Darwin, com socialistas a reconhecerem que pode haver um César, aqui e agora, e homossexuais a admitirem que a Igreja Católica tem o monopólio de Deus

Veja-se o ambiente de sociologia de luta que marcou o nosso dia parlamentar de ontem, onde pareceu que voltámos a um ambiente de macacos evoluídos, quando os insultos incendiaram aquilo que devia ser um exemplo: a casa da nossa democracia. Os guinchos do argumento fraco, superaram a serenidade persuasiva do discurso doargumento forte, como assinalava Brito Camacho, só porque as caricaturais hipérboles do imaginário de Pinóquio de uma jota irritaram quem se vitimiza como alvo de uma campanha negra. Como se quem estivesse contra o detentor do poder supremo tivesse que cair necessariamente nas perguntas insultuosas. E a histeria foi de tal maneira de  mau-gosto que até Louçã vestiu o heterónimo da moderação, enquanto o patrão da Jerónimo Martins veio a terreiro dizer que a “iniciativa privada não tem que aturar isto” e tem “muitos sítios para onde ir”. Face à demagogia, os gestores das conferência de imprensa da Igreja Católica entraram no sofisma sacrista do bate e foge. Num dia, por causa dos casamentos de homossexuais, mandaram não alinhar com partidos que ofendam os respectivos valores. No outro, pondo água na fervura, e lembrando-se dos resultados do referendo sobre a interrupção voluntária da gravidez, vieram esclarecer que mandar não votar em determinadas ideias não pode qualificar-se como apelo ao voto. Aliás, deputados e representantes do grupo de pressão LGT logo citaram Jesus Cristo, sobre o dar a Deus o que é de Deus e a César, o que é de César. Com socialistas a reconhecerem que pode haver um César, aqui e agora, e homossexuais a admitirem que a Igreja Católica tem o monopólio de Deus.  Como ontem dizia ao Meia Hora, antes da segunda intervenção da CEP, esta atitude da Igreja “é uma espécie de chicotada psicológica para levar o PS a negociações e a uma solução de meio-termo”. Com efeito, “o pior que podia acontecer agora era um conflito entre política e religião” e, como tal, “vai haver alguma pacificação”. Até porque “a Igreja não tem poder de mobilização de massas e de mobilização política e também nunca o fez”. Aliás, se tomarmos à letra a promessa de nosso primeiro, a discussão pública pode levar a uma espécie de armistício moral, se nos iluminarem exemplos de legislações europeias, há muito consensualizadas, que não confundiram a necessidade de protecção pública da liberdade contratual dos homossexuais, com um metacontrato ou instituição que, antes de ser do direito canónico já era do direito romano. Porque a mera analogia, de um contrato, não pode confundir-se com a essência de outra coisa, já  institucional, independentemente do sacramento, que é bem mais do que a bilateralidade, tendo a ver com o conceito de corrente de geração, e que permanece mesmo quando o contrato é anulado ou entra em divórcio, porque novas formas de família, nomeadamente as monoparentais, podem continuar e reforçar a ideia de obra que a liga aos avós e aos netos. É por isso que reli The Origin of Species, trabalho publicado em Novembro de 1859, onde Darwin considera que todos os organismos têm tronco comum, que todas as espécies vivas são resultado da evolução e da selecção natural. In the survival of favoured individuals and races, during the constantly-recurring struggle for existence, we see a powerful and ever-acting form of selection.

Comments are closed.