
Nem todos os agrupamentos humanos são políticos. Isto é, nem todos assentem na relação horizontal de homens livres e iguais, num espaço público. Não o foram os impérios nem as monarquias universais, muito menos as relações de colonização ou de invasão, os que assentem em comunidades internacionais étnicas ou de derivam de meros tratados comerciais ou de segurança. Nunca o poderia ser um mero governo mundial, mesmo o que assente fragmentariamente na geofinança ou na geo-economia. Não o será uma Europa assente na confederação de dois restos de império, o apátrida dos economeiros e financistas que gritam que não há alternativa ou a dos securitárias que aqui traduzem em calões estratégias de outras potências. Não repararam certos pulhíticos que, até em Portugal, desde a teorização do Infante D. Pedro, a república não passa de um concelho em ponto grande? Algo que se situa entre a aldeia e a república universal, sempre à procura da república maior…Não há nenhum república que não subscreva a tese clássica que nos diz que a política é sinónimo de democracia, até contra os usurpadores.
Estou farto dos terraplanadores, dos vendepátrias e dos niilistas. Houve regentes da república que foram mais fiéis ao reino do que pretensos reis que apenas serviram seus validos e as forças vivas que nos traíram.
O reino não é para os ministros, porque até os reis o foram para a república (regnum non est propter rex, sed rex propter regnum).
Há muita gente que não entende que o “regnum” apenas emergiu nos séculos XII e XIII quando as autonomias dos povos se libertaram das teias do patrimonialismo feudal, do império e do papado. Só então se voltou a conjugar a “polis”, a “respublica” e os foros e costumes dos homens livres, tanto nas nossas comunas sem carta, como eram as freguesias, como nos concelhos, burgueses e rurais, escapados aos senhorios. Foi desta gesta que nasceu Portugal. Não o matem com o ministerialismo e as suas “revoluções vindas de cima”, decretinas e cretinas.
Infelizmente, à esquerda, domina o jacobinismo pombalista que esqueceu o federalismo republicano e o socialismo centralista que nunca estudou Proudhon, porque veio do estalinismo reciclado. Infelizmente, à direita, ficou tudo salazarentado e nem sequer chegam ao princípio da subsidiariedade. Encantam-se com os teóricos de gabinete dos vários ministérios do interior e nem sabem quem é o autor da frase “comunas sem carta”. Preferem os sucessivos marchuetas que os empalmam em visitas à província e grandiosos discursos de palanque.
O Rodrigo da Fonseca, o raposa da partidocracia, chega sempre no “day after”, liquida a reforma do Mouzinho da Silveira e junta situacionistas e pretensos oposicionistas, como “alegres convivas”, à “volta da mesa do orçamento”. A maior parte deles satisfaz-se com restos. A caricatura continua. Espero que não se repita como tragédia. Ou tragicomédia.
Claro em pensar, e claro no sentir,
é claro no querer;
indifferente ao que há em conseguir
que seja só obter;
duplice dono, sem me dividir,
de dever e de ser-
não me podia a Sorte dar guarida
por não ser eu dos seus.
Assim vivi, assim morri, a vida,
calmo sob mudos céus,
fiel à palavra dada e à ideia tida.
Tudo o mais é com Deus!
Na imagem, armas do chefe do meu partido. O que foi vencido em Alfarrobeira. Mas venceu depois. O autor do primeiro tratado de política em português. Dito “O Livro da Virtuosa Benfeitoria”.