Mais logo, fui desafiado a dissertar sobre cidadania europeia, para quem quer ser cidadão europeu num qualquer cantinho de Portugal. Apenas vou comparar o estado a que chegámos na “republica” europeia com a velha “polis” grega, dizendo que a maioria esmagadora dos europeus não tem plenitude de participação, dado que, na prática, a teoria é outra. Vigora o “apartheid” social, onde só há democracia para alguns, e domina uma espécie de fundamentalismo, onde a oligarquia que gere o super-estado, os da geofinança, da eurocracia e das multinacionais partidárias controleiras, lançam no ostracismo todos os que apenas exigem uma Europa como democracia de muitas democracias, onde não vigore a hierarquia das potências, com povos secundários em regime do protectorado dos bons alunos.
Temos tido uma democracia que exercita os princípios da “polis” grega, mas em termos de sufrágio universal, e de pós-secularismo. Demorou vinte e cinco séculos a desabrochar, desde as conquistas dos direitos do homem como indivíduo, com o estoicismo e o cristianismo, até ao presente sufrágio universal, bem como na longa libertação da política face à teologia, que queria ser ciência arquitectónica. Seria estúpido regredirmos no berço, quando a mesma democracia, com a justiça de sermos iguais, pelo tratamento desigual do desigual, começa a tornar-se num valor universal, onde só pela diferença pode atingir-se o armilar. Urge retomar a Europa como “la nation des nations” (Montesquieu), a caminho da “supernação futura” (Fernando Pessoa).
Presidente Cavaco está convencido que o clima de paz social poderá não manter-se no futuro se os diferentes parceiros não estiverem empenhados em cumprir aquilo a que se comprometeram quando assinaram o chamado acordo de concertação social. Estou a ler, em técnica de espelho, as declarações do supremo magistrado da nação.
Na escola António Gedeão, para discutir cidadania europeia. Com os jovens alunos, definindo a Europa com a bela harmonia da música. Parabéns aos alunos, pais e professores.
Trouxe na lapela, um dos primordiais símbolos da liberdade europeia. O miosótis, de 1934. Serviu para identificar os resistentes ao totalitarismo nazi, de maneira que os nazis o não percebessem.
Foram umas horitas de honrosa participação nas actividades de extensão da escola António Gedeão, em Odivelas, com o meu colega João Ferrão. É bom sentir-me professor com esta mobilização de civismo, sentido de escola e cultura. Bela actuação da Sociedade Musical Odivelense, quase com um século e meio. Com este empreendedorismo comunitário temos futuro:
Eu sei que a Humanidade é mais gente do que eu,
sei que o Mundo é maior do que o bairro onde habito,
que o respirar de um só, mesmo que seja o meu,
não pesa num total que tende para infinito.
Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida
Que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.
(Gedeão)
Para acabar o dia, com o símbolo que tentei cumprir.
“Le piège de la haine, c’est qu’elle nous enlace trop étroitement à l’adversaire”
Sempre o cidadão contra os poderes. Alain, que morreu no ano em que eu nasci
“Penser c’est dire non.” (Alain)
Celui-là habitera mieux qui, faute d’eau, séche dans le désert,
en rêvant d’un puits qu’il connaît,
dont il entend dans son délire grincer la poulie et craquer la corde,
que celui-là qui, de ne point ressentir la soif,
ignore simplement qu’il est des puits tendres, vers où conduisent les étoiles.
Antoine de Saint-Exupéry (Citadelle CLXXXVII)