A sondagem de hoje é mesmo esquizofrénica…Porque ontem foi só a terra de Pessoa e, sobretudo, de Bartolomeu, o que morreu tentando, ao serviço de el-rei Dom João Segundo. Porque criar é preciso, viver não é preciso (Pessoa dixit)…
Passos é como Queiroz: dá sete a zero a Kim Il Sung II, mas empata com a Costa da Caparica. Passa à fase seguinte, mas a malta gostava mais do Scolari e, do Otto Glória e do Bella Gutmann, muito mais ainda…
Aí está a sondagem e o meu comentário: dados provando que “embora haja uma revolta contra o poder, o regresso do PSD à governação ainda não está consolidado”, não havendo “ainda a confiança de que Passos Coelho é uma alternativa” porque “tem feito demasiados ziguezagues”.
O que, meia hora antes, era uma trapalhada (Relvas dixit), passa, num ápice, a ser sentido de Estado, a caminho do regresso à união sagrada, com os unionistas de fora. Grão a grão, se vão mastigando, para usar expressão sabiamente lançada por Mário Soares, um dos principais especialistas no ensalivado processo de conquista e manutenção do poder…
Aliás, Portugal vai jogar contra a Catalunha, com três ou quatro reforços madrilenos, quase tantos quantos são os nossos brasilienses… Que Sant Jordi nos valha contra Santiago matamouros!
Mas o zero à esquerda contra um zero à direita foi mais do que nada. Não foi calar, foi silêncio que dá esperança. E boa. Porque quem cala, isto é, não marca, também não consente em perder, apenas nada diz. Foi “a calma das coisas, a ausência de rumor e perturbação”. O futebol é mesmo bestial!
O primeiro herói brasileiro, invocado pelo Imperador Pedro I foi um tal de António Vieira. Tal como depois adoptaram Pessoa (as primeiras obras completas foram edição da Aguilar…) e Saramago… Nós só adoptámos o Pepe, o Liedson e o Deco… e bem! Em memória dos Magriços, de há 44 anos, quando jogávamos com os moçambicanos Eusébio e Coluna e um tal de Vicente, irmão do Matateu do Alto-Mahé…
Tenho uma dúvida: os brasileiros não são tão descendentes de Dom João Segundo quanto os enjoados que, daqui, nunca saíram, nem em viagens de memória? Como dizia Manuel Bandeira, eles, os que tiveram dois Pedros como imperadores, são mesmo “Portugal à solta”… Portugal é bem mais do que a actual República Portuguesa. É a “respublica universalis” do próprio Portugal que partiu…
E tudo depois de mais um socrático exibicionismo parlamentar, onde, no discurso fechado desse circuito, Sua Eminência continuou com a ilusão de ser mágico, em autoclausura reprodutiva, sempre contra os anacronismos, pelo progresso que nos vai trazer “microchips” em cada dorso cidadânico de um “big brother” que nos unidimensionaliza…
As “scutas” cheiram mesmo a portagens da ponte. Qual será o Vara e qual será o Ferreira do Amaral desta nova encruzilhada? Entre um e outro, venha o Diabo e escolha. Mas entre este e o outro, sempre o pilar da ponte do mesmo tédio, que vai de um para o outro, em rotativismo, onde quem paga não é quem ganha…
Entretanto, não sou seguidor de nenhum candidato presidencial, mas reconheço que Fernando Nobre manifesta seguir grande parte de causas e desígnios que também são meus. Estou atento à diferença que se poderá estabelecer entre aquilo que se proclama e aquilo que se pratica. Mas louvo a determinação e o desassombro…