O sistema da nossa administração da justiça lá condenou a prisão efectiva um conhecido autarca, ultimamente eleito pelo Movimento do Partido da Terra, assim se demonstrando que mesmo as boas intenções em forma de partido se transformaram em alvará, para uso de despedidos políticos, assim enquistando os partidos sistémicos existentes que logo proclamam o situacionismo como um mal menor. No que têm alguma razão, porque mesmo em Itália, onde houve um terramoto no subsistema partidário e no esquema eleitoral, tudo continuou quase como dantes, quanto à forma de selecção de elites, mesmo com Papa no terreno, memórias vaticanas da P2 e ligações mafiosas a fascistas, socialistas, sociais-democratas e democratas-cristãos. Pelo menos, os velhos fascistas neofascistas passaram a pós-fascistas ministeriais, tal como os comunistas estalinistas passaram a democráticos da “sinistra” e também à respeitabilidade ministerial, à boa maneira do Peppone e do Don Camilo. Por mim, que não sou muito adepto dos preconceitos analíticos de Robert Michels, esse alemão italianizado que acabou fascista, depois de se fartar do SPD dos começos do século XX, apenas reparo que as novas fábricas de publicização das novas oligarquias de notáveis já não tratam de partidos ideológicos ou de partidos classistas, mas de mais de meio século de sistemas partidocráticos “catch all” da era pós-ideológica. À maneira de Daniel Bell, direi que mesmo os nossos maiores partidos, se são grandes demais face à “falta de autonomia da nossa sociedade civil” no contexto de um Estado Pombalista, acabam por ser pequenos demais para este ambiente de compressão dos factores nacionais de poder, num tempo de globalização e de união europeia, com os nossos PS, CDS e PSD, feitos secções domésticas de grandes multinacionais partidárias. Se uma empresa de consultadoria politológica, paga pela CIP, elaborasse um estudo sobre a reforma partidocrática deste Portugalório das minúsculas, a montanha pariria mais um ratinho, até porque é patente a nossa pobreza em recursos científicos na área, dado que nem sequer temos um banco de dados equivalente ao que possui o LNEC para engenharias e engenhocas. Ainda vivemos nas sombras das quase ciências ocultas e das traduções em calão, no inventário dos grupos de pressão, da “pantouflage” e das próprias causas da corrupção, sem adequados estudos sobre os políticos profissionais, estatais, autárquicos e regionais, fiando-nos na mera experiência e nas intuições dos estimados animais políticos que nos têm regido. Daí que, em qualquer curva de uma crise aeroportuária, tudo se espatife em torno de teorias das bruxarias conspiratórias, onde não falta o recurso imaginativo às Maçonarias e à confederação das seitas catolaicas, agora actualizado pelo volume de negócios de algumas sociedades de advogados e de certos gabinetes de arquitectura, tudo pintalgado com comissões de honra e o espectáculo dos mandatários eleitorais. Por outras palavras, também eu achei, durante muito tempo, que era para isso que também existiamm as universidades: quando existe um assunto de interesse nacional, compete às universidades dar o seu contributo para esclarecer os portugueses. O problema continua a estar em quem tem poder para ditar quem são os notáveis e quem são os credíveis, livres do “agenda setting” das “modas que passam de moda”. A resposta, dos tempos que passam, diz que são aqueles que são pagos pela vigente União dos Interesses Económicos, a que apenas podemos dar o nome de direita dos interesses. As universidades preferem entrar no jogo desta pequena loucura doméstica que afectou a partidocracia: andam à procura dos notáveis que negociarão com o governo, na qualidade de curadores, donde sairão os reitores e os profissionais da gestão, à boa maneira neofeudal, num país onde, por falta de autonomia da sociedade civil, tudo ficará sob alçada dos tradicionais donos do poder e da consequente subsidiocracia e avençologia. Apenas acrescento que importa dar ao papa o que não é de césar, nem da mulher dele, aos negócios o que não é da universidade, para que não se confunda a república com o capital e a pátria com o arranque dos sobreiros, segundo a tal lógica terra a terra do Sancho Pança e do vicentino Juiz da Beira, quando ainda não havia comprimidos azuis para darem aos velhos a ilusão de um regresso à mocidade do tempo que volta para trás…