O tempo que por mim passa se suspendeu. Que meu corpo quebrou, mas a vida ainda não torceu e já posso falar em pretérito sobre meu internamento em dois hospitais e consequentes intervenções cirúrgicas. Tenho a felicidade de já poder narrar esses episódios de relação com o além. O tempo que passa se suspendeu, porque é só em solidão de escrita manuscrita que me consigo escrever. Daí o meu silêncio, porque só quando, palavra a palavra, nos conseguimos libertar das teias do pensamento é que podemos dialogar, aqui, em intimidade. E poucas foram as linhas assim manuscritas que foram fluindo. Pelo que importa reaprender o sentido mais profundo deste gesto de sentir a caneta deslizar pelo papel. Não ainda para testemunhar a experiência de uma complexa intervenção cirúrgica e do místico de seu acordar, mas, sobretudo, para reencontrar os equilíbrios primordiais do andar e do escrever em autonomia. Foram os antiquíssimos laços familiares e os de meus irmãos e amigos que me ajudaram a retomar os passos, e a regressar a casa e às comunidades vivas que me dão raiz e sentido. Esse demasiadamente humano do amor inteiro, onde também não faltaram palavras em mensagens. A todos o meu obrigado!