A ditadura da incompetência que nos ameaça…

Hoje há boas notícias: este péssimo regime democrático, apesar de ser o menos péssimo de todos quanto temos experimentado, está em 19º lugar no “ranking” universal da qualidade democrática. Manuel Alegre vai apresentar um livro sobre o senhor duque de Bragança, o Benfica e o Porto ganharam os jogos de ontem e o governo vai apresentar o relatório de avaliação da Associação Europeia para a Garantia de Qualidade no Ensino Superior (ENQA) sobre os nossos avaliadores universitários, onde se comprova o que alguns, poucos, tinham dito sobre a coisa, denunciando a “independência limitada”, a “ineficiência operacional e inconsistência” e a “falta de consequência das avaliações”. Por outras palavras, tudo depende da escolha dos avaliadores e, agora, da escolha dos avaliadores dos avaliadores.

 

Sobre a matéria, apenas digo que já escrevi todas as frases que tinha de escrever, embora, então, me sentisse quase a clamar no deserto e me tivessem interpretado erradamente, principalmente por alguns que preferiram ir para a barganha do toma lá, dá cá. Eu próprio assisti a como se escolhiam os avaliadores internacionais da minha área: um inglês que um antigo assistente do presidente conhecera nas suas férias de investigação turístico-científica na Albion, o amigo da amiga que foi colega da tia em Bruxelas, ou o antigo “inteligente” já aposentado, de outras partes do mundo, que tratava por tu o tio mandador, para não falar nos três criados de servir fora da área que o mesmo tio colocou para garantir obediência no relatório, ao mesmo tempo que excluía os representativos ou que metia cunha aos activos para indicarem outro sobrinho não indicado espontanemanete pelos pares, nessa engenharia de prestígio fabricado e citações mútuas, com consequentes noemações feudais de júris e colocação de professores, incluindo os jornalistas com eventual interferência na elaboração das memórias do coiso e da coisa, sem falarmos na própria influência no modelo de distribuição de subsídios à pretensa investigação científica, à boa maneira salazarenta.

 

Mais interessantes são as novas sobre um tubarão-frade com cerca de sete metros e 2,5 toneladas foi rebocado por quatro pescadores de Sesimbra. Ao que consta, o dito não come criancinhas, nem ao pequeno almoço. Também o ex-director-geral do Benfica José Veiga ameaçou hoje «revelar certas e determinadas coisas» relativamente à transferência de João Vieira Pinto caso o Sporting não diga a verdade «quanto aos mais de três milhões que desapareceram», enquanto seis ginásios da zona da Grande Lisboa receberam ontem de manhã ameaças de bomba em poucos minutos.

 

Julgo que não vale a pena instrumentalizarmos rivalidades clubísticas para questões de polícia. Estão em causa situações bem mais graves porque pode ser que, com tanto ruído, não se aplique o princípio da presunção da inocência até ao trânsito em julgado e que continue a pagar o justo pelo pecador. Com esta crise da administração da justiça e da universalidade do imposto, a democracia pode deixar o belo 19º lugar e começar a emergir uma onda de descrença que leve populistas ou autoritaristas a clamarem pela reconstrução do Estado, em nome do securitarismo ou do Estado de Juízes. Basta notarmos a desvergonha do grupo de pressão bancário, que continua a pôr em causa a autoridade do Estado, insinuando deficiências técnicas dos serviços públicos ou o próprio esquema do financiamento partidário.

 

Reparo até com os elogios sindicais ao director-geral dos impostos a quem pagamos mais do que o vencimento do próprio Presidente da República. Porque quando apenas atendemos a resultados quase estamos a dizer que vale a pena privatizarmos a recolha de impostos, à boa maneira dos publicanos e da pré-estadual venda dos cargos públicos. Qualquer dia, alguns neolibistas, esquecendo o racional-normativo da burocracia weberiana, proporão que o ministério das finanças passe para uma qualquer consultadoria da globalização financeira. E, se continuarmos nessa via, até poremos a concurso público internacional a própria governação, quando esta passar a ser mera pilotagem automática, ao serviço de regras alienígenas, independentes da cidadania.

 

Assim, não tardará que um qualquer Habsburgo, benzido pelo Vaticano e subsidiado por uma qualquer banca, WASP ou OD, se disponha a pôr-nos na ordem, à maneira de Filipe II. Resta saber se não estamos apenas a reconhecer que ameaçam muitos sinais de começarmos a viver em plena ditadura da incompetência.

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