25 de Abril, sempre, contra os escribas dos sucessivos “Anais da Revolução Nacional”

Os regimes, em Portugal, caem de podre porque, muitas vezes, ultrapassam todos os prazos de validade que lhe garantiam autenticidade. Só que a apatia e o indiferentismo gerados pelas manobras da elite no poder, lançam o colectivo numa inércia cobarde, inversamente proporcional ao activismo dos oposicionistas, cujo vanguardismo, marginal face à opinião pública, resulta, precisamente, da frustração de não se sentirem, entre ela, como peixe na água.   Prefiro notar nos comemorativismos pós-revolucionários, nestes trinta anos de esquerda contra a direita, com programas de esquerda geridos por temperamentos de direita e vice-versa, onde a esquerda faz de direita e a direita diz que não é de direita, à boa maneira dos cristãos novos com medo da Inquisição. Percebi que, por cá, o normal é haver destes anormais, porque os homens livres, se quiserem ser coerentes, isto é, viverem como pensam, estão condenados ao exílio interno. Os donos do poder, com a sua normal anormalidade, costumam ostracizar e demonizar os doidinhos que não se adaptam ao molde do controlo social que os vai beneficiando. Nem reparamos que os novos contratadores do Estado, os descendentes dos defuntos devoristas, sabem que não há hipótese de os setembristas desembarcarem no Terreiro do Paço e que os patuleias estão balcanizados em futebolítica. Continua em vigor o estadão da Convenção do Gramido que nos cabralizou a todos. E os neocabralistas tanto deitam os foguetes como logo apanham as canas. São eles que já emitem as leis que nos regem e de que eles se dispensam, no “outsourcing” do “off shore”, coisas que, nos respectivos pareceres, confirmam como total e escorreitamente lícitas, embora não citem Cícero, o tal que dizia que nem tudo o que é lícito é honesto. Acontece que os nossos neodevoristas, porque têm também o monopólio da palavra que decreta qual o conteúdo do discurso dominante, até conseguem fabricar a chamadamoral social dos ditos bons costumes, dos quais se assumem como homens bons. Por mim, apenas os rejeito. E fico à espera da revolução de Setembro e da eventual patuleia democrática que os ponha no olho da rua, sem efusão de sangue. Seguindo o conselho cavaquista, não me resigno. Mas lixo-me. Desliguei a televisão quando nos reduziram ao nível do Ferreira Torres e dos apitos de Marco de Canavezes…

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