Jan 05

Sharon, cultura do rigor, gripe das aves, preços da energia e o novo partido da FNAP


Neste nosso “in illo tempore” em que nos vamos acrescentando pela desassossegada esperança de estarmos vivos, continuando a saudável perturbação da falsa ordem instalada, onde endireitas que foram bonzos ameaçam suceder aos canhotos que continuam os bonzos a que temos direita, importa fazer história do presente, relembrando para resistir, que sempre foi conservar o que deve ser contra os conservadores do que está. Por isso, tentarei rememorar sempre que os dias tiverem marcas. Porque foi-se Arafat, ameaça ir-se Sharon, como se foi o Rabin e ficou o Peres, essas folhas do tempo que se arrancam, todos estes nossos companheiros de telejornal, na mais demorada guerra deste mundo. E o general que já foi porco fascista, parece agora ser do centro e pela paz, estando nas mãos de Alá ou Jeová, para que Deus o ajude e que o Irão não possa riscar Israel do mapa.

 

 

 

Hoje podia recordar a vaga de prisões que encheu os calabouços da Pide de comunistas, neste dia de 1955, ou de como no ano de 1989 entraram os telemóveis em funcionamento nas cidades de Lisboa e do Porto, ainda antes da queda do muro. Mas reparo que se deu mais um atentado bombista de sunitas contra xiitas, com Maniche a ser recrutado pelo Chelsea, quando me chegam palavras de Cavaco, clamando pela cultura do rigor, da transparência e do mérito nas nomeações, como se ele não tivesse sido o criador do Estado-Laranja, esse pequeno mostrengo da empregomania, onde nunca houve “boys”, grupos de pressão, grupos de interesse, corrupção ou “pantouflage”, graças ao recrutamento de paradigmas tão ilustres quanto Manuel Dias Loureiro, Ângelo Correia ou Álvaro Barreto. Foram só nomeações postas em boas mãos, sem Valentim Loureiro nem Isaltino de Morais, que afinal seguiram a má tradição da cultura banco-burocrática.

 

 

Imagem de Fernando Arrabal

 

Reparo que o Banco de Portugal está pessimista, que os inquilinos ricos vão pagar mais renda, que os impostos baixaram o poder de compra, que o cabecilha de um gang assassino de polícias foi preso, que a Iberdrola hoje não deu parangonas, mas que a electricidade vai descer na indústria à custa das famílias, com o petróleo a subir, sem que chegue o crescimento e melhore a competitividade.

 

 

Imagem de Fernando Arrabal

 

Porque morreu uma miúda turca, vítima da gripe das aves e a OMS alerta para uma possível viragem dramática da pandemia, que nos recorda a pneumónica dos tempos de Sidónio, já depois das aparições de Fátima. Aguardam-se os judiciosos comentários de Cavaco, Soares, Alegre, Jerónimo, Louçã e Garcia, depois dos primeiros discursos sobre a matéria, proferidos por Pinto da Costa e Luís Filipe Vieira. Entretanto, surgiram cartazes clamando por Zé Mourinho ao poder, enquanto se anuncia a criação de um novo partido, dito Fundação Nacional para a Alegria na Política, que não será financiado pelo russo do Chelsea.

Jan 05

Novo Razoamento a Favor da Liberdade Lusitana

Antes de eu ser de esquerda ou de direita, já era da Pátria. A Pátria é a minha política (carta dirigida a Silva Carvalho, em Novembro de 1836).

 

Foi no dia 5 de Janeiro do ano de 1801 que nasceu Passos Manuel, formado em leis em 1822, responsável pela gazeta vintista O Amigo do Povo, de 1823 e advogado no Porto entre 1822 e 1828. Emigra em 1828, depois da revolta de 16 de Maio. Deputado em 1834-1836; 1836; 1837-1838; 1838-1840; 1843-1845; 1846; 1851-1852; 1853-1856; 1857-1858; 1858-1859. Senador em 1840-1842. Par do reino desde 17 de Maio de 1861, não chega a tomar posse.

 

 

 

Um dos chefes da oposição ao partido dos amigos de D. Pedro em 1834, quando era grão-mestre da chamada Maçonaria do Norte. Eleito deputado pelo Minho, logo critica as eleições, não as considerando livres, por estarem suspensas as garantias constitucionais, haver censura prévia e por terem sido realizadas sob o controlo, não de câmaras municipais eleitas, mas antes de comissões nomeadas pelo governo.

 

Em 1835, durante o governo da fusão, já se distancia dos radicais, como Francisco António de Campos, Leonel Tavares e Pinto Basto, considerados então como os irracionais. Lidera então uma espécie de terceiro partido que, a partir de 2 de Julho de 1836, edita O Português Constitucional, dirigido por Almeida Garrett, epicamente qualificado como partido da liberdade, contra o partido corruptor. Mas tal não obste a que procure entendimento com o ministro Rodrigo da Fonseca.

 

 

 

Nas eleições de 17 de Julho de 1836 consegue eleger 27 deputados pelo Douro, contra um governamental chamorro, numa altura em que governava o duque da Terceira. Assume-se como um dos líderes da Revolução de 9 de Setembro de 1836. Ministro do reino do governo do conde de Lumiares, de 10 de Setembro a 4 de Novembro de 1836, tenta a moderação contra os radicais. Fala então num regime de soberania nacional, com uma constituição dada pela nação e não pela Coroa e com a abolição da Câmara dos Pares.

 

Depois do golpe da Belenzada, faz parte do triunvirato revolucionário da nova situação, juntamente com Sá da Bandeira e Vieira de Castro. Institui-se então novo governo, presidido por Sá da Bandeira, de 5 de Novembro de 1836 a 1 de Junho de 1837, onde mantém a pasta do reino, acumulando com a da fazenda. É neste período que se assume como reformador, estando ligado ao novo código administrativo, de 31 de Dezembro de 1836, depois de terem sido suprimidos 466 concelhos, em 6 de Novembro. Organiza as eleições de 20 de Novembro e é um dos inspiradores da Constituição de 1838, negociada entre setembristas e cartistas moderados.

 

 

 

Nas eleições consegue fazer eleger uma esmagadora maioria de setembristas moderados, criando-se uma espécie de partido revolucionário institucionalizado, de liderança gradualista. Em 21 de Janeiro de 1837, em discurso feito em Cortes, considera querer cercar o trono de instituições republicanas. Pretende que o rei seja o primeiro magistrado da nação e invoca a liberdade contra a licença.

 

Em 1 de Junho de 1837, com o governo de Dias de Oliveira, abandona a sua actividade ministerial. Em Março de 1838 já critica a amnistia. Tendo em vista as eleições de 12 de Agosto e 12 de Setembro de 1838 inspira a Associação Eleitoral Pública, de setembristas moderados, contra a Associação Cívica, afecta aos radicais, e a Associação Eleitoral do Centro, juntando cartistas a ordeiros. Morre em 16 de Janeiro de 1862.

 

 

 

O defeito radical das nossas Constituições está na organização, e na base do sistema eleitoral.Todas elas conferem o direito de votar aos empregados assalariados pelo Tesouro. Este funesto artigo é a origem de todos os males. O funcionalismo está encarnado em todas as nossas Constituições…Nos outros países a palavra Parlamento significa a reunião dos Representantes da Nação; em Portugal não significa senão a reunião dos delegados do Executivo… O voto das contribuições deve pertencer a quem as paga e não a quem as recebe (Passos Manuel, em 18 de Outubro de 1844).