, o sobressalto líbio nos faz repensar a Europa, cá no quintal, apenas guerras de Alecrim e Manjerona, análises macro-económicas e quase total ausência de política, como se a nacional pudesse abstrair-se da internacional e como se esta se reduzisse ao FMI. Os dados começam a ser lançados para o “New Deal” e continuam muitos a julgar que basta sermos caixeiros à procura da tenda dos milagres.  Alteremos o paradigma: nem Fukuyama, nem Huntington. Basta um olhar europeu: nem optimismo universalista, nem pessimismo relativista. Basta voar em armilar. A Europa não pode ser comandada por delegados de propaganda da banha da cobra e por caixeiros viajantes ao serviço do poder banco-burocrático. A Europa só pode ser política se tiver uma política internacional e não apenas o calculismo dos politiqueiros que não querem arriscar alianças civilizacionais Em Portugal, há apenas tradução de telegramas e resportagens de guerra a partir do sofá. Não há editoriais. Nem um único esboço de opinião vinda de movimentos da sociedade civil. Estamos entalados entre o discurso de Jerónimo sobre os belicistas e a sociedade civil que foi à Reitoria da Universidade de Lisboa bater palmas ao tirano. Não tenho dúvidas: estou com a acção militar da coligação internacional, legitimada pela ONU. Esta é a minha Europa. Obrigado, França e Reino Unido. A justiça deve ter força. Há pontos de não-regresso. Como não houve em Berlim (1953), Budapeste (1956), Praga (1968), Polónia (1981), ou Serajevo (1992).  Já chega de cedências à chamada história dos vencedores, onde tem razão quem vence, mesmo que o soberano seja aquele que decide em estado de excepção, como subscrevem os schmittianos que nos ocuparam as entranhas da razão de Estado, não deixando que o Estado volte a ser semente de Estado-razão. Continuo em resistência, em nome da esperança dos desesperados.

Mar 20

Líbia. Europa. Política internacional.

Enquanto, o sobressalto líbio nos faz repensar a Europa, cá no quintal, apenas guerras de Alecrim e Manjerona, análises macro-económicas e quase total ausência de política, como se a nacional pudesse abstrair-se da internacional e como se esta se reduzisse ao FMI. Os dados começam a ser lançados para o “New Deal” e continuam muitos a julgar que basta sermos caixeiros à procura da tenda dos milagres.  Alteremos o paradigma: nem Fukuyama, nem Huntington. Basta um olhar europeu: nem optimismo universalista, nem pessimismo relativista. Basta voar em armilar. A Europa não pode ser comandada por delegados de propaganda da banha da cobra e por caixeiros viajantes ao serviço do poder banco-burocrático. A Europa só pode ser política se tiver uma política internacional e não apenas o calculismo dos politiqueiros que não querem arriscar alianças civilizacionais Em Portugal, há apenas tradução de telegramas e rerportagens de guerra a partir do sofá. Não há editoriais. Nem um único esboço de opinião vinda de movimentos da sociedade civil. Estamos entalados entre o discurso de Jerónimo sobre os belicistas e a sociedade civil que foi à Reitoria da Universidade de Lisboa bater palmas ao tirano. Não tenho dúvidas: estou com a acção militar da coligação internacional, legitimada pela ONU. Esta é a minha Europa. Obrigado, França e Reino Unido. A justiça deve ter força. Há pontos de não-regresso. Como não houve em Berlim (1953), Budapeste (1956), Praga (1968), Polónia (1981), ou Serajevo (1992).  Já chega de cedências à chamada história dos vencedores, onde tem razão quem vence, mesmo que o soberano seja aquele que decide em estado de excepção, como subscrevem os schmittianos que nos ocuparam as entranhas da razão de Estado, não deixando que o Estado volte a ser semente de Estado-razão. Continuo em resistência, em nome da esperança dos desesperados.

Mar 15

Imagem, sondagem, sacanagem.

São Bento ainda guarda memória daquele presidente do conselho que raramente reunia os ministros todos à mesa. Ele bem dizia que, para haver conselho, bastavam dois: ele, sentadinho no sofá de coiro, e o ajudante, ao lado. Que o plenário apenas ratifica o que chefe manda. Perante a crise da velha democracia, marcada pela relação entre o indivíduo-cidadão e o velho Estado, através dos antigos partidos, passámos para um novo mundo. Onde surgem mecanismos dotados de mais complexidade e organizações não visíveis, onde os velhos actores se assumem com a antiga lábia dos caixeiros viajantes… No palco da política, não surgem os credores que comandam os marcados, os que fixam os preços dos bens alimentares, os que facturam com guerras, ou os indefiníveis controladores da produção e distribuição da energia. Nem sequer nos deixam detectar os novos sinais do tempo, depois da explosão inorgânica das manifestações ditas dos indignados. Os nossos donos do poder passado preferem continuar a retórica da velha opinião canalizada dos grandes representantes, sem dar voz a quem ainda não tem voz. Vivemos em encruzilhada e interregno, nesta anarquia ordenada onde manda quem consegue ser mais organizado, numa desorganização onde até se acirram as velhas teorias da conspiração dos ricos que paguem a crise, dos criptocomunistas, dos maçons ou das seitas fundamentalistas ou beatas, para gáudio do propagandismo e benefício das agências de comunicação. Quando se denunciaram sinais de ligação entre a corrupção e a partidocracia, os comandantes desta já perceberam que não podem continuar a alimentar certa teia que os assaltou. Garanto que, apesar de tudo, melhoraram, pelo menos, alguns deles. E na própria Europa, há mudanças boas que vieram de prévias mudanças no interior das partidocracias. Sou dos que ainda joga pela mudança interna no actual regime. Dá mais confiança do que a incerteza das revoluções, onde os pais fundadores são sempre substituídos no dia seguinte dos PRECS…Não sou revolucionário nem tenho alma de revolucionário ou de contra-revolucionário, que vem a dar no mesmo. As novas ou velhas ideologias parecem não aguentar este impacto das circunstâncias, onde não faltam o aleatório de um tsunami ou o erro de construção de uma central nuclear. E soa a ridículo pensar que será o velho Estado, herdado de Salazar e Vasco Gonçalves que nos vai ajudar a navegar na tempestade. Os partidos a que chegámos, como plataformas giratórias da política doméstica e da política internacional, ainda são fundamentais se assumirem com humildade o pequeno papel de mobilização social e comunicação política que ainda lhes cabe, mas desde que não exagerem na política de imagem, sondagem e sacanagem com que vão abusando do poder que resta. Somos gota de água num oceano europeu e ocidental de partidocracia multinacional. Posso discordar, mas tenho de me submeter para sobreviver. Só a partir dos partidos, mas não só, podemos lutar para viver. “Alterum non laedere”, “suum cuique tribuere”, “honeste vivere”, isto é, justiça, justiça de contratos no horizontal da confiança pública, e, a cada um segundo as suas necessidades, desde que antes cada um dê segundo as suas possibilidades, isto é, justiça dstributiva, mas depois de prévia justiça social, como diriam Aristóteles, São Tomás de Aquino e Marx, quase com as mesmas palavras da república romana. Só depois é que as ideologias e os programas de política pública estabelecem modelos de política prática e, sobretudo, a norma oculta de qualquer regime: como aferir o critério da igualdade, igualizando o que é desigual, tanto pela natureza como pela cultura, isto é, por aquilo que o homem acrescentou à natureza, desde a família à economia e, sobretudo, com a política.

Mar 12

Manifestação dos indignados

Já não chega a mera invocação da razão de Estado, sem acompanhamento parlamentar e com ostensivo desprezo da presidência. Os patrióticos fins não podem justificar todos os meios. Correm o risco de ficar no inferno das boas intenções. Por enquanto, apenas uma federação de minorias em coligação negativa, à procura da liberdade. Amanhã, poderá revolta. O poder cria-se. É sempre a união do órgão e da função. Não é esse órgão sem função, o da governação em pilotagem automática, nem essa função sem órgão, o da manifestação, ainda sem voz tribunícia. Os futuros protagonistas serão os políticos da democracia representativa que navegarem as circunstâncias através da palavra que se cumpra em confiança pública, contra o império sem rosto que nos oprime. A governação não existe como abstracção que nem é constitucionalmente prevista. Não passa de entidade representativa, a que está presente em vez dos outros que somos nós. Por enquanto não são deuses nem tiranos. São pastores, mas carneiros como todos os outros carneiros do rebanho dos cidadãos, como diria Platão. Há manifestações que constituem uma inorgânica federacao de minorias em procura de liberdade… Quem estica a corda em demasia, pode chegar a casa e reparar que ela quebrou pelo lado mais fraco. Tudo depende da qualidade da democracia. Se esta ainda resistir.

Mar 07

A falta que nos faz o “discurso do rei”

O terceiro presidente civil da história portuguesa, directamente eleito por sufrágio universal, vai tomar posse no primeiro dia de uma quaresma laica, sem que se vislumbrem sinais de libertação do cativeiro, com a consequente regeneração. Aliás, as boas intenções do teatro de Estado não permitem qualquer lume da profecia, à maneira de um “discurso do rei” que mobilize simbolicamente as energias da nossa comunidade de significações partilhadas. E não basta nova aula de análise da conjuntura económica, face à volatibilidade dos mercados e da geopolítica, dado que avariou o velho GPS do desenvolvimentismo securitário e parece faltar sabedoria para a velha arte de marear, pouco dada a soberanias condicionadas pela geofinança. Continuamos apenas à bolina, sempre à vista de costa. E o nosso modelo de presidência é uma quase inexistência no jogo da hierarquia das potências, na pouco oleada balança da Europa. Perante a inelasticidade de uma aritmética parlamentar, entre a partidocracia e o presidencialismo de primeiro-ministro, ao presidente só resta  uma reserva de afinamento estratégico, com uma adequada oferta de nova geometria social, através de uma grande coligação de forças morais (igrejas, maçonarias, universidades e homens de cultura) e forças sociais (sindicatos e associações empresariais). Esperemos que escolha o pão ázimo da criatividade típica dos indisciplinadores colectivos e da respectiva engenharia de sonhos. Foi a fé que abriu brechas no mar vermelho e nos deu a terra prometida.

Mar 06

Um interregno desertificado, onde a caravana não passa

Entre profetas da desgraça, os que pensam que isto é 1926 ou 1910, e o nacional-porreirismo, assim se vai degradando o situacionismo. Apesar de estarmos à beira do abismo, não conseguimos as tradicionais mobilizações que nos deram as legitimidades pós-revolucionárias de um rotativismo mais ou menos devorista que nos dava facturações…. Há um longo interregno de decadência, onde os excessos de acomodação da cobardia geram o voluntarismo do principado governativo, apesar de alguns ainda invocarem um presidente que não quer nem pode sidonizar o regime… O velho e novo patronato não aposta no liberalismo a retalho, em época de potencial descida do FMI ou de outro fundo europeu. Não há uma vaga de fundo de apoio à alternativa na opinião independente. E nem sequer é suficientemente democrata-cristão para convencer o altar. Muito menos os corporativismos à solta. Um choque de coragem, precisa-se! Os grandes partidos continuam simples máquinas de conquista e manutenção do poder. Não sabem, ou não conseguem, exercer as funções de mobilização política e de comunicação política. E estão sitiados pelo indiferentismo e pelos processos de compra de poder, ou corrupção. Confundem a mobilização com as campanhas eleitorais e a comunicação com a propaganda. A presente decadência, já patente, pode levar a uma crise de regime. Isto é, a uma má relação da sociedade com um determinado sistema de valores e que lhe dava legitimidade. Por outras palavras, mesmo sem magnicídios, podemos caminhar para um republiquicídio. Podem não suceder dramatismos de opereta, das bancarrotas aos golpes de Estado, incluindo os provocados por uma explosão social, sendo bem mais previsível a tradicional antecipação das derrotas, onde os detentores do poder máximo invoquem o tabu nunca desfeito, o pântano nunca esclarecido, ou uma ascensão ao Olimpo supra-estadual, para não terem que aturar os bárbaros. O nosso deserto continua a ser a sociedade civil e a opinião livre. Até a revolução de 1974 foi hierárquica, com majores arvorados em generais para que a pirâmide estadual continuasse, em movimento de revolução “vinda de cima para baixo”. Até o processo revolucionário que esteve em curso foi uma espécie de subversão a partir do aparelho de poder, como o descreveu Sottomayor Cardia…