Enquanto os grandes da partidocracia tentam chegar a acordo quanto à extensão dos níveis de ocupação do aparelho de Estado, na sequência de uma vitória eleitoral, definindo a face visível do “spoil system”, mas sem nada dizerem quanto aos inevitáveis efeitos colaterais e submarinos dessa partilha de despojos, reparo que as notícias do tempo que passa são rotineiros ataques pistoleiros a agentes das forças de segurança e essa prova máxima de prazer na cidadania, chamada entrega da declaração do imposto sobre o rendimento. Porque é neste momento que milhões de homens não privilegiados pelo sistema neofeudal vigente se sentem traídos pela injustiça sistémica, percebem o que significa a União Europeia de Durão Barroso. Sinto como eles, sem me sentir anarca revoltado ou revolucionário frustrado. Não sei se, dentro de dias, não emergirá uma vigorosa campanha contra o “spoil system” e os “jobs for the boys”, mecenada por banqueiras sociedades discretas que, em nome da sociedade civil, poderão organizar um grande seminário internacional sobre a transparência e a globalização, para o qual também poderiam ser convidados Silvio Berlusconi, os filhos de François Mitterrand e Kofi Annan, bem como o presidente angolano José Eduardo dos Santos. Julgo que, caso não houvesse tantos bailados positivistas por parte dos sindicatos dos magistrados nem os intervencionismos mediáticos de alguns dees, talvez tivéssemos um ambiente propício para o lançamento de uma pequena operação “mãos limpas”. Mas desde que a mesma não fosse encabeçada pelos ressabiados magistrados vindos da extrema-esquerda, e que quase fazem da profissão uma espécie de sublimação do revolucionarismo frustrado, ou acolitada pelos ex-membros partidocráticos do conselho de controlo das magistraturas.
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