Há sinais de memória viva que se podem sonhar, sem fantasmas nem ditados cheios de preconceitos, desde que sejam livres dos grilhões das palavras obsessivas. Há muitos séculos de saudade e âncoras ainda mais fundas que nos dão a esperança, pelos séculos do sempre.
Pode voltar o sol e chegar a fundura da noite, mesmo que amargos sinais nos salguem o poente. Quando apetece peregrinar contra a viagem do sol porque navegar é preciso, viver não é preciso.
Para que as palavras não sejam algemas de retórica, há o segredo de ser sem o dizer. Para que as palavras sejam confiança, têm que ser semeadas com ternura, pedra a pedra, semente a semente, ao abrigo da ventania… E assim voltarão os sonhos, daqueles que se recordam quando acordamos, e que apetecem reviver.
Ninguém se faz à estrada sem um sinal que lhe dê procura. Ninguém exercita a palavra que o faz viver sem um pedaço de sol que lhe dê alma
Não há felicidade, há momentos de felicidade; e di-lo quem,graças aos deuses foi tão feliz que, algumas vezes, até teve a ilusão de atingir a plenitude. O que aconteceu quase sempre por acasos procurados; onde, procurando sempre o transcendente, fui docemente situado por um tempo que teve lugar, em circunstâncias que meu eu não promoveu.
Apenas aceitei os desafios; e, sem o querer antecipadamente, tive a graça de navegar, porque tinha as velas prontas para navegar; navegar é preciso, navegar foi belo; e há-de ser, em sempre;basta que as velas estejam prestes, para que o sopro me toque nos lábios e volte a renascer, indo bem além do preconcebido ou do sonhado; sempre preferi o encanto da aventura, ao planeá-la num caderno de rotas, agendas e calendários;
E tudo o que, de melhor, vivi, mesmo em plural, foi vivido em acontecimentos que nunca se repetem, com seres que nunca mais se repetem; até o meu, que não sou o que fui nem voltarei a ser quem julgo que sou.
PS: Porque passaram quatro meses. Mas a Ana Continua aqui.