A manhã se vai levantando fria, nítida e azul, com a violência desta luminosidade despontando por entre os sinais da invernia que regressa. Acordo, não apetece largar o calor daquele aconchego que me dá o plural de uma esperança viva. Acordo para mais um dia, para mais uma semana, onde tenho de transformar em aulas o pensamento pensado e preparado. Recordo. A música gregoriana, a mística em memória de Teresa de Lisieux, as palavras do malogrado Padre Daniel Faria e, como fundo, a memória de outras plurisseculares vozes que à Sé vieram à procura do eterno. Sinto a metafísica das colunas de pedra e a abóbada misteriosa, onde sempre se acolheram os homens que procuram o mais além. Recordo. A música, a voz humana em sinfonia, a noite inteira do mundo que temos de peregrinar. Vivo Novembro. A atmosfera límpida e encontro muita outra gente que procura. Confesso. Que decidi participar nesse evento que trouxe um pouco de religião à cidade, não como crente da liturgia oficial e eclesiástica, que o deixei de ser; não como agnóstico, que nunca fui nem serei; mas como alguém que, sobre estas matérias, só sabe que nada sabe. Mas que respeita o mistério da procura do eterno, mesmo para aqueles que, como eu, apenas acreditam no humano acreditar. Ficaram dentro de mim as rosas vermelhas de Lisieux, os olhos cristalinos da irmã Teresa e esta pesquisa de metafísica sem homilias, missas, procissões, guerras santas de conversão, sacristias e beatérios. Apenas a viagem da palavra à procura de sentido, desse máximo de razão a que muitos chamam fé. Do que procuro, mas não acho. Saúdo esses organizadores da terapia de choque manifestativa do transcendente que ousaram reocupar uma cidade que também é deles, porque é nossa. A “polis” precisa de reacender os seus lugares de culto, para que fora dela não fique um único Deus (Pessoa dixit), incluindo esse pedaço divino a que milhões de portugueses entregam o seu sentido de vida.
Nov
14