Lágrimas de crocodilo da politiqueirice

Não tardará que os solos calcinados da nossa terra sejam humedecidos pelas lágrimas de crocodilo da politiqueirice, dado que os científicos avisos sobre os incêndios de Verão continuam a não ser suficientemente amedrontadores para aqueles que fazem da profissão a prostituição da palavra pelo fala-baratismo dos discursos que põem a chorar as pedras da calçada, enquanto o povo automobilístico vai pagando mais um pequeno imposto para se sustentarem as promessas feitas por um ministro a uma só empresa que ameaçou largar o país. Já o recém-eleito presidente do STJ, depois de denunciar os advogados, os juízes e os governos quanto às demoras na justiça, onde uns não nomeiam mais juízes, outros não ajuízam rápido e os primeiros empatam e complicam os processos, acaba por não denunciar quem deve. A culpa está acima de tudo nesta elefantíase legislativa que permite aos operadores fazerem fraudes à justiça em nome da lei, face à manta de retalhos em que se transformou o chamado ordenamento jurídico. Julgo que um qualquer José Alberto dos Reis chamado por um qualquer Manuel Rodrigues permitiria que a democracia fosse superior à Ditadura em matérias de técnica judiciária. As corporações e os sindicatos devem ser postos nos seus devidos lugares de meras sociedades imperfeitas que não podem ser especialistas nos assuntos do todo, coisa que apenas cabe à sociedade política, através daquilo a que chamamos Estado. Quando os principais representantes dos corpos especiais em que vamos despedaçando a unidade da república, mal-habituados ao mediático, continuam a cair na rasteira do falso populismo, é de temer que cresça este enrodilhar de discursos e de promessas, para que novas frustrações gerem ainda mais revoltas, que não serão cerceadas se se mantiver o mero malabarismo vocabular, ou conceitual, com que continuamos a encanar a perna à rã. Porque a crescente despolitização do Estado tanto não levou a menos Estado como também não produziu um melhor Estado, dado que fez com que as gorduras neocorporativas crescessem em adiposidades dilatórias, ao mesmo tempo que foram inchando o peito de ar os monstros da corrupção, os quais só podem ser debelados por aquela energia que dimana da confiança pública, coisa que nunca acontecerá se continuar a grassar o indiferentismo, o cansaço e o desencanto.

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