Sinto que há inúmeras semelhanças entre o aqui e agora e as vésperas do 28 de Maio. Não por causa da tropa e dos golpes de Estado à procura de autor, mas porque o sistema partidário continua enredado entre bonzos, endireitas e canhotos, mas com o permanecente imobilismo sistémico, de partidos de Estado num Estado de Partidos, com uma classe média entalada, entre a bigorna das forças vivas e o martelo da explosão social. As forças vivas, marcadas pelo poder banco-burocrático, continuam à procura de feitores de ricos. Os aparelhos de Estado, enredados pela ditadura da incompetência, vivem dos restos da tensão entre o partido dos fidalgos da partidocracia e o partido dos tecnocratas, com o partido dos becas à espreita e o partido da tropa já sem balas. Poucos reparam que nunca poderia haver 28 de Maio, 5 de Outubro ou 25 de Abril. A maioria dos factores de poder já não são nacionais e falta o messianismo da pátria em perigo. Descansem, pois, partidocratas, burocratas e patrões. A presente decadência tem todas as condições para manter o situacionismo por mais largos anos, sem qualquer explosão social. Entre fantasmas de direita e preconceitos de esquerda, lá iremos sem cantar nem rir, porque a maioria dos meus concidadãos, apesar de ter a bala do voto, sabe que apenas a pode meter naquelas espingardas onde o tiro sai pela culatra. Porque, entre chefe do situacionismo e os oposicionistas feitos à respectiva imagem e semelhança, venha o Diabo e escolha. Porque não vale a pena continuarmos a escolher o “do mal, o menos”. vale mais dizermos, com toda a frontaldade, que não nos revemos nestas alternâncias que ameaçam transformar a democracia numa democratura.