Foi há pouco mais de um quarto de século, há tanto tempo

Foi há pouco mais de um quarto de século, há tanto tempo. Em Portugal, vivíamos a guerra de Angola, da Guiné e de Moçambique e estávamos prestes a inicial a chamada primavera marcelista. A nossa esquerda continuava a traduzir a França em calão e com algum atraso, pelo que o Maio de 1968 nos chegou em Abril de 1969, com a chamada crise universitária de Coimbra. Foi há pouco mais de um quarto de século, há tão pouco tempo. A Primavera ainda não voltara a florescer em Praga, onde ainda permaneciam os tanques do Pacto de Varsóvia; a Primavera ainda continuava a ser reprimida na Polónia de Walesa, na Rússia de Soljenitsine, na Hungria, na Roménia, na Bulgária em em todas aquelas pátrias onde a lógica de um comité central continuava a negar a evidência de ser o homem que faz a história e não a história que faz o homem. Porque, como dizia Winston Churchill (1874-1965), os regimes de liberdade, apesar de serem os piores de todos os regimes políticos, são, contudo, os menos péssimos de todos… Por cá o heroísmo antifascista dos líderes estudantis iria em breve ceder ao método da barganha e dos salamaleques de Corte. Não tardaria que uma delegação dos estudantes visitasse o presidente Américo Tomás, para fazerem as pazes, naquilo que alguns viram traição e outros manha de animal político. Um dos líderes, aliás, começava assim uma auspiciosa carreira que o levaria ao pintasilguismo e à posterior adesão ao PS, onde chegaria a ministro da reforma do mesmo estadão com quem se reconciliara em autoritarismo, sendo hoje o emérito líder parlamentar do partido que em 1969 estava a quatro anos de ser fundado. Na altura, eu ainda era mero estudante liceal de Coimbra e observava a coisa de fora, reparando como os adversários do processo praticavam os métodos que imputavam ao adversário. Lembro-me de ter andado pela universidade a reparar na lista e nas fotografias dos “traidores”, que era como chamavam aos adevrsários que não aderiram à greve, e até poderia reparar nas cenas de violência praticadas nos domicílios de alguns deles, por acaso mulheres e por acaso com uma delas grávida. Estórias que a história dos vencedores não gosta de registar.

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