Nov 07

Contra a dogmática das seitas e dos catecismos

Há dias em que no começo do dia, passando os olhos pelos jornais, sinto que não há nada para dizer. Passo pelos blogues, à cata de novidades de pensamento provocatório e reparo como continuam quase todos pendurados na dogmática das seitas e dos catecismos. Até um texto do paradoxal Fernando Pessoa recebe tiros de canhão verbal, fazendo jorrar, sobre o que de mais universal há no pensamento político português, o tal sebastianismo que já existia antes de D. Sebastião e que também podemos encontrar noutras culturas, com outros nomes, as habituais rendas de bilros da racionalidade finalística, como se fosse possível aceder-se à racionalidade axiológica sem os laicíssimos mistérios das religiões seculares que fazem a “polis”, a “respublica” ou a “comunidade”. Porque, quando as várias aldeias, cada uma nas suas sete colinas, se congregaram nessa comunidade das coisas que se amam, em torno da simbólica acrópole, a colina federadora assumiu tal missão porque nela estava tanto o Estado (o castelo, ou palácio do rei) como a Nação (o templo, aquele mistério pelo qual podemos dar a vida, porque só podemos dar a vida pelas coisas que amamos).

 

É por isso que as nações todas são mistérios. E tanto o eram no tempo em que a política era a ciência arquitectónica (quando se incluía a religião e o direito como suas servas), como quando a política passou a ser mera serva da teologia. Tudo se complicou na modernidade, depois do deicídio que nos mandou pensar a política mesmo que Deus não exista e que muitos confundem com o ateísmo ou o gnosticismo, coisa que costuma ser particularmente utilizada pelos adeptos da teocracia e do providencialismo, para as tradicionais e estúpidas contendas entre a política e a religião.

 

Esta é a questão. E nada tem a ver com programas de direita contra programas de esquerda, porque há subsolos filosóficos de esquerda que coincidem com os de direita, e vice-versa. Logo, quando cansa a ortodoxia da esquerda ou da direita não há nada de mais eficaz do que introduzir um pedacinho de terrorismo filosofante ou poético, para baralhar os catecismos e os credos. Obrigado, Fernando Pessoa. Aos meninos e aos borrachos, põe Deus a mão por baixo…

 

Eu também me insurgiria contra a primeira lei da Assembleia Nacional salazarista e contra o parecer camaral corporativo que a sustentou. Porque Carmona, Vicente Ferreira e José Alberto dos Reis tinham tido a mesma filiação que Joseph de Maistre. Prefiro o pluralismo da tradição conservadora e liberal que os britânicos e norte-americanos souberam manter.

Nov 07

É por isso que as nações todas são mistérios

Há dias em que no começo do dia, passando os olhos pelos jornais, sinto que não há nada para dizer. Passo pelos blogues, à cata de novidades de pensamento provocatório e reparo como continuam quase todos pendurados na dogmática das seitas e dos catecismos. Até um texto do paradoxal Fernando Pessoa recebe tiros de canhão verbal, fazendo jorrar, sobre o que de mais universal há no pensamento político português, o tal sebastianismo que já existia antes de D. Sebastião e que também podemos encontrar noutras culturas, com outros nomes, as habituais rendas de bilros da racionalidade finalística, como se fosse possível aceder-se à racionalidade axiológica sem os laicíssimos mistérios das religiões seculares que fazem a “polis”, a “respublica” ou a “comunidade”. Porque, quando as várias aldeias, cada uma nas suas sete colinas, se congregaram nessa comunidade das coisas que se amam, em torno da simbólica acrópole, a colina federadora assumiu tal missão porque nela estava tanto o Estado (o castelo, ou palácio do rei) como a Nação (o templo, aquele mistério pelo qual podemos dar a vida, porque só podemos dar a vida pelas coisas que amamos). É por isso que as nações todas são mistérios. E tanto o eram no tempo em que a política era a ciência arquitectónica (quando se incluía a religião e o direito como suas servas), como quando a política passou a ser mera serva da teologia. Tudo se complicou na modernidade, depois do deicídio que nos mandou pensar a política mesmo que Deus não exista e que muitos confundem com o ateísmo ou o gnosticismo, coisa que costuma ser particularmente utilizada pelos adeptos da teocracia e do providencialismo, para as tradicionais e estúpidas contendas entre a política e a religião. Esta é a questão. E nada tem a ver com programas de direita contra programas de esquerda, porque há subsolos filosóficos de esquerda que coincidem com os de direita, e vice-versa. Logo, quando cansa a ortodoxia da esquerda ou da direita não há nada de mais eficaz do que introduzir um pedacinho de terrorismo filosofante ou poético, para baralhar os catecismos e os credos. Obrigado, Fernando Pessoa. Aos meninos e aos borrachos, põe Deus a mão por baixo… Eu também me insurgiria contra a primeira lei da Assembleia Nacional salazarista e contra o parecer camaral corporativo que a sustentou. Porque Carmona, Vicente Ferreira e José Alberto dos Reis tinham tido a mesma filiação que Joseph de Maistre. Prefiro o pluralismo da tradição conservadora e liberal que os britânicos e norte-americanos souberam manter.