A única coisa que não passa é o que passa sem cessar, o tempo A melhor forma de procurarmos a felicidade está em vivermos como pensamos, sem pensarmos como assim vamos vivendo. Isto é, sem conjugarmos utópicos ou ucrónicos amanhãs que afinal não cantam. Porque talvez seja mais fecundante vivermos cada um dos dias que nos restam como se cada um deles fosse o último. E lá vai crescendo esta minha arca de escritos inúteis, estas palavras que, dia a dia, vou semeando, estas quotidianas peregrinações “ad loca infecta”. Tout s’anéantit, tout périt, tout passe : il n’y a que le monde qui reste, il n’y a que le temps qui dure. [Denis Diderot] Pessoa a pessoa, a sociedade é uma complexa pluralidade de comunitárias pertenças, com muitos vizinhos em sucessivos círculos dialécticos. Aliás, dialogar é pôr em comunicação o logos, o discurso, enquanto sinónimo de razão. Le temps est le rivage de l’esprit ; tout passe devant lui, et nous croyons que c’est lui qui passe [Rivarol] É preciso descobrir que é o “outro” que nos faz “eu”. É o “nós” que nos permite descobrir que é por dentro de cada um que as coisas realmente são. Que só dentro de cada um, no situado trasncendente, há o dever-ser que é. Le temps est une invention du mouvement. Celui qui ne bouge pas ne voit pas le temps passer [Amélie Nothomb]. O tempo é espera, esperança, esfera. A tal espera que nos dá esperança, a eternidade que nos permite aceder a esse armilar a que chamamos cosmos e que todos os dias temos de imitar, para crescermos por dentro. L’espace change, l’univers se dilate, et la seule chose qui ne passe pas, c’est ce qui passe sans cesse, le temps [Jean d'Ormesson]
Daily Archives: 30 de Novembro de 2007
Esta coisa de ser vertebrado atrapalha muito num mundo de esqueletos no armário e consciências reduzidas a escória…
Por estas tascas e cafés de bairro, por onde passava o Eduardo Prado Coelho e ainda vagueia António Lobo Antunes, restam dois ou três peregrinos da intelectualidade castífera e capitaleira, com que, de vez em quando, deparo na solidão das mesas, todos lendo pausadamente o jornal “Público”, todos carregando o último livrinho encomendado a Londres ou a Paris, todos olhando o povo que vai aos balcões tomar a biquinha como uma multidão alienígena. Se alguns foram meus conhecidos dos bancos e bares das faculdades, com todos esses fazedores de vanguardas progressistas e reaccionárias, não me apetece conversar nem sequer saudar, até porque não estou minimamente interessado em aceder ao respectivo sindicato das citações mútuas, com os consequentes subsídios em circuito fechado, nomeadamente nos júris clandestinos das selecções avaliadoras. Não faltam sequer os ilustres angariadores de patrocínios para seminários, “workshops” e conferências que, de uísque em punho, vão engenheirando a respectiva caça ao favor, trocando telemóveis da fauna bancária e empresarial que ainda acredita que assim se faz o marketing e a política de imagem. E tal como no anterior sindicato das citações mútuas são os ditos que emitem adjectivações sobre peritos que podem mobilizar para a procissão, sobretudo os que não requerem “cachet”, mas apenas prendinhas da loja dos trezentos. Por mim, prefiro gerir meus pareceres sem cedência a esse grupo de amigos que cordialmente se odeiam, apoiando os que têm mérito, apenas em nome da justiça.