Todo o transcendente tem que ser situado nas circunstâncias do tempo e do lugar, só acedemos às essências através das existências e até o direito da razão tem conteúdo variável. Depois, tive uma longa e pouco esclarecedora reunião com o meu patrão da função pública. Fui-lhe comunicar que, de tarde, iria constituir uma associação privada com fim público, federadora de liberdades académicas visando a defesa de uma ideia institucional de universidade, de pátria e de liberdade, de que darei novidades dentro de breves tempos. Não lhe fui pedir nada. Apenas recordo que a minha escola não nasceu de um decreto do poder estabelecido, mas da iniciativa de homens livres, os fundadores da Sociedade de Geografia de Lisboa, quando Portugal ainda era demoliberal a nível do poder político e cumpria objectivos nacionais, fazendo aliar o poder ao saber, pelo reconhecimento da autonomia das pessoas e da autonomia da sociedade civil. Aliás, quase todas as unidades integrantes da Universidade Técnica de Lisboa nasceram da livre iniciativa da sociedade civil e entraram no sistema do público ensino superior “a posteriori”, obrigando a própria Ditadura Nacional a reconhecer que a universidade como uma federação, ainda hoje estatutariamente consagrada. Nunca fomos coisa napoleónica, suceptível de fundação de um qualquer artigo do decreto orçamental, jacobinamente engenheiral. Como federalista que sou, mantenho assim a ideia antinapoleónica e antidecretina, mantendo a minha interpretação do que foram as sucessivas fundações de academias, desde a platónica àquilo que um antecessor meu praticou com a AICP, embora prefira fugir ao decretino, em nome da autonomia das pessoas e dos próprios grupos que elas constituem, a que alguns dão o nome de autonomia da sociedade civil , num momento em que importa praticar a liberdade de expressão de pensamento e a própria liberdade de investigação.
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