Por estas tascas e cafés de bairro, por onde passava o Eduardo Prado Coelho e ainda vagueia António Lobo Antunes, restam dois ou três peregrinos da intelectualidade castífera e capitaleira, com que, de vez em quando, deparo na solidão das mesas, todos lendo pausadamente o jornal “Público”, todos carregando o último livrinho encomendado a Londres ou a Paris, todos olhando o povo que vai aos balcões tomar a biquinha como uma multidão alienígena. Se alguns foram meus conhecidos dos bancos e bares das faculdades, com todos esses fazedores de vanguardas progressistas e reaccionárias, não me apetece conversar nem sequer saudar, até porque não estou minimamente interessado em aceder ao respectivo sindicato das citações mútuas, com os consequentes subsídios em circuito fechado, nomeadamente nos júris clandestinos das selecções avaliadoras. Não faltam sequer os ilustres angariadores de patrocínios para seminários, “workshops” e conferências que, de uísque em punho, vão engenheirando a respectiva caça ao favor, trocando telemóveis da fauna bancária e empresarial que ainda acredita que assim se faz o marketing e a política de imagem. E tal como no anterior sindicato das citações mútuas são os ditos que emitem adjectivações sobre peritos que podem mobilizar para a procissão, sobretudo os que não requerem “cachet”, mas apenas prendinhas da loja dos trezentos. Por mim, prefiro gerir meus pareceres sem cedência a esse grupo de amigos que cordialmente se odeiam, apoiando os que têm mérito, apenas em nome da justiça.