Set 08

A democracia não é o mesmo do que povo

Aqui verdadeiramente se continua a sentir que a democracia não é o mesmo do que povo, mas mera entidade que o pretende representar, através de um sistema de canalização classista, de marca partidocrática. Mas também as chamadas ditaduras institucionais, que foram além do mero estado de excepção, nomeadamente as dos populismos e autoritaritarismos modernizantes, se assumiam como representativas desse mesmo povo. A grande vantagem da democracia está na separação dos poderes, no pluralismo e na ausência de sistemas de repressão visível e, sobretudo, na implantação dos mecanismos do Estado de Direito. O grande defeito destas democracias continua a ser o indiferentismo das massas, face À falta de autenticidade dos modelos de participação política, bem como o agravamento da tradicional degenerescência da corrupção, aliada ao sentido de casta minoritária de uma classe partidocrática, também envolvida em processo de negocismo. E não parece haver doutrina ou modelo de organização partidária que a tal consigam pôr cobro, tanto à esquerda como à direita, dado que todas as provenções sistémicas acabam por falhar, face à ausência de uma efectiva autonomia moral do indivíduo.

Set 08

Depoimento Jornal de Negócios

Os futuros “dossiers” desta política (in “Jornal de Negócios”)

 

Na passada sexta-feira, comunicava o seguinte ao “Jornal de Negócios”: julgo que o principal dossier vai ser o do eleitoralismo na disputa do centrão com o PS ameaçado pelo desvio de simpatias de um certo eleitorado de esquerda para PCP e o BE e a saber que pode perder o centro catolaico para um PSD pouco dado a causas fracturantes.

O PSD assumindo um super cavaquismo sem Cavaco e procurando cortar com o anterior populismo, vai procurar captar confiança popular para a nova líder, que vai assumir uma nova versão tecnocrática, mista de europeísmo e de prestígio financeiro. Dai que a chamada gestão do silêncio de MFL tenha sido deliberada, a fim de não cortar com as forças vivas da economia que continuam a apostar num Bloco Central, capaz de aliar o politicamente correcto daesquerda menos, dita moderna, com a chamada direita dos interesses. Porque o situacionismo gosta de por na gaveta tanto o socialismo como o liberalismo…

Cavaco só terá intervenção se forem exigidas medidas excepcionais de soberania perante exageros eleitoralistas que falseiem as regras da leal concorrência partidária. Como alta autoridade do sector pode de um momento para o outro emitir uma aula de análise da conjuntura e punir a governança se esta cometer o pecado de usar a táctica do enquanto o pau vai e vem folgam as costas.

Resta saber se o ambiente internacional não vai introduzir novos factores de instabilidade de curto prazo, dado que, na verdade, a maioria dos factores de poder já não são nacionais e temos uma governança sem governo, em regime de quase pilotagem automática. E aqui só a bruxa e algum lume da profecia pode corrigir este excesso de racionalidade pouco axiológica, sem quase nenhuma ética da convicção.