O país mais à esquerda da Europa vai continuando a discutir o sexo dos anjos…

Ainda ontem reparava que éramos o país-língua do universo que mais feriados tem dado que como tal são qualificados formalmente todos os nossos dias de trabalho, começando na “secunda feria” (segunda-feira) e a terminar na “sexta” (“feria” é a designação canónica de “festa” litúrgica, donde veio “feriado”. isto é, festividade… Só que já não vamos à missinha todos os dias…

Foi o papa Silvestre (314-335) que decretou o fim das designações pagãs dos dias da semana, coisa que nem em Castela se seguiu. Só cá, nesta praia ocidental, feita ilha de pedra, se cumpriu a boa intenção, não por razões religiosas, mas porque desde o século III, a crise do Império, precursora do feudalismo, tinha acabado com a integração europeia das trocas comerciais…

Compreende-se que seja a ala catolaica do PS que enfrente agora este grave problema canónico dos “feriados” e dos dias de “ferias”, ditos “feiras”, que são festa. Psicanaliticamente, é a outra face da moeda do casamento dos homossexuais e, em qualquer caso, mais uma discussão bizantinha, tipo sexo dos anjos….

Como sexo dos anjos é a proposta do PSD sobre o contrato de trabalho, por três anitos apenas, enquanto durar a crise, como esses provisórios que passam a definitivos e esses definitivos provisórios, para usar marcas de tabaquinho mata-ratos que existiam no tempo do fascismo…

Aliás, tal como no designação dos dias da semana, onde provamos que sempre fomos o orgulhosamente sós, é evidente que somos a esperança da Europa, onde hipocritamente somos os mais à esquerda, como 20% de comunistas e esquerdas revolucionárias e com uma alternativa dita de direita que ainda se diz social-democrata…

Tal como nas traduções em calão do quinto império, o nosso esoterismo de trazer por casa, antes de resolver o problema do endividamento parece que quer salvar primeiro a crise do capitalismo global, reformando o dito antes de responder às ameaças dos credores e dos cobradores do fraque…

A classe partidocrática, em vez de ser D. Quixote quebrando a lança diante dos moinhos de fantasmas de direita e preconceitos de esquerda, deveria assumir a postura de Sancho Pança e aventurar-se com pragmatismo, para não ter que meter as ideologias na gaveta diante da governança ou de uma cimeira europeia…

Basta comparar-nos com a prática do liberalismo de Obama, nesse capitalismo democrático com regras e respeito pelo social. Aqui, Obama estaria à direita do próprio CDS, mas, pelo menos, já tinha punido coisas como as do BPN e do BPP e até seria capaz de enfrentar multinacionais.

Aqui, onde até ninguém fica surpreendido quando se prova que as centrais sindicais recebem à percentagem com indemnizações pagas a trabalhadores, ainda andamos a discutir sexo dos anjos no caso da Casa Pia e quem brinca às escutas nem sequer pede que se reintegre o processo dos submarinos a deputados que certamente têm…

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