Jan 18

Prognósticos só no fim do jogo…

Um dos meus heterónimos, o cientista político, veio agora da SIC-Notícias, onde analisou a recta final desta campanha eleitoral, onde tentou dizer que pode acontecer que a sondajocracia não rime com democracia e que, depois da primeira volta, ainda haja uma espécie de liga dos campeões, numa altura em que os campanheiros disputam passeios com capitães de Abril, de Tomé a Beato, ou os cançonetistas animadores de comícios, da Isabel Silvestre ao Sérgio Godinho, incluindo os Rádio Macau e os tradicionais coros alentejanos, onde o “Grândola, vila morena” deixou de ter direitos de exclusivo.

 

O problema mais importante da política portuguesa não será resolvida com a eleição do novo inquilino de Belém, porque está em causa um sistema fechado que ameaça fazer explodir o regime. Com efeito, até agora vivemos em concerto que ainda não teve conserto, neste equilíbrio entre o bloco central de interesses, dirigido pelo poder banco-burocrático, com ex-ministros ao serviço de multinacionais, e o centrão social dos subsidiodependentes, deste Estado assistencial e pouco meritocrático, onde havia dois terços de beneficiários e que agora ameaçam transformar-se em dois terços de excluídos, como se prenuncia com o anúncio da falência da segurança social ou com o desemprego dos funcionários públicos, a que chamam reforma do Estado, para não falarmos de haver cada vez mais pobres, cada vez mais pobres, e cada vez menos ricos, cada vez menos ricos.

 

Todo o concerto assentava na barganha política de cerca de um milhão de eleitores que passava do PS para o PSD e vice-versa, o tal pêndulo que, nas últimas legislativas, puniu os filhos de Cavaco Silva, de Durão a Santana, com Portas anexado, e se entregou a Sócrates. O tal eleitorado centrão que nas sondagens têm dito que vota Cavaco, também reforçado com o apoio do eterno eanismo, o tal PRD residual que, agora, em vez de votar Zenha vai votar numa espécie de anti-Soares em figura humana.

 

Só que as favas podem não estar contadas e a teoria da pescada, que antes de o ser já o era, pode virar-se contra os feiticeiros e a segunda volta ainda é “faisible”, como costumava dizer esse animal politiqueiro que se chamava Mitterrand. Isto é, a esperança de Soares ainda reside na hipótese de Cavaco sofrer o drama de Freitas, quando cerca de 2% do chamado eleitorado de direita preferiu o “sempre fixe” ao actual ministro dos estrangeiros do socratismo.

 

Daí que Soares tente recuperar os afectos desse espaço de dissidentes da direita não contaminada pelo interesseirismo dos barões endinheirados e dos aparelhismos partidocráticos, recordando muitos que até teve um chefe da casa militar, todo monárquico ostentável. Também Alegre joga na chamada esquerda patriótica e nalguma metapolítica que pode ter alguns efeitos, nessa caça a nichos de mercado eleitoral que, grão a grão, pode levar a algumas revisões da metodologia das sondagens, onde a revolta contra o sistuacionismo governamental pode não ser consequente nas urnas das presidenciais. Finalmente, a resistência de Louçã, Jerónimo e Garcia na focie e martelo das vozes tribunícias pode ser mobilizadora. Portanto, prognósticos só no fim do jogo e que não seja o Diabo a escolher.

Jan 18

Não elevemos ao altar os heróis balzaquianos que apenas agitam verbalmente as quimeras em que queremos acreditar

No dia em que, no ano de 1689, nasceu Montesquieu, um dos tais fundadores da religião secular do Estado de Direito, e em que se comemora o começo da greve revolucionária da Marinha Grande, em 1934, onde a frustrada implantação do soviete local permitiu ao salazarismo liquidar o anarco-sindicalismo da CGT e dar ao PCP o monopólio da resistência operária, tentarei falar de outras coisas mais próximas do eu e das próprias circunstâncias que dele fazem “pensée” face a esse “mouvant”, invocando a minha religião cívica e saudando a ideia de resistência. Direi, em primeiro lugar, que têm sido significativas as manifestações de revolta ortodoxa com que nominativos militantes dos movimentos DPF (Deus, Pátria, Família) e TFP (Tradição, Família, Propriedade) me têm feito chegar, nomeadamente dos que confundem o MM (Movimento Monárquico) com a passada atracção salazarenta ou com a mais recente onda cavaca. Aceito as críticas, respeito-lhes a sensibilidade, não lhes subscrevo o credo, o beija-mão, a prancha, a procissão, o comício e a directiva.

 

Confesso que, além de tentar ser intelectualmente heterodoxo, sou um desses heréticos, da seita dos velhos-crentes, que escapou às fogueiras tanto da última como da primeira inquisição, incluindo a santa do ofício, dado manter a fidelidade estóica dos homens livres, que livres da finança e dos partidos, sempre foram fiéis às tais raízes greco-romanas a que o cristianismo costuma fazer apelo quando fala em homens de boa vontade. Por outras palavras, tanto não ando pelas derivas iluministas que geraram o agnosticismo, o progressismo, a utopia, a ideologia ou a revolução, como não frequento as feiras, ou alas, esotéricas que resistem à sexta-feira, dia treze, apesar de respeitar a memória templária, em nome de D. Dinis, e a Ordem de Cristo, em nome das caravelas do infante-grão-mestre.

 

 

 

Dizem, aliás, os especialistas em genealogia, que alguns genes de meus ancestrais padecem de pouca limpeza de sangue, porque, apesar da dominante moçárabe e cristã-velha em que se diluíram, eles derivam, como demonstra meu patronímico, de uma mestiçagem estrangeirada e ultra-mediterrânica de certo exotismo emigrante, já plenamente nacionalizado, tanto pela terra e pelos seus mortos, como pela comunidade de sonhos que a ideia alexandrina de império, com pluralidade de pertenças, tem permitido.

 

E é por esta geometria variável de afectos que continuo a subscrever o sonho daquele Portugal universal que nos levou ao tal abraço armilar que sempre foi reproduzir-nos em sucessivas pátrias de novos mundos a criar, diluindo-nos em todos os outros. Gostava de continuar a ser vagamundo do português à solta, sempre a varar as tormentas, com o objectivo de, global e planetariamente me circum-navegar, para descobrir que serei sempre um pedaço do transcendente situado.

 

 

 

E tudo medito ao raiar da aurora deste dia dezoito do mês primeiro do anos de dois mil e seis, na precisa data em que a minha escola comemora o seu centenário, magnificamente abrilhantado, logo, ao começo da tarde, com notáveis discursos de convidantes e convidados, com os quais me solidarizo.

 

E como as cerimónias contarão com a honrosa presença tanto dos altíssimos representantes da governação do Estado, como das não menos altas esferas da federação a que chamamos universidade, apenas recordo que nela nos integrámos apenas há pouco menos de meio século, até porque a dita só nasceu depois das partes que a integram, há três quartos de século. Logo, mais não tenho do que congratular-me com o vivório da missa laica institucional.

 

 

 

Mas porque todas as instituições continuam a ser mistérios e para poder continuar a ser fiel à perspectiva heterodoxa dos fundadores, que não são propriamente os subscritores do real decreto que instituiu a coisa, nem os pretensos criadores que, depois, a tentaram transformar em criatura, decidi, em nome da lealdade básica, não comparecer ao acto. Coisa que formalmente comuniquei a quem considerei que devia, como mero gesto simbólico de quem continua à espera que a instituição largue o lastro daquela razão de Estado que a fez escola de regime e reconheça os atentados à liberdade de cátedra e à militância dos homens livres que, em outras horas, de outros tempos, foi obrigada a cometer. Mais uma vez não quero ser homem de Corte. Prefiro continua a ter um só rosto e um só parecer.

 

Até porque também não participarei, pelas mesmas razões, no próximo cerimonial que elevará à dimensão da comendadoria, a atribuir pelo ritual do Estado de Direito, quem nunca respeitou a própria alma do Estado de Direito, coisa que considero sagrada na minha religião secular do civismo. Quero apenas dizer que não costumo vender a alma ao Diabo, mesmo quando este julga que o hábito e o penduricalho fazem o monge. Haverá cada vez menos tempo para elevarmos ao altar os heróis balzaquianos que apenas agitam verbalmente as quimeras em que queremos acreditar, através de verbais exercícios de salão e sedução, como ainda há dias li de alguém, a respeito de um lugar paralelo, ocupado em França pela memória de Mitterrand. E para terminar, aqui vai citação de almanaque, de outro nasceu neste mesmo dia, Alan Alexander Milne:”uma das vantagens de ser desarrumado é que se está sempre a fazer descobertas fantásticas…”

Jan 18

Herético, da seita dos velhos crentes

Confesso que, além de tentar ser intelectualmente heterodoxo, sou um desses heréticos, da seita dos velhos-crentes, que escapou às fogueiras tanto da última como da primeira Inquisição, incluindo a santa do ofício, dado manter a fidelidade estóica dos homens livres, que livres da finança e dos partidos, sempre foram fiéis às tais raízes greco-romanas a que o cristianismo costuma fazer apelo quando fala em homens de boa vontade. Por outras palavras, tanto não ando pelas derivas iluministas que geraram o agnosticismo, o progressismo, a utopia, a ideologia ou a revolução, como não frequento as feiras, ou alas, esotéricas que resistem à sexta-feira, dia treze, apesar de respeitar a memória templária, em nome de D. Dinis, e a Ordem de Cristo, em nome das caravelas do infante-grão-mestre. Dizem, aliás, os especialistas em genealogia, que alguns genes de meus ancestrais padecem de pouca limpeza de sangue, porque, apesar da dominante moçárabe e cristã-velha em que se diluíram, eles derivam, como demonstra meu patronímico, de uma mestiçagem estrangeirada e ultra-mediterrânica de certo exotismo emigrante, já plenamente nacionalizado, tanto pela terra e pelos seus mortos, como pela comunidade de sonhos que a ideia alexandrina de império, com pluralidade de pertenças, tem permitido. E é por esta geometria variável de afectos que continuo a subscrever o sonho daquele Portugal universal que nos levou ao tal abraço armilar que sempre foi reproduzir-nos em sucessivas pátrias de novos mundos a criar, diluindo-nos em todos os outros. Gostava de continuar a ser vagamundo do português à solta, sempre a varar as tormentas, com o objectivo de, global e planetariamente me circum-navegar, para descobrir que serei sempre um pedaço do transcendente situado. Até porque também não participarei, pelas mesmas razões, no próximo cerimonial que elevará à dimensão da comendadoria, a atribuir pelo ritual do Estado de Direito, quem nunca respeitou a própria alma do Estado de Direito, coisa que considero sagrada na minha religião secular do civismo. Quero apenas dizer que não costumo vender a alma ao Diabo, mesmo quando este julga que o hábito e o penduricalho fazem o monge. Haverá cada vez menos tempo para elevarmos ao altar os heróis balzaquianos que apenas agitam verbalmente as quimeras em que queremos acreditar, através de verbais exercícios de salão e sedução, como ainda há dias li de alguém, a respeito de um lugar paralelo, ocupado em França pela memória de Mitterrand. E para terminar, aqui vai citação de almanaque, de outro nasceu neste mesmo dia, Alan Alexander Milne:”uma das vantagens de ser desarrumado é que se está sempre a fazer descobertas fantásticas…”

Jan 18

Farpas

No dia em que nasceu Montesquieu e em que se comemora o começo da greve revolucionária da Marinha Grande, em 1934, onde a frustrada implantação do soviete local permitiu ao salazarismo liquidar o anarco-sindicalismo da CGT e dar ao PCP o monopólio da resistência operária, tentarei falar de outras coisas mais próximas do eu e das próprias circunstâncias que dele fazem “pensée” face a esse “mouvant”. Direi, em primeiro lugar, que têm sido significativas as manifestações de revolta ortodoxa com que nominativos militantes dos movimentos DPF (Deus, Pátria, Família) e TFP (Tradição, Família, Propriedade) me têm feito chegar, nomeadamente dos que confundem o MM (Movimento Monárquico) com a passada atracção salazarenta ou com a mais recente onda cavaca. Aceito as críticas, respeito-lhes a sensibilidade, não lhes subscrevo o credo, o beija-mão, a prancha, a procissão e a directiva.

 

Confesso que, além de tentar ser intelectualmente ortodoxo, sou um desses heréticos, da seita dos velhos-crentes, que escapou às fogueiras tanto da última como da primeira inquisição, incluindo a santa do ofício, dado manter a fidelidade estóica dos homens livres, que livres da finança e dos partidos, sempre foram fiéis às tais raízes greco-romanas a que o cristianismo costuma fazer apelo quando fala em homens de boa vontade. Por outras palavras, tanto não ando pelas derivas iluministas que geraram o agnosticismo, o progressismo, a utopia, a ideologia ou a revolução, como não frequento as feiras, ou alas, esotéricas que resistem à sexta-feira, dia treze, apesar de respeitar a memória templária, em nome de D. Dinis, e a Ordem de Cristo, em nome das caravelas do infante-grão-mestre.

 

Dizem, aliás, os especialistas em genealogia, que alguns genes de meus ancestrais padecem de pouca limpeza de sangue, porque, apesar da dominante moçárabe e cristã-velha em que se diluíram, eles derivam, como demonstra meu patronímico, de uma mestiçagem estrangeirada e ultra-mediterrânica de certo exotismo emigrante, já plenamente nacionalizado, tanto pela terra e pelos seus mortos, como pela comunidade de sonhos que a ideia alexandrina de império, com pluralidade de pertenças, tem permitido.

 

E é por esta geometria variável de afectos que continuo a subscrever o sonho daquele Portugal universal que nos levou ao tal abraço armilar que sempre foi reproduzir-nos em sucessivas pátrias de novos mundos a criar, diluindo-nos em todos os outros. Gostava de continuar a ser vagamundo do português à solta, sempre a varar as tormentas, com o objectivo de, global e planetariamente me circum-navegar, para descobrir que serei sempre um pedaço do transcendente situado.

 

E tudo medito ao raiar da aurora deste dia dezoito do mês primeiro do anos de dois mil e seis, na precisa data em que a minha escola comemora o seu centenário, magnificamente abrilhantado, logo, ao começo da tarde, com notáveis discursos de convidantes e convidados, com os quais me solidarizo. E como as cerimónias contarão com a honrosa presença tanto dos altíssimos representantes da governação do Estado, como das não menos altas esferas da federação a que chamamos universidade, apenas recordo que nela nos integrámos apenas há pouco menos de meio século, até porque a dita só nasceu depois das partes que a integram, há três quartos de século. Logo, mas não tenho do que congratular-me com o vivório da missa laica institucional.

 

Mas porque todas as instituições continuam a ser mistérios e para poder continuar a ser fiel à perspectiva heterodoxa dos fundadores, que não são propriamente os subscritores do real decreto que instituiu a coisa, nem os pretensos criadores que, depois, a tentaram transformar em criatura, decidi, em nome da lealdade básica, não comparecer ao acto. Coisa que formalmente comuniquei a quem considerei que devia, como mero gesto simbólico de quem continua à espera que a instituição largue o lastro daquela razão de Estado que a fez escola de regime e reconheça os atentados à liberdade de cátedra e à militância dos homens livres que, em outras horas, de outros tempos, foi obrigada a cometer. Mais uma vez não quero ser homem de Corte. Prefiro continua a ter um só rosto e um só parecer.

 

Até porque também não participarei, pelas mesmas razões, no próximo cerimonial que elevará à dimensão da comendadoria, a atribuir pelo ritual do Estado de Direito, a quem nunca respeitou a própria alma do Estado de Direito. E porque o considero sagrado, na minha religião secular do civismo, quero dizer que não costumo vender a alma ao Diabo, mesmo quando este julga que o hábito e o penduricalho fazem o monge. Haverá cada vez menos tempo para elevarmos ao altar os heróis balzaquianos que apenas agitam verbalmente as quimeras em que queremos acreditar, através de verbais exercícios de salão e sedução, como ainda há dias li de alguém, a respeito de um lugar paralelo, ocupado em França pela memória de Mitterrand.