O patriotismo oficioso, discursalmente ministerialista, começa a cheirar a balofo

O patriotismo oficioso, discursalmente ministerialista, começa a cheirar a balofo, reumaticamente retórico. Mesmo que referendado por ex-ministros vitalícios. Chateiam.”
Uma associação de sargentos ou oficiais quando se passeia no Terreiro do Paço com uns cartazes faz uma manifestação de pressão. Um grupo de ex-chefes da tropa ou das polícias, quando se reúne com ministro numa refeição com televisões a transmitir, faz uma manifestação de massas de elites e também faz pressão. Ambas causam impressão. Isto é, brincam com o fogo.”

Antigamente havia comissários e altos comissários, agora vamos ter supercomissários, esses pilares da ponte do tédio que vai daqui para a troika. Não está na constituição, mas também não é inconstitucional. A outra margem ainda paga portagem, apesar da ponte já estar paga.”

Os nossos economistas já não sabem nada de economia de guerra. Os chineses sabem. Os angolanos também. Um dia de guerra custa mais que não sei quantos dias de greve geral. Elogiar Pequim e Luanda é não sabermos nada de contabilidade humana, sobretudo para com os sofreram o mal absoluto.”

Odeio ser tratado como colónia, protectorado ou mera gleba em servidão. Começo a sentir vontade de libertação nacional.”

Os tincos tancos dos conselhos de notáveis são cada vez mais exíguos com seus exangues que procriam discursos enlatados há décadas. Benza-os a divindade da espuma!”

O direito tanto não é lei que até há leis injustas e como tal podem ser declaradas pelos tribunais. Aliás, até o direito posto não é apenas o decretado pelo aparelho de poder do Estado, e já nem sequer é o nosso, dado que, pela constituição, ele se abriu ao que dantes se chamava direito natural. É assim há séculos, entre os civilizados. Até nem sequer é lei o que o príncipe diz e este está sujeito à própria lei que faz. Ministro é minis, isto é, menos que magistrado, de magis.”

A lei deve obediência ao direito. Pena que antigos ministros da democracia ainda julguem que o Estado de Direito é um Estado de Legalidade e que esta se confunda com o decretino. A nossa ditadura era assim. Temo que cheguemos ao “tertium genus” da democratura.”Este nosso ministro é de uma cartesiana clareza. Ficamos iluminados com esta liderança de divinal criacionismo. Yes, minister!”

Infelizmente, sinto-me colonizado.”

Eu gosto que o delegado do FMI em Lisboa diga bem do modelo Gaspar. Que o Oli Rehn nos elogie. Que a China e Omã comprem o que pusemos em leilão. Que Angola queira investir. Etc. Sem qualquer ironia. Pode ser que até ao fim do ano me devolvam parte da extorsão que me fizeram pela via fiscal.”

“Quanto mais além, mais além ainda” (Paul Claudel, “O Livro de Cristóvão Colombo”)”

 

Somos o frio mais quente da Europa, diz um meteorologista. Até somos um protectorado que quer ser bom aluno e continuamos a navegar como um jangada de pedra, agarrados aos penedos e à vista de costa.”

Um problema dos outros a nosso respeito e a nosso respeito. Até me lembra que num dos grandes casinos de Macau, os chinocas, em nossa homenagem, queriam pôr uma cena em tridimensional, com as aparições de Fátima. Lá lhes explicaram que não, que valia mais o Eusébio e a Amália. Ficou o bacalhau mais o pastel de nata, na cozinha. Embora, na altura, estivesse na moda a Água do Luso que, em Pequim, diziam ser afrodisíaca.”

Boa ideia. Jorge da Silva Paulo. Nem mais um dia organizado e obrigatório, de todas as instituições, incluindo o Exército, as Universidades, as Regiões, a Força Aérea, os Tribunais, as Autarquias, e a Marinha. Claro que era absurdo meter tudo no dez de Junho. Mas ficava mais barato. Até para evitar os discursos do costume.”

Há uma enorme distância entre o conservador do que está e o conservador do que deve ser. O primeiro é situacionista. O segundo é regenerador. Um está. O outro quer continuar a ser. Até para nascer de novo.”

 

Quem despacha nove século de história com um comunicado do Conselho de Ministros apenas merece que se mantenha a lucidez de parecermos ingénuos. Nunca o sermos parvos. Como diria Fernando Amado, nada como um pigmeu na cabeça de um gigante.”

A poesia das leis fundamentais sempre foi mais verdadeira do que a pretensa história, no sentido de mais filosófica (estou apenas glosando Aristóteles).”

Como sou mesmo tradicionalista, fiel às leis fundamentais, se, alguma vez pudesse ser eleito procurador do povo em Cortes Gerais, gostaria de eleger um rei, conforme a constituição política expressa por João das Regras, nas de Coimbra de 1385, depois de serem restauradas as Actas das Cortes de Lamego, conforme as Cortes da Restauração, de 1641. Podíamos e devíamos manter o nome de República, mesmo…

Um bom tradicionalista português é o exacto contrário de um reaccionário. Tem saudades republicaníssimas do consensualismo pré-absolutista, o da fibra multissecular que nos deu resistência e sabe perfeitamente distinguir os nomes das coisas nomeadas. Detesta todas as tiranias, desde as do despotismo ministerial com rei, às da república com ditadura, incluindo a daquele chefe de governo que um dia disse que gostava de ser primeiro-ministro de um rei absoluto. Um tradicionalista que quer conservar o que deve ser vive menos na utopia do passado e mais nas coisas boas do presente que nos podem regenerar.”

Sobre os feriados, invoca-se a concordata, mas nada dizem sobre aquele contrato de gerações, de que fizemos pátria. Este compromisso, dizem eles, os que se julgam porta da voz, pode ser revogado por uma conferência de imprensa, a três. Dois são ajudantes de sacristão.”

Álvaro faz comunicação ao país sobre o fim das memórias oficiais de João Pinto Ribeiro e Machado Santos. O escudo nacional em fundo nem se mexeu com esta comunicação do estadão, o tal que nem deve saber que as doze estrelas estavam no signo do quinto império do Padre António Vieira.”

Há coisas que nem é preciso desmentir. Bastaria pegar no mesmo telemóvel com que me questionaram ainda uma semana antes para cumprirem aquilo que poderia ser confirmado ou desmentido. Não pode um tipo escrever publicamente um artiguinho sobre “A corrupção como problema moral” num periódico intitulado “Revista da Maçonaria”, de cujo conselho editorial sou publicamente membro.”

Já uma vez me fizeram ministro, da defesa e tudo, num governo anticavaquista de 1985, tal como agora me transformaram em caçador, eu que nem tiros sei dar, em coisas tão secretas que nem eu próprio sei. Não pode um tipo escrever sobre tal venatória, como o faz há décadas, que logo o fazem ascender a comichões que causam crispações. Valia mais testarem a fonte e não darem guita aos gambozinos. Vou continuar a ler a “Arte de Furtar”, no capítulo das manobras de diversão.”

Abaixo o terrorismo. Incluindo o terrorismo de Estado, sobretudo quando se disfarça de terrorismo da razão. Com música celestial e literatura de justificação.”

Os pretensos brandos costumes fizeram-nos dos mais magnicidas do mundo. E as vontades suicidas continuam a empolgar os sectários. Já chega.”

 

Só há luz quando há trevas. Hoje, basta pensar em muitos mártires, de D. Carlos a Humberto Delgado, de D. Luís Filipe a Gomes Freire, de Machado Santos a Sidónio, de J. Carlos da Maia a Machado Santos. 1817, 1908, 1918, 1921, 1965. Os assassinos são sempre os mesmos. A começar pelos que não os respeitam.”

Como hoje se recorda amargamente o assassinato do rei, nada melhor do que não desejar o republiquicídio. O rei foi morto pelos monárquicos, bem antes do regicídio. Para, depois, os falsos republicanos matarem a república por morte lenta. Como os democratas de hoje, impedindo que a democracia funcione com o próprio povo que dizem servir.”

Não estou apelar a um golpe de Estado que é tecnicamente impossível. Nem a um tumulto. Basta um acordo de regime para um novo contrato social. Isto é, um presidente, os principais partidos, sindicatos e forças morais, com os grandes e tradicionais corpos do Estado, os armados, os universitários, os mestres-escolas e os magistrados, com os funcionários a dignificar e os empresários a ajudar.”

Já tivemos Estado velho, Estado novo, Estado a que chegámos e Estado exíguo. O Estado não passa de uma forma substantivada do verbo estar. Não é. Mesmo quando somos cada vez mais um Estado falhado. Quando isto acontece, só há uma solução: acabar com a subversão vinda do Estado-aparelho de poder e chamarmos o Estado-comunidade. Isto é, pormos o principado ao serviço da república. Se ainda houver povo.”

Consta que o governo já encarregou uma agência de comunicação de emitir versões em inglês e alemão da cerimónia de abertura do ano judicial, a ser remetida a vários ministérios das finanças, para assim demonstrarmos a nossa capacidade reformista. Em anexo, as reacções do nosso presidente sobre os 1 300 euros de reforma. Ou de como o país dos compadres e das comadres padece de grandeza de tornozelo torcido.”

Ontem foi o principal jornal da City. Hoje, o equivalente alemão. Vozes de certos donos do poder da geofinança. Expressam os grupos de pressão que se manifestaram em Davos que nos querem protectorado a longo prazo. Não sabem o que é uma pátria, muito menos o 1 de Dezembro e o 5 de Outubro. Se formos em tais análises do fiado, a longo prazo, estaremos comunitariamente mortos no curto prazo, mesmo que tratem alguns dos nossos ministros como exóticos bons alunos, com direito a palmas e a beijocas.

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