O PS bonapartidarizado, em delírio de democracia plebiscitária

Começam hoje as directas para o PS que vive em pleno bonapartismo. Era como se os democratas norte-americanos tivesse que escolher entre Obama e a falta de adversários, através de um processo eleitoral onde, em vez de possibilidade de escolha de uma alternativa apenas se tivesse que plebiscitar o chefe que perdeu o estado de graça e é o inimigo público de todas as oposições, onde o PSD já alinha com as manifestações pinóquias da CGTP e da FENPROF. Aliás, pode ser que amanhã, os semanários de sábado tragam novas sobre o caso “Freeport”, agora enredado na investigação à própria investigação, dado que ninguém liga ao que disse Eanes e Medeiros Ferreira, depois de Edmundo Pedro e Manuel Alegre, essa gente dos golpes e contragolpes, dos exílios, das clandestinidades e dos romantismos poéticos, conforme me poderia dizer um desses prebendados, nomeado gestor de empresas de capital público e que agora vai a todos os actos de bate-palmas, depois de apagar partes pouco lícitas do “curriculum” e enganar o ministro que por ele meteu cunho.

 

Por isso declarei hoje ao jornal “Público”:  “O Presidente, mesmo que não queira, passou a ser olhado com expectativa como rosto de oposição ao Governo. Muita gente fica à espera do que vai dizer, que palavra tem a dizer, o que prejudica muito o PSD e Manuela Ferreira Leite”. Mas os sinais de crise são também dos próprios partidos, que os conduz a um défice de participação, porque “os partidos perderam capacidade de debate” e “há uma certa degenerescência, com este tipo de vitimização [da parte de Sócrates]. No passado já houve alguns casos. Cavaco Silva inventou o tabu, e apesar de nova maioria absoluta, saiu. António Guterres, nas eleições de 1999, ficou a um queijo da maioria e abandonou depois o Governo”. O absolutismo das maiorias pode levar àquilo que um dia disse Fernando Pessoa: “vencer é ser vencido”.

 

Se a democracia se enclausurar no discurso de Santos Silva, tanto na sua versão do malhão, à José Agostinho Macedo, ainda em mero caceteirismo intelectual, de extracção trotskista, como na professoral teoria do monopólio da inteligência, proclamando que não recebe lições de democracia antifascista de ninguém, corremos o risco de esquizofrenia. Por isso, tem sido um estílumulo para a democracia dos que recusam o obedencialismo a palavra experimentada de Eanes, que veio reavivar o sentido profundo do 25 de Abril de 1974, reavivado pelas lutas do PS, do PPD e do CDS, concretizadas em 25 de Novembro de 1975 que deram força ao acto eleitoral de 25 de Abril de 1975. Porque a democracia apenas começou a ser praticada quando acabou a ameaça de terror da chamada “torrente revolucionária”, expressão de Robespierre, que traduzimos por PREC.

 

O PS, se tem o dever de plebiscitar o líder, como sempre foi seu timbre, não pode ceder a certos desvarios da solidão do poder. Uma qualquer vitória aritmética, seja de maioria absoluta, seja de maioria relativa, pode levar ao tabu ou ao pantanal. Não exportem para o país os vossos problemas internos, o teatro cheio com camionetas vindas de Cabeceiras de Basto ainda não é o povo português. Por outras palavras, também é abuso de poder aquilo que Montesquieu dizia do pretenso excesso de virtude, como acontece com as eleições directas para as lideranças partidárias, tal como têm vindo a ocorrer no CDS e no PS, onde o excesso de democracia formal está a asfixiar o pluralismo de debate da democracia real. O exagero de democracia pode matar a democracia, quando nos esquecemos que a própria virtude tem de ter limites, isto é, o bom senso do cláasico sentido das medidas, a fim de não cair na caricatura…

 

Ainda há pouco repeti estas ideias em directo no Rádio Clube, acrescentando que corremos o risco de entrar na subpolítica, porque “polis” é o mesmo que “urbs” e subpolítica tem a ver com este ambiente de degenerescência suburbana, onde no centro do Estado podemos repetir o que se passou em Felgueiras, em Gondomar ou em Oeiras, bem à imagem e semelhança daquilo que o PS clamava como défice democrático da Madeira, onde as maiorias absolutas não conseguem ocultar a falta de igualdade de oportunidades no debate democrático, dado que quem tem o palanque do situacionismo oficial, ou oficioso, tem o monopólio da palavra e, consequentemente, o quase monopólio do poder. O João Soares não deixaria que os observadores da OSCE não detectassem, como supervisores, estas cenas bielo-chinocas…

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