Nov 18

Os governos que comandam a distribuição dos postos e das postas

Os governos que comandam a distribuição dos postos e das postas a partir da mesa do orçamento só não ficam com a melhor parte se forem burros ou não perceberem da arte. Um qualquer marechal saldanha, ou um qualquer ministro de cabral, quando se sente à rasca com a emergência de uma qualquer patuleia, costuma dizer que, se esta tem sotaque nortenho, deve ser oriunda do miguelismo e, portanto, potencialmente, populista, radical, anti-europeísta e, quiçá, fascista. Porque, encerrado o período de sangrentas lutas caseiras, entra em cena um regime centrista e nacionalizado, herdeiro conservador de um romantismo que fora revolucionário. Não passa de uma simples conciliação de sinais contrários, onde emerge, como consequência e motor, o cepticismo político que trata de conjugar o progresso em termos de melhoramentos materiais, mas onde também se agrava uma dominância banco-burocrática, assente no indiferentismo popular, bem como uma ilusão de crescimento dependente da engenharia financeira. É neste ambiente de lassidão moral que se implanta um capitalismo dependente do empréstimo estrangeiro, gerando-se uma mentalidade oficial plutocrática marcada pelo utilitarismo. O melhoramento material parece ser a única alternativa a esta decadência. Ao menos a estrada de macadame, a malaposta, o tramway e o fontanário, esses sinais da política prática servem para justificar o abandono das utopias doutrinárias. E os patuleias, depois de uma passagem pelo republicanismo de orçamento ou lunático, volvem-se em progressistas à maneira de José Luciano. Por outras palavras, quem se mete com o equilíbrio situacionista corre sempre o risco de perder o controlo sobre as adjectivações diabolizantes produzidas pelo politicamente correcto que quase sempre atinge o seu clímax quando a esquerda moderna se amanceba com a direita dos interesses. Basta anotarmos algumas das campanhas negras mais recentes da nossa história democrática, onde, aliás, o crime sempre compensou. Não falo na invasão do Iraque e das falsidades da espionite que permitiram cimeiras e ascensões a lugares cimeiros. Prefiro recordar Sá Carneiro, acusado em plena televisão de adultério de Estado por um chefe de partido e um arcebispo, depois de os comunistas o vilipendiarem como caloteiro, na linha do que patrões da CIA tinham engendrado, apoiando preferencialmente o chefe dos socialistas, para desfazerem tacticamente o perigo de uma frente popular e da consequente unicidade antifascista.