Jun 09

Algumas notas para uso do sim através do não…

O projecto de tratado pretensamente constitucional, que por aí se referenda, reflecte os erros típicos de certos arquitectos do politiqueirismo planeamentista e construtivista, esse que tenta fabricar códigos-pudim, muito pretensamente “SSS”, isto é, “sintéticos, sistemáticos e scientíficos”, onde cento e cinco eleitos pensam conseguir uma racionalização acabada e definitiva de um conjunto de regras que ousam eternizar para os “amanhãs que cantam”. Esquecem que nunca as grandes conquistas da humanidade se reduziram a essa mania dos que pensam ter contactos imediatos de primeiro grau com o espírito santo, como se a pomba do dito não fosse mais democrática e não andasse em voo livre, longe dos circuitos fechados dos que julgam deter o monopólio da inteligência. Interessam menos as legalices e as codificacionices e mais os princípios gerais que dão alma às leis, as tais regras da conduta justa que recolhem os eternos princípios das leis que estão escritas nos corações dos homens. Quando alguns positivistas velhos e relhos confundem a arquitectura das regras de organização com o direito da razão, resta a gargalhada. Acresce que o tratado também deve ser rejeitado por razões de estética institucional. Os codificionistas têm a mania dos “terreiros do paço” Pombalinos, com muitas arcadas e o pormenor dos nichos sem estátuas, com que pretendem normalizar a criatividade dos artistas futuros. Eu prefiro a evolução espontânea das Alfamas, das cidades feitas pelos pedreiros e pelos sonhos dos construtores de casas, feitas à imagem e semelhança dos homens comuns que nelas investem. A Europa dos arcos do triunfo é como as estátuas com pés de barro. Afundam-se na primeira curva de um qualquer referendo. Continuo a preferir a Europa multidimensional, da pluralidade de pertenças, onde possa misturar-se federalismo e nacionalismo, localismo e globalismo. A razão e a vontade não são as duas únicas potências da alma. Há que encimá-las com a imaginação e o simbólico. E há que dar espaço de sonho às asas da razão axiológica, da criatividade e até do excêntrico. Alguns dos tecnocratas do directório eurocrático, esses herdeiros da federação dos impérios frustrados que por aí andavam, entoando a música celestial da inevitabilidade, contra os pretensos europeístas do costume, deram com os burrinhos na água. E nem o cardeal lhes valeu. Mesmo com o apoio de senadores como os dois que, para compensarem a não entrada da Turquia, propuseram a de Cabo Verde, sem ouvirem o povo de Cabo Verde. Não continuem a reduzir a multidimensionalidade do “não” aos ditames dessa espécie de neo-dogmatismo antidogmático dos que queriam fazer da Europa uma segunda edição revista e acrescentada do catecismo da “Organização Política e Administrativa da Nação” de má memória, segundo o ritmo do decálogo do Estado velho. Abaixo a razão de Estado. Mesmo que seja a do Euro-Estado. Não deitemos pela janela o soberanismos dos Estadinhos para nos entre pelo sótão o soberanismo do Estadão.