Nov 20

Todas as liturgias são ridículas fora dos templos em que se dá a comunhão e a religação

20.11.07
Todas as liturgias são ridículas fora dos templos em que se dá a comunhão e a religação
Os chineses do século XVI diziam que os portugueses eram bárbaros, isto é, diabos vermelhos, porque comiam pedras (pão) e bebiam sangue (vinho), tal como outros povos diziam que os cristãos eram antropófagos porque, em seus cerimoniais, comiam o corpo de um deus feito homem. É o que fazem todos os que são marcados pela incompreensão face aos símbolos decepados da unidade espiritual de que os rituais são simples parcela.

É por esta e por outras que detesto todo o sectarismo que pretende monopolizar o sagrado para a respectiva liturgia e que, fradescamente, semeia a intolerância, insinuando o ridículo face as alfaias que os outros usam para os mesmos fins. Afinal, todas as liturgias são ridículas fora dos templos em que se dá a comunhão e a religação. Contudo, mais ridículos ainda são os que não têm liturgia sentida por dentro, ou os que se ficam pelos sucedâneos e pelas vulgatas de certo dogmatismo pretensamente antidogmático.

Por mim, que, sobre as verdades eternas, apenas sei que nada sei, resta-me continuar a procura da verdade, pelos variados caminhos que segue aquele que apenas pretende ter a boa vontade daqueles que querem conquistar a glória do homem livre. Porque ninguém pode deter o monopólio do “imprimatur” e do “nihil obstat” para a edição desses manuais de metodologia, com os consequentes livros únicos dos inquisidores, vanguardistas, vigilantes da revolução, ou contínuos e sargentos do senhor director.

Nov 20

O hábito, se não faz o monge, sempre consegue disfarçá-lo

Sempre às voltas com McLuhan e a aldeia global. Porque tanto na Galáxia de Gutenberg como na Galáxia de Marconi o “medium” é mais importante do que a “mensagem”. Porque, afinal, o hábito, se não faz o monge, sempre consegue disfarçá-lo, embora nem só a vestimenta faça o corpo que a sustenta. Claro que Gutenberg permitiu traduzir a bíblia com que Lutero desfez a “respublica christiana” e o império restaurado pelos papas na constelação de poderes que sustentava os Habsburgos. Da mesma maneira, as tipografias e os tipógrafos fizeram as democracias liberais e os nacionalismos das primaveras dos povos do século XIX. Tal como a electricidade promoveu o comunismo e o transístor e a electrónica tiveram como consequência a queda do muro e o fim do sovietismo, que acabou por não ser o fim da história. Porque graças à dita Guerra Fria surgiu a Internet e graças à teledemocracia surgiram os Sócrates, os Sarkosy, os Berlusconi e os Blair. Porque, em política, se o que parece foi, agora só o que aparece é que pode ser, desde que haja adequado investimento em agências de comunicação. McLuhan tem mesmo razão, a propaganda para ser eficaz não pode parecer que é propaganda.